Nova tendência

Como o SBT "empurrou" Cid Moreira para fora do Jornal Nacional nos anos 90

A Globo já não queria mais locutores à frente dos seus noticiários


Cid Moreira no JN
Cid Moreira deixou a bancada do JN em 1996 - Foto: Divulgação/TV Globo
Por Thiago Forato

Publicado em 04/10/2024 às 05:27,
atualizado em 04/10/2024 às 09:41

Cid Moreira faleceu aos 97 anos de idade nessa quinta-feira (3) e deixou marcas. O jornalista que entrou para o Guiness Book, o Livro dos Recordes, em 1994 como o apresentador há mais tempo na frente de um telejornal [desde 1969], saiu de cena dois anos depois em uma tendência que a Globo acreditava ser mundial: O fim dos locutores à frente dos noticiários para a chegada dos jornalistas.

Nos anos 1990, era o que vinha acontecendo no SBT com a figura do âncora que teve Boris Casoy como pioneiro no TJ Brasil (1988-1997) e Lilian Wite Fibian, esta que a Globo tirou do canal de Silvio Santos.

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Por 26 anos ininterruptos, o "boa noite" foi de Cid Moreira, quando deixou a bancada em março de 1996. Depois disso, ele assumiu a locução dos editorais da Globo, cargo para o qual foi designado dentro da reformulação dos programas jornalísticos, que a partir dali seriam comandados por jornalistas e não mais locutores.

Numa entrevista concedida ao O Globo no mês de sua saída, Cid disse que gostou da "promoção". "Achei uma maravilha. Já trabalhei muito na minha vida e chegou mesmo a hora de descansar um pouco. No comando do Jornal Nacional, trabalhava aos sábados de 15 em 15 dias e estou felicíssimo por me livrar disso. Ser locutor oficial dos editoriais da Rede Globo não é uma coisa que se ofereça para qualquer um", contou.

Cid Moreira tratou tudo como um caminho natural

Como o SBT \"empurrou\" Cid Moreira para fora do Jornal Nacional nos anos 90

Questionado se jornalistas transmitiam maior credibilidade ao apresentar um telejornal, respondeu: "Acho que esse é o caminho natural. A escolha da Lilian Witte Fibe e do William Bonner não poderia ter sido melhor. Faço votos que eles consigam ficar tanto tempo à frente do jornal de maior audiência da TV quanto eu. A gente tem que ter consciência de que o tempo passa e chega a hora em que é preciso dar lugar aos mais novos. Para mim, estes anos foram suficientes. Já estou no Guiness, então, tudo bem".

Além de Lilian Wite Fibe, que foi contratada do SBT, a Globo também promoveu William Bonner, que está no ar até hoje.

Saída de Cid Moreira gerou orgulho no SBT

Apostando no pioneirismo do âncora, o SBT não escondeu que se orgulhou em ter mexido na estrutura da Globo, como admitiu o então diretor-executivo de jornalismo do SBT, Albino Castro. "Para nós, que introduzimos a figura do âncora no SBT há oito anos debaixo de muitas críticas, é motivo de orgulho o fato da Globo ter se convencido finalmente de que os telejornais precisam ser apresentados por jornalistas e não por locutores", disse à Folha de S. Paulo na época.

O ex-diretor de jornalismo do SBT, Marcos Wilson, também concordou com a mudança. "A Globo está seguindo um caminho que começamos a trilhar no SBT há algum tempo. É o melhor caminho para o telejornalismo brasileiro. Pelo que sinto, o próximo passo da Globo será tirar os âncoras da caverna do estúdio, colocando-os no rua quando houver um acontecimento de grande repercussão", acrescentou. De fato, virou realidade: Bonner esteve nas ruas do Rio Grande do Sul no último outono em virtude das enchentes.

A morte de Cid Moreira

Lenda do telejornalismo brasileiro, Cid Moreira faleceu em virtude uma pneumonia aos 97 anos. O jornalista e locutor fez história ao ancorar o Jornal Nacional durante 26 anos. Cid nasceu em Taubaté, interior São Paulo, no dia 27 de setembro de 1927 - ou seja, havia completado 97 anos na última sexta.

Em 2010, sua história foi contada na biografia Boa Noite - Cid Moreira, a Grande Voz da Comunicação do Brasil”, escrita por sua esposa, Fátima Sampaio Moreira.

Cid Moreira teve três filhos, Rodrigo, Roger e Jaciara, esta última falecida em 2020. Nos últimos anos, o apresentador chegou a lidar com polêmicas familiares. Seus dois filhos entraram na Justiça para pedir a interdição do pai e a prisão da madrasta, Fátima, alegando que ela estava se aproveitando da senilidade do pai para se apoderar dos seus bens. O casal sempre negou qualquer problema.

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