Campanha contra personagem mudou rumo de novela que terminava há 27 anos
No dia 23 de maio de 1998, há exatamente 27 anos, a Globo exibia o último capítulo de Por Amor; novela ficou marcada pela primeira campanha virtual contra uma personagem

Publicado em 22/05/2025 às 11:18
Há exatamente 27 anos, no dia 23 de maio de 1998, a Globo exibia o último capítulo de uma novela que fez sucesso e ficou marcada pela primeira campanha contra uma personagem realizada na internet.
Estamos falando de Por Amor, de Manoel Carlos, que havia estreado em 13 de outubro do ano anterior e teve 191 capítulos.
Cancelamento
No final de 1997, nos primórdios da internet comercial no Brasil, muito antes do surgimento das redes sociais e de sites de petições, foi realizada a primeira campanha virtual contra uma personagem de uma novela.
Os internautas, revoltados com o comportamento mimado de Eduarda, vivida por Gabriela Duarte, criaram um site que possibilitava enviar mensagens para o autor.
A obra perguntava ao público o que uma pessoa seria capaz de fazer por amor. Na trama, Helena (Regina Duarte) e Eduarda engravidam ao mesmo tempo. No dia do parto, Eduarda perde o útero e seu filho morre, enquanto o bebê de Helena nasce saudável. Desesperada pelo momento trágico e pensando no fato da filha não poder engravidar novamente, Helena pede ao jovem médico César (Marcelo Serrado) para trocar as crianças, o que é feito.
Desde o início da história, Eduarda não conquistou o público. Ciumenta, mimada e frágil, vivia pegando no pé do noivo, Marcelo (Fábio Assunção), e rejeitava o pai, Orestes (Paulo José), que era alcoólatra.
O público logo se cansou e alguém teve a ideia de montar um site na internet, na extinta plataforma Geocities, que possibilitava criar sites simples de forma gratuita. "Eu Odeio a Eduarda" entrou no ar no final de 1997 e logo chamou a atenção da mídia, que começou a repercutir o fato. Num mundo ainda sem buscadores precisos como o Google, o acesso ao material só se dava com esse tipo de repercussão.
Tomates
No site, era possível enviar uma mensagem para Manoel Carlos pedindo a morte da personagem. Também existia um arcaico jogo onde se podia jogar tomates no rosto de Eduarda. Tudo muito rudimentar, mas inédito.
A atriz falou sobre o site à Folha de S.Paulo de 12 de abril de 1998, quando a novela se aproximava do fim. "Nunca me senti pessoalmente atingida. Se a página chamasse Eu Odeio a Gabriela Duarte, ficaria chateada, mas não foi o caso. Eu tenho de dizer que isso tudo criou uma polêmica muito saudável em torno do meu trabalho", disse.
Ela também achava que se outra atriz tivesse feito a Eduarda, a personagem seria completamente diferente. "Talvez o público não a odiasse tanto naquele período. Mas sou eu que estou fazendo, e ninguém pode dizer que está errado. Ela é a minha Eduarda", ressaltou.
Em contraponto aos que odiavam a personagem, mas com menor repercussão, foi criado outro site, "Eu Adoro a Eduarda", para manifestar apoio à moça.
Mudança de planos
Tamanha repercussão fez Maneco mudar de ideia: na sinopse original da novela, Eduarda deveria morrer para que pudesse ser solucionado o polêmico caso da troca dos bebês. Mas, segundo o autor disse à mesma reportagem da Folha, dois fatores o fizeram escolher outro desfecho.
"A virada de Eduarda, mostrando que ela não é apenas uma menina mimada e arrogante, e a expectativa do público, que prefere ver a personagem feliz, de preferência nos braços de Marcelo, no final da trama", explicou a reportagem. "Sou um autor que ouve a voz das ruas, e as pessoas pedem para que Eduarda não morra", concluiu.
E ela não morreu mesmo, tendo um final feliz ao lado do amado.