Memória

Durou pouco: Censura e abaixo-assinado tiraram série machista com Antonio Fagundes do ar

Série que estreou pouco tempo depois do final da icônica Malu Mulher, Amizade Colorida enfrentou polêmicas com o público e sofreu com a ação implacável da Censura


Antonio Fagundes em Amizade Colorida
Antonio Fagundes em Amizade Colorida

Há exatamente 44 anos, no dia 29 de junho de 1981, a Globo exibia o último episódio de uma série que ficou marcada pelas polêmicas que enfrentou, além da ação da Censura.

Estamos falando de Amizade Colorida, estrelada por Antônio Fagundes, que havia estreado algumas semanas antes, em abril daquele ano.

Edu Homem

A produção entrou no ar poucos meses depois do término da série de sucesso Malu Mulher, protagonizada por Regina Duarte. Fagundes vivia Edu, um fotógrafo independente e machista em busca de relacionamentos sem compromisso. A série, inclusive, se chamaria originalmente Edu Homem.

"Alvo de críticas, o seriado chegou a ser considerado uma resposta machista às reivindicações femininas expressas em Malu Mulher", definiu o pesquisador Nilson Xavier em seu site Teledramaturgia.

No Jornal do Brasil de 26 de fevereiro de 1981, Cleusa Maria falou sobre as pretensões dos autores Armando Costa, Bráulio Pedroso, Domingos de Oliveira e Lenita Plonczynski: "Edu é, acima de tudo, um homem livre. Nem viúvo, nem casado, nem descasado. Sem valores estabelecidos, é uma pessoa à procura de estabilidade econômica e emocional. Indagador, torna-se, assim, na opinião de Bráulio Pedroso, um personagem aberto, bom para um seriado".

Assim como Malu Mulher, Amizade Colorida também tocou em temas delicados. Logo no primeiro episódio, exibido dia 20 de abril de 1981, Edu sofreu de impotência. No Jornal do Brasil de dois dias depois, Maria Helena Dutra classificou o episódio como engraçado.

“A estreia da série foi bem transada, com boas interpretações, direção segura e texto interessante. Cumpriu todas as promessas de seus responsáveis, nos anúncios anteriores, de que a história do Edu Homem não seria uma réplica de Malu Mulher e sim uma comédia sobre agruras masculinas”, destacou.

Triângulo amoroso impróprio

O quinto episódio, intitulado Gatinhas e Gatões, exibido no dia 25 de maio de 1981, gerou muita polêmica. Edu se envolveu com mãe e filha, interpretadas, respectivamente, por Tamara Taxman e Carla Camurati. A produção sofreu forte ação da Censura, sendo qualificado de baixo padrão moral.

Um grupo de mulheres do Alto de Santana, de São Paulo (SP), chegou a entregar um manifesto com 100 mil assinaturas ao então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, reclamando do triângulo amoroso, considerado impróprio.

Outro episódio teve tantos cortes da Censura que não pode ser exibido. Em Bagunça, Edu hospeda em casa uma de suas namoradas e assume todas as funções domésticas, instaurando o caos no apartamento. No horário no qual deveria ter sido exibido, foi lida uma nota informando que os advogados da emissora entraram com um recurso no Serviço de Censura Federal como sinal de repúdio aos vetos.

Fim da linha

Durou pouco: Censura e abaixo-assinado tiraram série machista com Antonio Fagundes do ar

Esses problemas fizeram o seriado, que deveria durar, pelo menos, um ano, ser abortado com apenas 11 episódio exibidos – vale lembrar que, naquela época, os programas da Globo tinham longa duração.

Em matéria do Jornal do Brasil de 22 de julho de 1995, Rose Esquenazi entrevistou o diretor Paulo Afonso Grisoli, que admitiu que o fim da atração, apenas três meses depois da estreia, foi provocado pela Censura.

"Daí para a frente, a série nunca mais pode ser viabilizada respeitando a proposta original. Entre arcar com altos custos de produção e ter os episódios mutilados, a Globo preferiu acabar com a série", explicou.

A mesma reportagem contou que Antônio Fagundes irritou-se profundamente com os acontecimentos. "No início, quando ainda estávamos discutindo a proposta do seriado, já haviam saído várias críticas metendo o pau. Acho que aconteceu um preconceito. Uma posição chata assumida pela imprensa", disparou.

Amizade Colorida foi substituída pela série Obrigado, Doutor, com Francisco Cuoco, e foi reprisada em 1995, dentro do festival que comemorou os 30 anos da emissora, ainda não estando disponível no Globoplay.

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