Fogo sobre Terra

Globoplay disponibiliza 6 capítulos de novela com Regina Duarte detonada pela ditadura

Autora da trama, Janete Clair teve que rasgar roteiros por conta dos cortes da Censura Federal


Regina Duarte em Fogo sobre Terra
Regina Duarte como Bárbara, moça instável da cidade grande que se envolve com homem rústico em Fogo sobre Terra - Foto: Divulgação/Globo

Novela de 1974, Fogo sobre Terra foi disponibilizada pelo Globoplay aos assinantes na segunda-feira (27). A trama de Janete Clair (1925-1983) chega ao streaming pelo projeto Fragmentos, voltado para produções da Globo que, por um motivo ou outro, não foram integralmente preservadas no acervo da emissora.

De Fogo sobre Terra, que teve originalmente 209 capítulos, restaram apenas seis: o primeiro, o segundo, os de números 104 e 105 e ainda o penúltimo e o último, agora disponíveis no Globoplay.

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A produção é lembrada como uma das mais censuradas do período da ditadura militar no Brasil. No livro Janete Clair: A Usineira de Sonhos, o biógrafo Artur Xexéo (1951-2021) classifica a trama como “incompreendida” e “prejudicada pelos cortes” da Censura Federal.

No centro da história, está o conflito entre os irmãos Diogo (Jardel Filho, 1928-1983) e Pedro Azulão (Juca de Oliveira), criados um distante do outro. O primeiro está à frente da construção de uma barragem que fará águas do rio Jurapori inundar a pacata Divineia, cidade em que nasceram e que sumirá do mapa.

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Pedro, que é um líder local, se opõe ao empreendimento. A rivalidade entre eles é acirrada na disputa por Chica Martins (Dina Sfat, 1938-1989), namorada que Diogo rouba do irmão. Este, por sua vez, se envolve com Bárbara (Regina Duarte), jovem instável e vinda da cidade grande.

“Sem a paixão que recheava qualquer discussão política ou cultural daquela época, a novela podia ser vista como uma crítica às obras do Brasil Grande com que o governo fazia seu marketing. A Censura entendeu e cortou o que pôde da novela. A crítica foi mais ingênua e só soube ver seu romantismo aparentemente fora de época.”

Artur Xexéo no livro Janete Clair: A Usineira de Sonhos

"De uma só vez, eu tive que rasgar 12 capítulos", contou a autora Janete Clair

Fogo sobre Terra
Jardel Filho e Dina Sfat em Fogo sobre Terra - Foto: Divulgação/Globo

Na época, Janete Clair se defendeu das críticas pela condução da trama, que, de tantos cortes, se tornou incompreensível para o público. “É preciso dizer que não tem sido fácil escrever Fogo sobre Terra. Por vezes, o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que enlouqueci.”

“Dói a gente ser às vezes chamada de incoerente, quando a incoerência se deve a fatores estranhos. Em Fogo sobre Terra, de uma só vez, eu tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas saíram da minha máquina e não chegaram ao vídeo. Poucos sabem disso. E esses poucos não falam.”

Janete Clair, em entrevista na época

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No desfecho, segundo o site Teledramaturgia, Pedro é vencido pelo progresso e decide ser tragado pelas águas, em protesto. Bárbara surge e consegue tirá-lo de lá ao anunciar que está grávida. Tia dele e mãe dela, Nara (Neuza Amaral) permanece no local e morre na enxurrada que invade Divineia.

O elenco teve ainda Fúlvio Stefanini, Sônia Braga, Marcos Paulo (1951-2012), Jaime Barcelos (1930-1980), entre outros atores. A direção era de Walter Avancini (1935-2001), com supervisão de Daniel Filho.

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