Não tive esse medo porque nunca duvidei da minha capacidade como artista. De ‘Malhação’ guardo a lição de que é necessário falar sobre afetividade negra, tema extremamente negligenciado na presença de Rafa.
Publicado em 07/04/2019 às 09:00:00
Atualmente no ar em "Verão 90", Ícaro Silva teve que lutar muito para fugir do racismo e conseguir emplacar na carreira de ator, que passou a deslanchar a partir de "Malhação", em 2004, quando viveu um dos personagens mais icônicos da novelinha, o Rafa. Foram quatro temporadas
Se uma atriz como Viola Davis reclamou publicamente, ao receber o primeiro Emmy entregue a uma mulher negra, afirmando que “não há como vencer o Emmy para um papel que não existe”, fazendo menção que atores negros não ganham papéis de grande relevância nos Estados Unidos, imagine Ícaro Silva.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Ícaro relembrou momentos da carreira, criticou publicamente a falta de oportunidade para artistas negros por conta do racismo institucional e também comentou como se deu a composição de seus personagens em 2019. É que além da novela “Verão 90” na Globo, ele também está em “Coisa Mais Linda”, da Netflix.
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O ator não deixou a oportunidade passar para lembrar que artistas negros sofrem no Brasil por falta de papéis relevantes. “Todos os artistas negros brasileiros estão nesse momento deixando de interpretar papéis em que poderiam estar brilhando. A desigualdade racial é uma realidade cotidiana do nosso país e não há diferença no setor audiovisual”, brada.
Não tive esse medo porque nunca duvidei da minha capacidade como artista. De ‘Malhação’ guardo a lição de que é necessário falar sobre afetividade negra, tema extremamente negligenciado na presença de Rafa.
Ícaro da Silvacontinua depois da publicidade
Ainda com o enfoque no racismo existente no país, ele apontou que há um enfrentamento na área do audiovisual. “A diferença está na quantidade cada vez maior - mas ainda injusta - de profissionais negros nas mais diversas áreas e na visibilidade que o tema enfim parece ganhar nos meios de mídia, também mérito dos profissionais negros que ascenderam a despeito do sistema racista”, diz.
Sobre o trabalho atual e a forma de compor dois personagens tão distintos, Ícaro Silva foi taxativo: “Com o tempo a gente aprende que cada processo é único e isso vai se tornando fundamental para a composição de um personagem. Tanto em ‘Coisa Mais Linda’ quanto em ‘Verão 90’ existe uma liberdade de criação autorizada pela direção, o que torna o caminho mais divertido e, logo, mais proveitoso”.
O ator lembrou ainda a importância de ficar atento e respeitar o universo criado para cada programa. “Em qualquer composição é importante ativar a ‘escuta’ pra entender que Universo é aquele. O roteiro, a plataforma, a equipe, a dramaturgia, a direção. Estar atento a tudo isso é a forma que descobri para compor personagens com o máximo de camadas possível”, ensina.
Mas se engana quem pensa que o processo criativo é idêntico. O próprio artista concorda que há diferenças gritantes entre o Capitão (“Coisa Mais Linda”) e Ticiano, o rei da lambada de “Verão 90”. “Ticiano tem uma espécie de 'realeza' natural, é solar, aéreo e muitas vezes soberbo, como um príncipe bufão. Capitão é um homem aterrado, de poucas palavras e muitos olhares, um homem que sabe escutar, mesmo atravessado pelo machismo. Em ambos procuro desenhar bem os afetos, uma vez que a afetividade do homem negro é tão pouco explorada em nossa dramaturgia/sociedade”, lista.
Ícaro mostrou desconforto ao falar sobre ter demorado tanto tempo para emplacar personagens relevantes. Ao ser questionado sobre ter ficado longe dos holofotes desde que interpretou o Rafa de “Malhação”, o ator foi direto: “Imagino que por ‘papéis de destaque’ você se refira a personagens com grande audiência na televisão. Porque os maiores destaques da minha carreira vem justamente depois de ‘Malhação’ e antes do ‘Show dos Famosos’”, citando trabalhos que ele considera de destaque: “Wilson Simonal em ‘Simbora, o Musical’, Jair Rodrigues em um musical, um filme e uma série sobre a vida de Elis Regina, Skunk em ‘Legalize Já’, filme sobre o início da banda Planet Hemp, além de outros personagens de menor ‘destaque’ mas igual importância”.
Mas Ícaro Silva também falou sobre a oportunidade de ter voltado ao radar do grande público após vencer a primeira edição de “Show dos Famosos” (2018), quadro do “Domingão do Faustão”. “O Show dos Famosos representa a oportunidade de levar tudo o que desenvolvi fora da televisão para um público gigantesco, mas o ‘up’ na minha carreira quem deu foram a faculdade de teatro, as muitas horas de aulas de canto, música, dança e a experiência adquirida em dezenas de palcos Brasil afora”, reforça.
Com boa auto-estima, o intérprete de Ticiano em “Verão 90” encerrou a entrevista afirmando que jamais teve medo de ficar estigmatizado como o eterno Rafa de “Malhação”: “Não tive esse medo porque nunca duvidei da minha capacidade como artista. De ‘Malhação’ guardo a lição de que é necessário falar sobre afetividade negra, tema extremamente negligenciado na presença de Rafa”.
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