Cibele de "Órfãos da Terra", Guilhermina Libanio fala sobre a novela: "Orgulho"
Em entrevista ao NaTelinha, a atriz refletiu sobre a importância de seus personagens
Publicado em 27/04/2019 às 14:19
Guilhermina Libanio tem apenas 21 anos e já está em sua segunda novela da Rede Globo. Iniciou a carreira em Malhação - Vidas Brasileiras" como a estudante Úrsula e agora integra o elenco de "Órfãos da Terra".
Na trama das 18h, a atriz vive Cibele, uma ativista engajada em defender os pobres e em especial o público feminino. Tem embates quase que diários com sua prima, vivida por Anajú Dorigon.
Guilhermina conversou com o NaTelinha e falou sobre sua carreira, seus personagens, sua vida pessoal e seus sonhos.
Acompanhe a entrevista completa:
NaTelinha - Você iniciou sua carreira em "Malhação". Como foi ser escalada para viver a Úrsula?
Guilhermina Libanio - Sim, malhação foi o meu primeiro trabalho profissional. Eu não esperava ser escalada pra viver a Úrsula. Era o meu primeiro teste na Globo e eu já estava super feliz de participar porque foram vários dias de teste, nós vínhamos pra ter "aulas". Mas aí eu fui conhecendo mais a personagem, passando pelas fases do teste e fui entendendo a importância dela, percebi que a Úrsula falava sobre tudo o que eu precisava gritar naquele momento. Quando eu recebi a ligação dizendo que eu tinha passado no teste eu só conseguia chorar e agradecer. Acho que nem eu sabia o quanto eu queria fazer parte desse trabalho.
NaTelinha - Qual foi o seu maior desafio para viver a estudante?
Guilhermina Libanio - O maior desafio de viver a Úrsula pra mim foi voltar a ter 15/16 anos. É difícil resgatar uma coisa tão próxima que eu tinha acabado de deixar, a adolescência. A gente acaba lembrando de todos os medos e inseguranças, parece tão distante, mas está tudo dentro da gente! Até as coisas que a gente não viveu estão.
NaTelinha - Na trama, você abordou um tema bem importante: a gordofobia. Como foi vivenciar isso?
Guilhermina Libanio - É duro, eu não sofri bullying como a Úrsula mas já sofri ataques gordofóbicos, a gente vive em uma sociedade gordofobica. Ao mesmo tempo eu sempre soube da importância de falar sobre isso, de como era significante ter uma menina gorda na tv. O quanto isso representa para as pessoas que são gordas como eu e o tanto de gente que eu poderia ajudar. Como eu disse, era um grito que eu precisava dar. A Úrsula também foi uma libertação pra mim. Eu aprendi a me aceitar e me amar ainda mais porque eu acabei passando por tudo isso de novo, só que agora dentro de um personagem. Ver a Úrsula se empoderando também me deu força.
NaTelinha - A temporada já chegou ao fim, mas você teve que sair antes, para compor sua personagem. Como foi se despedir da trama antes?
Guilhermina Libanio - Dá saudade, mas foi bom. A Úrsula fez parte de um ciclo importante da minha vida, da minha carreira. O final que escreveram pra minha personagem foi incrível, é bonito ver que ela tava realizando os sonhos dela, como eu. Eu não esperava ter que sair antes do final da novela pra fazer uma outra personagem, ainda mais uma personagem como a Cibele. Agradeço muito a Natália Grimberg e a Patricia Moretzsohn por terem me deixado fazer essa passagem pra esse novo trabalho. Por terem comprado essa comigo!
Guilhermina Libanio, na pele da adolescente Úrsula, em "Malhação - Vidas Brasileiras"
NaTelinha - Ao olhar pra trás, para a Úrsula, suas expectativas foram atendidas em seu primeiro papel?
Guilhermina Libanio - A Úrsula superou qualquer expectativa. Ela era muito mais significativa do que eu imaginava, eu não tinha noção do quanto é importante as pessoas se sentirem representadas. Além disso ela era uma personagem completa, cheia de dores e delícias. De alegria, força e doçura. Era uma delicia fazer porque eu sabia que ela era uma pessoa muito possível, você pode encontrar uma menina como a Úrsula na fila da padaria, sabe?
NaTelinha - Agora, você integra o elenco de "Órfãos da Terra", trama das 18h. Foi uma mudança muito brusca? Como foi esse convite? Precisou fazer algum laboratório?
Guilhermina Libanio - Foi uma mudança brusca porque eu emendei uma novela na outra. Sai de uma personagem de 16 anos, insegura, se construindo para uma mulher como a Cibele. Esclarecida, cheia de força, ativista, militante pelas causas que ela acredita. São registros muito diferentes e fazer essa mudança não foi fácil. Agradeço muito a Ana Kfouri que me ajudou a encontrar onde essa mulher existe dentro de mim! Fui convidada pra fazer o teste gravando Malhação. Tava no intervalo das cenas e recebi a ligação, quando cheguei lá a Bruna Bueno, produtora de elenco, me disse que a Telma Guedes e a Duca Rachid tinham me visto em Malhação e acharam que eu tinha a ver com a personagem. Eu fiquei honradíssima porque eu já amava o trabalho delas. Eu não fiz laboratório, eu li e assisti bastante sobre feminismo é sobre movimentos estudantis, mas não era algo tão distante, pois já eram assuntos que me interessavam.
