Direto da Telinha

Um pouco do mundo das trilhas instrumentais na TV


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Reprodução

Você não conhece quem fez, geralmente apenas escuta como tema incidental, mas com certeza já se emocionou, riu, enervou ou até mesmo guarda na memória afetiva muitos deles: as músicas instrumentais que dão vida e apoiam cenas de obras de teledramaturgia. A “Emoção que se ouve”.

Aproveitando um ano de assinatura do “Direto da Telinha” por este que colunista, faremos um especial em quatro partes. A primeira, esta, com uma apresentação do tema. Na sequência, entrevistas com os músicos Eduardo Queiroz (A Cura, Cordel Encantado, Avenida Brasil, A Regra do Jogo, Os Dias Eram Assim), Roger Henri (Mulheres de Areia, Anjo Mau, Paraíso Tropical, Insensato Coração, Babilônia) e Daniel Figueiredo (Prova de Amor, Vidas em Jogo, Os Dez Mandamentos, A Terra Prometida, O Rico e o Lázaro).

Por trás do som

Para o leigo espectador, realmente se for questionado sobre nomes como Eduardo Queiroz, Alberto Rosenblit, Marcus Viana, Roger Henri, Mú Carvalho, Tim Rescala ou Daniel Figueiredo, não vão sequer sabem quem é. Mas quando a pergunta passa a ser de recordações de músicas de fundo, como os de angústia das novelas de Manoel Carlos, dos tangos das vilãs de João Emanuel Carneiro, das vilanias das “peças” de Gilberto Braga, das musiquinhas hilárias dos barracos e tortadas de Walcyr Carrasco, ou dos temas étnicos e épicos das tramas bíblicas da Record ou das histórias de Glória Perez e Benedito Ruy Barbosa... aí a coisa muda de figura.

Pois é. Por trás de uma trilha sonora “regular”, com músicas do momento, existe todo um trabalho de produtores musicais, que podem levar meses para criar um tema. Se antes o público não dava muita atenção, nos últimos anos nota-se uma maior procura por estes temas, provavelmente pelo advento da internet.

Os primeiros registros de trilhas especialmente compostas por músicas incidentais remetem aos anos 80. “Baila Comigo” (1981), novela das 20h da Globo, e “Cavalo Amarelo” (1980) e “Ninho da Serpente” (1982), da Band, ganharam LPs com algumas faixas que tocavam em suas cenas. Mas fora isso, era raro um instrumental ter espaço nos discos - às vezes, dava sorte e um ou dois temas serem incluídos na playlist, como aconteceu nas trilhas de “Tieta” (1989), “Vamp” (1991), “Força de Um Desejo” (1999) e tantas outras obras.

Primeiros passos

Um pouco do mundo das trilhas instrumentais na TVAlberto Rosenblit e Marcus Viana: alguns nomes importantes para a música instrumental das novelas - Reprodução/Facebook

Em 1990, aproveitando o fenômeno de “Pantanal” na Manchete, veio o primeiro grande momento para a música instrumental. Os temas compostos por Marcus Viana para a história de Benedito Ruy Barbosa foram quase todos disponibilizados ao público em LP, intitulado “Pantanal - Suíte Sinfônica”.

Ouça a trilha sonora de "Xica da Silva"

Novamente, em 1996, a trilha sonora de “Xica da Silva” era basicamente composta pelas músicas produzidas por Marcus Viana. Fica destaque para “Quenda”, tema da mocinha de Taís Araújo e “Escarlate”, da detestável Violante (Drica Moraes). Em 1999 e 2001, também saindo das mãos de Marcus Viana, os incidentais de “Terra Nostra” e “O Clone” ganharam as prateleiras das lojas. Mas até então, todos estes discos eram postos à venda mais por responsabilidade da gravadora do músico, a Sonhos e Sons, do que por vontade das TVs.

No ano de 2002, pela primeira vez era lançado um CD instrumental por iniciativa de emissora. Os temas incidentais de “Esperança”, problemática novela das 20h de Benedito Ruy Barbosa, foram disponibilizados ao público. As canções eram assinadas pelo maestro John Neschling e pelo pianista Ilan Rechtman.

Anos depois, em 2006, na reta final de “Belíssima”, os temas que embalavam a trama de Sílvio de Abreu também ganharam as lojas, com cerca de 30 músicas assinadas por Sérgio Saraceni. Ainda no mesmo ano, a temporada de “Malhação” ganhou um disco instrumental, atendendo a pedidos do público. Intitulado “Malhação Riffs”, s incidentais eram produzidos por Victor Pozas.

Popularização

De 2008 em diante, passou a ser mais comum o lançamento de trilhas instrumentais. Mas, quase sempre, a tiragem é mínima. A trilha instrumental de “A Favorita”, produzida por Alberto Rosenblit, sequer chegou às lojas - somente quem comprou via internet recebeu em casa o produto. Por esses motivos que estes discos viram artigo de luxo em sites de venda na internet, às vezes mais valorizados que as trilhas comuns.

Com o advento das plataformas digitais, as trilhas instrumentais deixaram de ser vendidas em formato físico e postas em ambientes como o Spotify e iTunes. De 2013 para cá, poucas foram as tramas que ganharam disco físico. Também, é importante notar que só a Globo e a Record aparentam se importar em disponibilizar os temas ao público. O SBT, até hoje, só teve uma trilha instrumental lançada: com a reprise de “Ana Raio e Zé Trovão” da Manchete, em 2010, os temas de Marcus Vianna foram lançados em disco, mas por iniciativa do músico.

Dentre as tramas recentes que ganharam trilhas instrumentais, pode-se destacar “Novo Mundo”, por Sacha Amback; “Os Dias Eram Assim”, por Victor Pozas e Eduardo Queiroz; “Rock Story”, por Rogério Vaz e Daniel Musy; “A Lei do Amor”, por Ricardo Leão, e “A Terra Prometida”, por Daniel Figueiredo.

Na segunda parte deste especial, você confere entrevista com Eduardo Queiroz, responsável pelos temas de novelas e séries como “A Cura”, “Cordel Encantado”, “Avenida Brasil”, “Amores Rouados” e “A Regra do Jogo”.


Diogo Cavalcante é formando em jornalismo. Amante de televisão e apaixonado por novelas, fala sobre o assunto desde 2013. É um dos maiores especialistas sobre Classificação Indicativa na internet

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