Publicado em 29/03/2020 às 11:25:55
Flávia Alessandra está aproveitando a oportunidade de fazer um trabalho diferente do que seu currículo costuma mostrar. Em Salve-se Quem Puder, a atriz que povoa a memória afetiva de parte do público devido a sua interpretação em Alma Gêmea (2005), tem a missão de defender Helena com novas características, o que nem sempre é fácil.
A personagem criada por Daniel Ortiz é uma mulher dura, empresária de sucesso e que dá ares até de ser muito mais pragmática que emocional. Embora mude o tom quando precisa defender o enteado Téo (Felipe Simas), Helena está quase sempre equilibrada e dona de si em basicamente todas as situações da novela.
Para defender este estilo, Flávia compôs um tom de voz próprio que não é rude e não chega a ser prepotente, mas é de quem sabe dar ordens, como se pedisse com educação, mas deixa claro ao ouvinte que é preciso obedecê-la se não quiser encarar as consequências. Esse tipo de interpretação tem relativo grau de complexidade porque pode transformar o personagem em distante do telespectador, que acaba não torcendo, o que não acontece neste caso porque a atriz empresta seu carisma e oferece humanidade ao olhar sempre diretamente com quem está conversando.
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Ao mesmo tempo, a empresária tem um segredo grave em seu passado e que foi revelado na última semana. A mãe biológica de Luna (Juliana Paiva) não abandonou a filha e o marido em Cancún, mas saiu fugida de lá ao pensar que os familiares estavam mortos. E a revelação deste história foi o que motivou os elogios à Flávia Alessandra.
Numa sequência dramática em que foi obrigada a dosar o choro para que o público pudesse compreender o que ela dizia, ao mesmo tempo em que deveria emocionar, Flávia brilhou, mostrando a dor de uma mãe que tem a certeza de ter deixado sua filha para a morte. Até o tom de voz foi modificado, embargando as palavras e com pausas respiratórias que serviam para localizar o telespectador sobre os momentos de crescente emocional.
Flávia Alessandra sempre foi uma atriz de interpretar pela voz e quase nunca pela expressão. É uma técnica e muita gente faz isso com maestria, como Fernanda Montenegro e até Meryl Streep, para citar duas. O ponto é que nem sempre ela acerta e consegue vender credibilidade, mas em Salve-se Quem Puder o acerto foi em cheio.
A dor de uma mãe que perdeu a filha foi estampado, muito mais na voz que na expressão, de Helena, na tentativa de convencer o público que as sensações não eram de um personagem, mas de uma pessoa real. Por causa disso, Flávia Alessandra é a atuação da semana.
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