Memória

Campanha contra personagem mudou rumo de novela que terminava há 27 anos

No dia 23 de maio de 1998, há exatamente 27 anos, a Globo exibia o último capítulo de Por Amor; novela ficou marcada pela primeira campanha virtual contra uma personagem


Regina Duarte e Gabriela Duarte em Por Amor
Regina Duarte e Gabriela Duarte em Por Amor

Há exatamente 27 anos, no dia 23 de maio de 1998, a Globo exibia o último capítulo de uma novela que fez sucesso e ficou marcada pela primeira campanha contra uma personagem realizada na internet.

Estamos falando de Por Amor, de Manoel Carlos, que havia estreado em 13 de outubro do ano anterior e teve 191 capítulos.

Cancelamento

No final de 1997, nos primórdios da internet comercial no Brasil, muito antes do surgimento das redes sociais e de sites de petições, foi realizada a primeira campanha virtual contra uma personagem de uma novela.

Os internautas, revoltados com o comportamento mimado de Eduarda, vivida por Gabriela Duarte, criaram um site que possibilitava enviar mensagens para o autor.

A obra perguntava ao público o que uma pessoa seria capaz de fazer por amor. Na trama, Helena (Regina Duarte) e Eduarda engravidam ao mesmo tempo. No dia do parto, Eduarda perde o útero e seu filho morre, enquanto o bebê de Helena nasce saudável. Desesperada pelo momento trágico e pensando no fato da filha não poder engravidar novamente, Helena pede ao jovem médico César (Marcelo Serrado) para trocar as crianças, o que é feito.

Desde o início da história, Eduarda não conquistou o público. Ciumenta, mimada e frágil, vivia pegando no pé do noivo, Marcelo (Fábio Assunção), e rejeitava o pai, Orestes (Paulo José), que era alcoólatra.

O público logo se cansou e alguém teve a ideia de montar um site na internet, na extinta plataforma Geocities, que possibilitava criar sites simples de forma gratuita. "Eu Odeio a Eduarda" entrou no ar no final de 1997 e logo chamou a atenção da mídia, que começou a repercutir o fato. Num mundo ainda sem buscadores precisos como o Google, o acesso ao material só se dava com esse tipo de repercussão.

Tomates

Campanha contra personagem mudou rumo de novela que terminava há 27 anos

No site, era possível enviar uma mensagem para Manoel Carlos pedindo a morte da personagem. Também existia um arcaico jogo onde se podia jogar tomates no rosto de Eduarda. Tudo muito rudimentar, mas inédito.

A atriz falou sobre o site à Folha de S.Paulo de 12 de abril de 1998, quando a novela se aproximava do fim. "Nunca me senti pessoalmente atingida. Se a página chamasse Eu Odeio a Gabriela Duarte, ficaria chateada, mas não foi o caso. Eu tenho de dizer que isso tudo criou uma polêmica muito saudável em torno do meu trabalho", disse.

Ela também achava que se outra atriz tivesse feito a Eduarda, a personagem seria completamente diferente. "Talvez o público não a odiasse tanto naquele período. Mas sou eu que estou fazendo, e ninguém pode dizer que está errado. Ela é a minha Eduarda", ressaltou.

Em contraponto aos que odiavam a personagem, mas com menor repercussão, foi criado outro site, "Eu Adoro a Eduarda", para manifestar apoio à moça.

Mudança de planos

Tamanha repercussão fez Maneco mudar de ideia: na sinopse original da novela, Eduarda deveria morrer para que pudesse ser solucionado o polêmico caso da troca dos bebês. Mas, segundo o autor disse à mesma reportagem da Folha, dois fatores o fizeram escolher outro desfecho.

"A virada de Eduarda, mostrando que ela não é apenas uma menina mimada e arrogante, e a expectativa do público, que prefere ver a personagem feliz, de preferência nos braços de Marcelo, no final da trama", explicou a reportagem. "Sou um autor que ouve a voz das ruas, e as pessoas pedem para que Eduarda não morra", concluiu.

E ela não morreu mesmo, tendo um final feliz ao lado do amado.

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