"A guerra segue", diz Silvio Cerceau após ser creditado em "O Sétimo Guardião"
Escritor conta detalhes de imbróglio com Aguinaldo Silva e diz que entrará com petição contra a Globo
Publicado em 16/11/2018 às 07:30
Enfrentando a Globo e Aguinaldo Silva, o escritor Silvio Cerceau travou nos últimos meses uma longa batalha pelo reconhecimento da sua participação na criação da sinopse de "O Sétimo Guardião". Algo que acabou ocorrendo durante a veiculação do encerramento da novela, que estreou na última segunda-feira (12).
Em conversa exclusiva com o NaTelinha, Cerceau disse que ver seu nome atrelado oficialmente à novela "foi o começo de uma vitória", porém, ainda não está satisfeito da forma que a Globo redigiu a ficha técnica: "Sinopse desenvolvida pelo autor Aguinaldo Silva com a colaboração dos alunos da Master Class". "O correto seria 'novela escrita a partir da sinopse criada pelo roteiristas da Master Class 3' e a seguir o nome de cada um", explicou ele.
"Inclusive iremos entrar com uma petição arrolando a Globo no processo, uma petição para correção da ficha técnica, e se preciso for, entrarei com outra liminar para o cumprimento dos meus pedidos e preservação do meu direito patrimonial. A guerra segue", avisa Silvio Cerceau, que possui 14 romances publicados e é sócio de uma editora em Belo Horizonte.
Para o futuro, Cerceau já prepara sua primeira sinopse de uma novela em voo solo, "Escolhi Você". Além disso, trabalha numa série sobre prostituição masculina encomendada por uma produtora.
Confira a entrevista completa:
Ficou satisfeito da forma como foi inserido os créditos em "O Sétimo Guardião" pela Globo?
Silvio Cerceau - Foi o começo de uma vitória. A ficha técnica continua errada, pois não fui colaborador da sinopse. Eu e os 25 roteiristas somos autores da sinopse. Toda a trama foi criada por nós. Todos os personagens foram criados por nós. O correto seria "novela escrita a partir da sinopse criada pelo roteiristas da Master Class 3" e a seguir o nome de cada um. Meu sentimento foi de o início da justiça sendo feita.
E essa briga acabou?
Silvio Cerceau - Infelizmente não. Aguinaldo Silva, por má fé, abriu no dia 13 de novembro, um dia após a estreia da novela, um novo processo contra mim por danos morais. Alegando e pedindo que eu apague das redes sociais as postagens que afirmo que sou coautor da sinopse. Como ele faz isso sendo que a própria Rede Globo reconheceu minha coautoria e dos outros 25? Aguinaldo Silva está equivocado. Sempre afirmei que a sinopse foi criada por mim e os outros 25, mas que a novela será escrita por ele. A impressão que tenho é ele está atirando pra todo lado, está no desespero, e só quer causar uma tumulto judicial. Ele não respeita sequer a Justiça.
Pois bem, meu advogado estará tomando todas as providências contra ele. Inclusive iremos entrar com uma petição arrolando a Globo no processo, uma petição para correção da ficha técnica e se preciso for entrarei com outra liminar para o cumprimento dos meus pedidos e preservação do meu direito patrimonial. A guerra segue. Uma guerra iniciada por ele para ocultar suas inverdades. Para se apossar indevidamente dos direitos alheios. Para massacrar o sonho de quem confiou nele.
Qual a lição que você tirou de tudo que aconteceu nos últimos meses em torno da busca de direitos autorais?
Silvio Cerceau - Vale a pena seguir em frente e lutar quando estamos dizendo a verdade. A verdade é única e sempre prevalecerá.
Estou surpreendido com a baixa audiência. Creio que seja um problema de direção.
Silvio Cerceau sobre O Sétimo Guardião
O que você achou do primeiro capítulo de "O Sétimo Guardião"? Foi o mesmo que vocês escreveram? O que mudou?
Silvio Cerceau - Sim, o capítulo foi o mesmo. Só mudou a ordem.
Os primeiros capítulos exibidos atingiram uma baixa audiência para os padrões da Globo. Qual é sua leitura disso?
Silvio Cerceau - Estou surpreendido com a baixa audiência. Creio que seja um problema de direção. Houve um exagero no primeiro capítulo, o tipo de imagem, algumas situações que davam a impressão que estávamos assistindo a um filme de terror. Se tivessem mantido a ordem do capítulo que escrevemos o resultado seria mais suave e agradável, afinal é uma novela e não uma série ou filme. A sinopse é ótima, tão ótima que a Globo fez questão dessa produção. O problema é o desenvolvimento dos capítulos que é uma responsabilidade de Aguinaldo Silva e seus colaboradores. Se não derem conta, é lamentável.
