Atores de História de Amor reclamaram por espaço de atrizes na novela: "Deixados de lado"
Homens à sombra das mulheres renderam polêmica na época da trama, entre 1995 e 1996
Publicado em 25/06/2025 às 06:48,
atualizado em 25/06/2025 às 10:38
Os atores de História de Amor reclamaram na imprensa, na época da exibição original, o mesmo espaço dado às atrizes da novela. Exibida entre 1995 e 1996, a trama de Manoel Carlos, conhecido por dar destaque ao universo feminino, está novamente no ar em Edição Especial, na Globo.
Entre dezembro de 1995 e janeiro de 1996, duas reportagens do jornal O Globo, assinadas pela repórter Elena Corrêa, davam conta do assunto. A primeira delas trouxe uma entrevista com Marcelo Saback, que interpretou Renato, personagem que “sumiu” em meados da história.
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O ator contou ter entrado na produção “animadíssimo”, mas deixou de gravar de repente, sem qualquer aviso prévio. “Desconfiei que faria apenas uma participação porque o Renato não tinha passado, nem futuro. Só achei estranho ele sumir de repente”, disse o intérprete. O autor se explicou à reportagem:
“É comum alguns personagens serem aquecidos ou desaquecidos numa novela. Não sei ainda o que vai acontecer.”
Manoel Carlos em dezembro de 1995
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No começo da trama, Renato era o ex-namorado de Paula (Carolina Ferraz), que jamais se conformou em perdê-la para Carlos (José Mayer) e era usado para fazer ciúmes no médico. Depois da reclamação, o personagem voltou à cena para se envolver com Mariana (Monique Curi), com quem se casa no final.
Semanas depois, outra matéria destacou que as matriarcas Zuleika (Eva Wilma), Rafaela (Marly Bueno) e Silvana (Beatriz Lyra) eram quem dava as ordens em suas famílias, em detrimento de Rômulo (Cláudio Corrêa e Castro), Mauro (Umberto Magnani) e Furtado (Sérgio Viotti), respectivamente.
Cláudio Corrêa e Castro comentou que seu único protagonista na Globo foi como pai da protagonista na minissérie Engraçadinha (1995). “Não estou reclamando da novela, mas acho que todo ator quer fazer um bom papel e nessa história os homens foram deixados de lado”, lamentou o veterano.
Hugo Gross, que interpretou Leonardo, também vivia à sombra da mulher na trama, Mariana. “A novela é um sucesso, e eu queria fazer parte desse sucesso. Não tenho a audácia de querer ser protagonista, mas sim de mostrar um bom trabalho”, disse ele na época.
Já Fernando Wellington, que interpretou o motorista Mendonça, namorado de Neusa, papel de Mônica Carvalho, perguntou ao autor o porquê dos papéis masculinos não se destacarem na trama. “Recebeu a resposta de que a novela é feita para mulheres”, segundo a reportagem.
“A mulher é a matriz real de tudo”, disse o autor Manoel Carlos
Anos depois, em entrevista ao livro Autores: Histórias da Teledramaturgia, lançado em 2008 pelo projeto Memória Globo, Manoel Carlos falou sobre a presença do universo feminino em suas histórias. Nas novelas do veterano, as mulheres são frequentemente mais fortes que os homens.
“O universo feminino está sempre presente em meu trabalho porque sempre achei, e continuo achando, como muitas pessoas, que a mulher move o mundo. Tudo está concentrado na mulher, não só pelo fato de ela ser geradora da vida, mas por ser mais forte e mais sofrida. E injustiçada. A mulher luta com mais dificuldade na vida e no trabalho, o que a torna mais real e mais viva. Essa luta faz com que elas sejam uma fortaleza.”
Manoel Carlos
Ele explicou que foi criado por uma família com mais mulheres do que homens. “Sempre tive mais amigas do que amigos. Normalmente, eu me relaciono melhor com a mulher de um amigo do que com ele mesmo. Então, tenho mais facilidade para lidar com esse universo, mas é também por admiração.”
Também pontuou que as mulheres são as personagens principais de autores como Flaubert, Proust e Balzac. “Considero realmente, sem nenhuma bajulação, que a mulher é a matriz real de tudo. Onde está a mulher, a meu ver, estão duas coisas que parecem contraditórias, mas não são: a paixão e o equilíbrio.”
“É mais fácil, para mim, escrever sobre mulheres porque elas dizem o que sentem. O homem não confessa que foi traído, por exemplo. Uma mulher reúne todas as amigas e conta que o marido tem uma amante, e todas choram juntas. Então, acho que as mulheres têm mais assunto, são muito empreendedoras, boas administradoras. São mais eficientes em tudo. Eu gosto mais de falar do universo feminino. Acredito que tudo nasce a partir desse universo.”
Manoel Carlos
Além de História de Amor, Maneco, como é conhecido no meio artístico, escreveu outras novelas de grande sucesso, incluindo: Baila Comigo (1981), Felicidade (1991), Por Amor (1997), Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003), Páginas da Vida (2006) e Viver a Vida (2009). A última foi Em Família (2014). Aos 92 anos, ele vive recluso e cuida da saúde.
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Exibida na Globo às 18h, entre 1995 e 1996, História de Amor foi escrita por Manoel Carlos e teve direção artística de Paulo Ubiratan, com direção de Ricardo Waddington, Roberto Naar e Alexandre Avancini. A reprise na faixa Edição Especial vai ao ar à tarde, depois do Jornal Hoje.
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