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Diretora que pediu demissão da Jovem Pan diz: "Falta vida nos corredores da empresa"

Responsável pelas Relações Instituições, Elaine Keller deixou a emissora na segunda-feira (16)


Jovem Pan
Elaine Keller deixou a Jovem Pan na última segunda-feira (16) - Foto: Divulgação/Montagem NaTelinha

Fora da Jovem Pan, onde exercia os cargos de diretora de Relações Institucionais e apresentadora, Elaine Keller pediu demissão na última segunda-feira (16) por não concordar com algumas decisões da cúpula da emissora envolvendo episódios recentes.

Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, a jornalista abriu o jogo sobre o que a motivou a deixar a empresa, onde estava desde março, analisou a linha editorial da JP e explicou a gafe envolvendo o cantor Gusttavo Lima, quando uma notícia satírica do site de humor Sensacionalista virou objeto de debate no canal de notícias.

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Elaine Keller explicou a relação da Jovem Pan com o Governo Lula - muitas pessoas criticam o viés bolsonarista do canal. "O fato do editorial da Jovem Pan ser mais alinhado à direita conservadora não impede de manter um diálogo com o governo federal. O governo nunca se negou a dialogar com o veículo. A Jovem Pan é a maior rede de rádios do país e tem mais de 80 anos de tradição. Portanto, não precisa entrar nessa polarização que domina o cenário político brasileiro", comentou.

"A questão é que 90% da programação da rede news é produzida ao vivo. Isso demanda uma gestão firme e permanente sobre convidados, suas manifestações e trabalho do jornalismo. Qualquer falha custa caro para a imagem da empresa. Quando a empresa conseguir ter clareza sobre essa questão, não haverá concorrência a sua altura!", afirmou.

A respeito da saída, ela é sincera. "A decisão foi minha e não foi repentina (risos). Foram vários fatores que me conduziram a essa decisão. O episódio ocorrido no Linha de Frente, na última sexta-feira [sobre o cantor Gusttavo Lima], não foi o primeiro de algumas falhas ocorridas sempre no mesmo programa. Mas tiveram outros fatores que entrei em discordância com a direção", disse.

"Há alguns meses, ficou acordado que o programa Pânico voltaria para o entretenimento. Chegamos a divulgar que, depois dessa mudança, a audiência da atração dobrou no Kantar/Ibope. Mas, infelizmente, o Pânico voltou para a pauta política, culminando com a entrevista do deputado Nikolas Ferreira, nessa última segunda-feira (16). Se não bastasse convidar o polêmico deputado, que já se pronunciou nas suas redes contra a JP e o meu trabalho, a legenda no Instagram que divulgava a entrevista atacava indiretamente um candidato de oposição à prefeitura de São Paulo. Quando chamei a atenção da direção para esse fato gravoso, ouvi que eles não conversam com a produção do programa há 3 meses! Fizeram a alteração do texto depois de muito estresse. O que não deveria ser assim", revelou Elaine.

"A Jovem Pan tem 83 anos de tradição em comunicação. Transmitir telejornalismo 24 horas por dia vem do trabalho realizado na rádio AM do grupo. Não é novidade para eles! Acho apenas que perderam um pouco a arte de fazer jornalismo, tão apreciada e ensinada pelo fundador, Sr. Tuta. Hoje, não tem no grupo uma área de jornalistas investigativos, correspondentes internacionais, pesquisas de opinião pública, reuniões de pauta. Não tem um jornalismo pulsante!", criticou Keller.

Elaine Keller analisa conteúdo da Jovem Pan

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Elaine Keller aproveitou para falar sobre o Pânico, o carro-chefe do canal, que nos últimos anos trocou as pautas de entretenimento, uma de suas grandes referências, para se transformar em um programa de política, a exemplo dos demais produtos da grade.

"Sobre o Pânico, acho um erro ter inserido pautas políticas num programa de humor inteligente e com uma sagacidade ímpar. É um programa que vai ao ar na hora do almoço, momento de descontração e breve descanso das pessoas que assistem a atração", analisou a jornalista.

Questionada sobre as punições aplicadas pela Justiça contra a Jovem Pan, em razão de fake news nas eleições, Elaine defendeu o viés conservador da emissora. "A Jovem Pan não foi punida por produzir Fake News. O processo segue em andamento. Não sei exatamente sobre o teor porque não conduzia a área jurídica do grupo. A emissora tem um viés de direita conservadora inegável. Mas não há problema nisso desde que mantida uma boa governança sobre o conteúdo, convidados e pauta, para que não haja desgaste ou problemas à imagem da Jovem Pan", disse.

"O problema não está no viés de direita conservadora, mas sim em ter sua programação realizada ao vivo carecendo de planejamento e gestão dos convidados, pautas, fontes e cortes das matérias feitos na Internet. Jornalismo é uma arte! Aprendi com a própria Jovem Pan. Requer talento e desejo de entregar o seu melhor!", completou.

Por fim, Elaine Keller falou sobre o afastamento de Tutinha do comando da Jovem Pan. "O Tutinha deveria voltar ao posto de presidente do Grupo Jovem Pan, porque ele é um gênio na arte da comunicação", elogiou. "Eu torço por isso! É um gênio que precisa entrar em campo novamente!", afirmou. "É um grupo muito consolidado, mas sem o Tutinha na liderança, falta vida nos corredores da empresa", avaliou.

"Esperava ter mais espaço para ajudar a fazer algumas mudanças que considero necessárias. Exemplo, ter mais mulheres no comando dos programas. Construir mais projetos do campo social, como a participação da Jovem Pan no Teleton, que foi uma iniciativa que tive a partir do ano passado e que espero que eles mantenham esse ano", concluiu Elaine.

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