Com o reconhecimento autoral em "O Sétimo Guardião", o que você pretende a partir de agora?
Silvio Cerceau - Minha vida não muda. Vou me dedicar a novos projetos, tenho vários. A sinopse da minha novela, "Escolhi Você", será entregue nas emissoras. É uma história bem família, um tema ainda não abordado em novelas. Estreia no próximo ano uma peça de teatro com meu texto, "Sem Classe Nunca", uma comédia bem interessante. Estou fazendo a última leitura de dois romances que lanço também no próximo ano, "A Juíza" e "Doce Castigo", e irei trabalhar no projeto de uma série, já encomendada por uma produtora, sobre a prostituição masculina. Por enquanto é só isso.
Em algum momento você teve medo de enfrentar a Globo e Aguinaldo Silva na Justiça?
Silvio Cerceau - Não tive medo e nem receio algum, pois o tempo todo eu sempre falei a verdade. Aguinaldo Silva não apresentou uma prova sequer no processo de que foi ele quem criou a sinopse. Ele usa apenas o currículo. Já que se afirma autor da sinopse, apresente as provas. Ele só sabe atacar e jogar indiretas ridículas pelas redes sociais. Nem parece um senhor de 75 anos. Fico indignado com tantas inverdades e imaturidade.
Quando você percebeu que seus direitos autorais da sinopse e o primeiro capítulo de "O Sétimo Guardião" estavam sendo ameaçados?
Silvio Cerceau - Quando foram enviados termos que nada tinham a ver com a novela. Termos que feriam a lei de direitos autorais em vários artigos.
Você tentou conversar com Aguinaldo Silva sobre isso? O que ele respondeu?
Silvio Cerceau - Tentei sim. Ele apenas me desejou boa sorte.
Ele chegou a propor algum acordo com você?
Silvio Cerceau - Não. Nunca houve da parte dele qualquer intenção de resolver a situação. Sempre foi omisso e quis fazer da mentira que criou uma verdade.
Como era seu relacionamento com Aguinaldo Silva antes da divergência em torno do coautoria de "O Sétimo Guardião"?
Silvio Cerceau - Durante o curso, eu fui o aluno que ficou mais próximo a ele, conversamos muito. Porém, foi somente isso.
Qual é sua opinião sobre a carreira de Aguinaldo Silva como escritor de telenovelas?
Silvio Cerceau - Ainda o admiro como profissional, é inegável que ele é um dos maiores autores de novela brasileira. Principalmente para desenvolver ideias, ele é impecável. Exemplo: "Tieta", da obra Jorge Amado; "Roque Santeiro", que a sinopse é de Dias Gomes; "Porto dos Milagres" e "Fera Ferida", que são baseados em obras de grandes escritores brasileiros.
Você teve retorno de algum ator escalado em "O Sétimo Guardião" sobre toda essa polêmica?
Silvio Cerceau - Tive sim. E de alguém muito importante na novela, porém para não comprometer essa pessoa, prefiro não revelar esse retorno.
Você afirma que a sinopse "O Sétimo Guardião" foi vendida para Globo por um valor milionário. O outro lado se defende dizendo que foi cedida gratuitamente. Qual sua análise de tudo isso?
Silvio Cerceau - A sinopse foi vendida sim para a Globo, isso é prática de mercado. É claro que eu tenho informações seguras sobre isso. Falei com profissionais do mesmo nível e sei como funciona; quando tem sua sinopse aprovada o autor recebe uma "luva". Essa luva é o pagamento pela sinopse. É uma questão lógica. Dizer que teve uma sinopse aprovada para novela das 21h e não recebeu nada é menosprezar a inteligência do ouvinte.
A novela das 21h é o produto mais rentável da emissora. Cada segundo de publicidade custa uma fortuna. Cada 30 segundos em rede nacional esbarra em um milhão de reais. O próprio autor se vangloria em dizer que a emissora espera lucros de mais de 2 bilhões de reais, e querem que acreditemos que a sinopse foi entregue por generosidade. Essa inverdade além da má impressão, levanta também uma indagação: quem recebeu a tal luva? Como e onde foi paga? Na conta do Leon? Ou haverá outro gatuno lucrando com trabalho alheio?
Quando você decidiu seguir a carreira de escritor?
Silvio Cerceau - Desde a infância eu sabia o que queria profissionalmente. Quando me perguntavam eu queria ser, eu dizia escritor. E foi o que aconteceu. Eu assisto novelas, principalmente das 8 que agora é das 9, desde os seis, sete anos de idade. Eu reescrevia essas novelas nas sobras de cadernos. Mais tarde escrevi meu primeiro livro, com 17 anos, mas o lancei alguns anos depois. Hoje tenho 14 livros publicados.