Publicado em 13/07/2017 às 14:20:25
Esta terceira parte do especial “Emoção que se ouve” vai apresentar um veterano da produção musical televisiva. Presente na televisão desde os anos 80, Roger Henri deixou sua marca em produtos distintos. Seja nas novelas de Gilberto Braga, minisséries históricas como “Desejo” (1990), remakes históricos como “Mulheres de Areia” (1993), assessorando novos cantores no “Fama” (2005) e até na antiga vinheta do “Supercine”.
“A música incidental instrumental é boa quando ela não é ouvida e sim sentida no contexto da cena”, diz Roger.
Parte 1: Um pouco do mundo das trilhas instrumentais na TV
O processo de criação de músicas originais pra TV não mudou muito dos anos 80 pra hoje, na opinião dele: “O passo a passo é o mesmo: estudar a sinopse, onde são definidos personagens e suas evoluções na trama, assim como suas faixas etárias, onde se define o tipo de musica que combine com ele”.
Mas há um parêntese: “Uma mudança que ocorreu foi a instrumentação, pois começaram a surgir trilhas feitas em computador com teclados que reproduzem sons de Orquestra. Por um lado se ganhou em rapidez e modernidade da sonoridade, mas por outro se perdeu o resultado de uma gravação com músicos. Mas isso aconteceu no mundo todo e hoje há um retorno dessas gravações somadas às de instrumentos eletrônicos, onde se consegue obter um bom resultado sonoro clássico misturado com o moderno devido à qualidade dos eletrônicos atuais”, opina.
Segundo Roger, cerca de 70% das canções executadas numa novela são instrumentais. Por isso, “é preciso ter a sensibilidade (do instrumental) ser coadjuvante na cena, passando tanto o sentimento do texto como a sonoridade utilizada para que esta não apareça mais do que as palavras, mas preencha a cena valorizando a dramaturgia”.
Se o trabalho fica “coadjuvante”, é sinal de êxito. “É sinal de que a música funciona para o que se destina. Este espectador não ouviu (uma canção cantada, como as da trilha regular), mas estava aos prantos vendo a cena cujo incidental estava em perfeita harmonia com o texto (da novela)”, aponta.
Confira a entrevista completa:
NaTelinha - Você sente a repercussão do seu trabalho no dia a dia com o público?
Roger Henri - Sim. Mas não foi sempre assim. Hoje o público passou a ter mais informação sobre quem faz o que. Era muito comum em outros tempos você ouvir pessoas dizendo "puxa, eu assisti a uma cena da novela que tinha uma trilha tensa que parecia musica de filme! Vou procurar saber que disco foi esse que colocaram", sem saber que havia orquestra completa, maestro, compositor e o produtor musical dentro do estúdio gravando aquela trilha composta especialmente para aquela cena.
Hoje tenho seguidores comentando minhas trilhas, contando inclusive passagens de suas vidas que foram marcadas por elas.
NaTelinha - Você participou da produção de muitas obras do Gilberto Braga, como "Força de um Desejo" (1999), "Paraíso Tropical" (2007), "Insensato Coração" (2011) e "Babilônia" (2015). Como é a parceria com o autor?
Roger Henri - Há muita troca de ideias por ele (Gilberto Braga) ser um autor muito musical, pois já trabalhou para gravadoras fazendo este tipo de trabalho. Em suas obras não é diferente, pois ele já vem com sugestões ótimas que geralmente funcionam muito bem. Posso ressaltar também a liberdade de criação na trilha incidental.
NaTelinha - Seu último trabalho na TV foi em "Babilônia". Nela, se destacou o tema instrumental das vilanias de Beatriz (Glória Pires) e das vinhetas de intervalo. O intenso rock, que caiu no gosto do público, chegou a ser comparado e confundido com "Do I Wanna Know?" da banda Artic Monkeys. Como foi a criação do tema?
Roger Henri - Na verdade, a musica escolhida para o personagem da Glória foi a própria "Do I Wanna Know?", mas nem sempre conseguimos a liberação de uma música para compor a trilha. Foi o que aconteceu com essa canção.
Então o que fazemos às vezes nesses casos? Partimos para compor uma música que não seja plágio mas que tenha o mesmo apelo que a escolhida inicialmente. Isto é, a mesma sensação quando ouvimos,u ma instrumentação parecida que nos leve ao mesmo sentimento, mas sem ser aquela outra. Ás vezes não é muito fácil de conseguir este resultado, mas nesse acho que consegui.
NaTelinha - Você também criou temas de vinhetas, como a do "Supercine". Em 2016, o tema clássico foi trocado por uma releitura. O que você achou?
Roger Henri - Achei legal a versão nova porque não descaracterizou a melodia que compus para ser a marca do produto.
Diogo Cavalcante é formando em jornalismo. Amante de televisão e apaixonado por novelas, fala sobre o assunto desde 2013. É um dos maiores especialistas sobre Classificação Indicativa na internet.
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