NaTelinha - A novela começou a pouco tempo, mas o que você já pode nos adiantar sobre a Cibele?
Guilhermina Libanio - A Cibele pode ser tudo, menos uma pessoa conformada e quieta. Então você pode ter certeza que a vida dela não vai ser nada calma. Ela não aceita injustiça, não abaixa a cabeça, quer abraçar o mundo. Ninguém passa por cima dela. Ela vai desenvolver um trabalho ajudando um menino em situação de refúgio que chega bem traumatizado no instituto.
NaTelinha - Já no início, percebemos que Cibele é ativista, defende a causa da mulher. Você também?
Guilhermina Libanio - Sou. Não no nível Cibele, ela é ativista mesmo, linha de frente. Eu faço a minha parte, vou a manifestações que representam o que eu acredito, converso com as pessoas, vou desconstruindo meus próprios preconceitos. Eu acho que não tem como ser mulher e não ser feminista. A gente só quer igualdade. Um mundo justo pra todo mundo e pra isso a gente precisa se mover, se unir. O presente é feminino.
NaTelinha - A novela trata de um tema muito importante, a guerra na Síria e sua personagem está no núcleo de uma família de lá. Como é vivenciar isso na arte?
Guilhermina Libanio - Arte é política. Acho importantíssimo o tema que a novela aborda. Trazer visibilidade pra essas pessoas que estão em situação de refúgio é fundamental se pensarmos em tudo que está acontecendo com o mundo agora. As pessoas perdem tudo o que tem por guerras, perseguições, desastres naturais e isso acaba sendo naturalizado. Além de perder tudo, ter que sair de sua casa, seu país essas pessoas ainda tem que enfrentar o preconceito. Isso precisa ser falado e mostrado. E as autoras, a direção, toda a equipe e elenco estão fazendo isso de forma extraordinariamente bonita! Eu só consigo sentir orgulho de fazer parte de um trabalho como esse.
Guilhermina vive Cibele, ativista em "Órfãos da Terra". A jovem é neta de Paulo Betti
NaTelinha - O que a Úrsula e a Cibele te ensinam/ensinaram? O que uma poderia ensinar para a outra?
Guilhermina Libanio - As duas me ensinaram muito. Úrsula me ensinou ainda mais sobre amor próprio e a Cibele acho que veio pra me dar coragem. Coragem de bancar minhas ideias, de acreditar na minha força, de mudar as coisas com minhas próprias mãos e de me arriscar mais. Em algum lugar eu acho que a Cibele é uma versão mais madura e forte da Úrsula, acho que elas seriam amigas. Os personagens sempre ensinam a gente é uma descoberta interna.
NaTelinha - Você já sofreu com a gordofobia? Se sim, o que tem a dizer para quem sofre, ou sofreu?
Guilhermina Libanio - Já sofri gordofobia, mas eu sempre acho que o preconceito pertence a quem sente. É óbvio que socialmente o preconceito pode prejudicar muito as pessoas. Não ter roupas do seu tamanho, não caber no acento do ônibus, ser descriminado por não estar no padrão é sim uma agressão. Mas tudo de ruim que você sente por mim pertence a você, entende? O que a gente pode fazer é fortalecer quem tá envolta, mudar nossos valores, acreditar no outro, em si mesmo. A gente tem que começar do zero. Criar crianças que se amem, se desvencilhar dessa mania de se comparar com o outro, de querer ser o outro. A gente tem que aprender a ver beleza em ser o que a gente é. A valorizar mais o que a gente tem por dentro. Pode ser que eu só esteja no meio de um devaneio louco mas é isso que eu acredito. Quando a gente começa a se amar nada abala a nossa força mas isso exige um trabalho árduo e diário.
NaTelinha - Você chegou a estudar Artes Cênicas, ou seja, atuar era seu sonho. Por que essa profissão?
Guilhermina Libanio - Porque eu não me via fazendo nenhuma outra coisa. Eu faço aulas de teatro desde os 11 anos e não tinha certeza se seria atriz, mas eu queria trabalhar com isso. Sendo diretora, produtora, escritora. Eu parei de fugir de artes cênicas quando eu assisti a peça Nômades, no teatro poeira. Eu não tinha nenhuma certeza, mas eu queria provocar nas pessoas a emoção que eu senti assistindo aquele espetáculo.
NaTelinha - Você ainda tem 21 anos. Como você pretende estar aos 30?
Guilhermina Libanio - Quero estar trabalhando com o que eu gosto, cercada de gente que eu amo. Espero ter uma casinha pra chamar de minha. Quero ver um Brasil melhor, com menos desigualdade, com mais apoio à cultura, fora do mapa da fome. Um país onde as mulheres não morram só por serem mulheres. Eu quero ser melhor como pessoa e viver num lugar melhor também. Aos 30 eu espero sentir orgulho da pessoa que me tornei e espero também estar cheia de gás pra continuar bancando minhas ideias, fazendo o que eu acredito.