Academia aposta na diversidade e, assim, consegue marcar a 90ª edição do "Oscar"
Opinião: Noite foi mais do que memorável
Publicado em 05/03/2018 às 19:10
Que seria uma noite memorável ninguém duvidava. Entretanto, a 90ª edição do "Oscar" acabou ultrapassando os muros de Donald Trump consagrando artistas latinos e levantando a bandeira da diversidade neste domingo (4).
“Menos muros, mais irmandade para todos”, disse Guillermo Del Toro ao receber a estatueta de Melhor Diretor por seu trabalho em “A Forma da Água”. O cineasta foi o quarto diretor mexicano a vencer o prêmio nos últimos cinco anos. Seu filme conta a história de um “amor impossível” entre uma zeladora muda e uma criatura aquática. A trama garantiu seu favoritismo, faturando quatro dos 13 prêmios aos quais foi indicado. Inclusive, o de Melhor Filme.
Curiosamente, desta vez a Academia não deu o prêmio máximo para o longa que levou o "Oscar" de Melhor Roteiro, feito que ficou com “Corra!”. O filme de terror foi baseado no clássico “Adivinhe Quem Vem Para o Jantar” (1976), sendo apontado como um dos melhores do gênero lançados no ano passado.
Um dos prêmios mais disputados, a estatueta de Melhor Ator finalmente saiu para Gary Oldman, o primeiro da sua carreira, por seu trabalho e caracterização como Winston Churchill em “O Destino de Uma Nação”. Em seu discurso, o ator inglês relembrou com carinho os anos em que morou nos Estados Unidos e vibrou por estar levando para casa o troféu tão desejado. Mais um recado para Trump, quem sabe.
Protagonista de “Trama Fantasma”, Daniel Day Lewis anunciou sua aposentadoria, mas talvez seja melhor repensar um pouco mais. O ator perdeu o prêmio para Gary Oldman. Já seu filme, faturou apenas um dos seis prêmios a que concorria. O de Melhor Figurino.
Já um dos azarões da noite foi “Blade Runner 2049”, que conseguiu vencer dois Oscars mesmo não sendo um dos filmes mais cotados. A sequência do clássico de Ridley Scott levou os prêmios de Melhor Efeitos Visuais e o de Melhor Fotografia, este último consagrando a carreira de Roger Deakins após 14 indicações em sua carreira.
Com 21 indicações ao "Oscar" de Melhor Atriz, batendo seu próprio recorde, e três estatuetas na carreira, Meryl Streep estava deslumbrante. Na cerimônia deste ano, e na qual concorreu por seu desempenho em “The Post - A Guerra Secreta”, a veterana perdeu para Frances McDormand. Em um discurso emocionante, a grande favorita pelo trabalho em “Três Anúncios Para Um Crime” não conteve sua alegria e pediu que todas as indicadas ao prêmio se levantassem para ouvir seu recado.
“Se eu puder ter a honra de ter todas as mulheres indicadas em todas as categorias aqui em pé comigo nesta sala esta noite", pediu a atriz. "Meryl, se você fizer, todas as demais farão”, brincou, falando com sua colega e concorrente na categoria.
“Todas nós temos histórias para contar e projetos para financiar. Não falem conosco sobre isso nas festas esta noite. Nos convidem para seus escritórios daqui uns dias. Ou podem ir aos nossos. O que for melhor. E contaremos tudo sobre eles. Tenho três palavras para deixar com vocês esta noite, senhoras e senhores: cláusula de inclusão”, finalizou, ressaltando a questão da diversidade de raça e de gênero. Olha aí, Sr. Presidente!
E teve brasileiro no "Oscar"
Concorrendo mais uma vez ao "Oscar" de Melhor Filme de Animação por seu trabalho em “Touro Ferdinando”, Carlos Saldanha perdeu a estatueta para “Coco – Viva, a Vida é uma Festa”. O filme, uma produção da Pixar em parceria com os estúdios Disney, fala sobre a “Noite de Los Muertos”, maior celebração da cultura mexicana. A obra derrubou muros faturando, também, o prêmio de Melhor Canção Original. Ops!
Mas o Brasil não foi completamente esquecido pela Academia. O longa vencedor da categoria Melhor Roteiro Adaptado foi “Me Chame Pelo Seu Nome”, de James Ivory, que contou com a produção do brasileiro Rodrigo Teixeira.
Faye Dunaway e Warren Beatty, a grande surpresa da noite
Em uma noite previsível, com homenagens aos grandes astros que nos deixaram como Jerry Lewis e Roger Moore, com lembranças das cenas mais marcantes do cinema nesses 90 anos de "Oscar", e atores que ajudaram a fazer da festa um marco na história de Hollywood, não seria ingênuo afirmar que, talvez, a grande surpresa da noite tenha ficado para o final.
Eu não estou falando sobre a premiação de “A Forma da Água”, um filme poético e sublime, como a melhor produção do ano, mas do retorno de “Bonnie e Clyde”, quer dizer de Faye Dunaway e Warren Beatty aos palcos do teatro um ano após a gafe cometida na entrega do prêmio principal.
Eles se redimiram? Sim, se é que você acredita mesmo na culpa dos dois veteranos atores. A Academia se redimiu? Talvez, mas eu ainda aposto na temática de que ela está apenas “seguindo o baile”. Alternando entre o tradicionalismo e o novo, abafando casos ou jogando a poeira para debaixo do tapete, se é que você me entende.