Pais de Larissa Manoela são tóxicos? Psicanalista rejeita conclusões precipitadas
Especialista avalia relação familiar e questiona exposição do caso no Fantástico
Publicado em 14/08/2023 às 15:00,
atualizado em 14/08/2023 às 15:23
A relação conturbada entre Larissa Manoela e os pais, Gilberto Elias Santos e Silvana Taques, se tornou o assunto mais comentado da semana após a entrevista da artista veiculada pelo Fantástico no domingo (14). As análises e os julgamentos nas redes sociais foram implacáveis com os genitores da famosa, mas, para o psicanalista Ulisses Zamboni, tais conclusões podem ser precipitadas, como ele avalia em entrevista ao NaTelinha.
Segundo o especialista, ninguém pode afirmar que um relacionamento é tóxico com apenas uma única evidência. “Além disso, um fato como este envolve dinheiro e gestão de carreira. É muito cedo para uma conclusão de abuso moral”, aponta ele, que traz alguns questionamentos:
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“Na Psicanálise, analisamos as motivações dos indivíduos para tomarem suas atitudes. Fica a pergunta: qual a motivação da Larissa Manoela em descortinar publicamente no Fantástico o caso? Será que para ter apenas uma solução de ordem burocrática empresarial? Será que está claro para ela as consequências emocionais desta atitude?”
Ulisses Zamboni
Ele acrescenta: “Claro que existem pais tóxicos, assim como existem filhos tóxicos com os pais. Mas vamos definir o que é tóxico? Imagine se ela não fez isso apenas para posar de vítima? Quem estaria sendo tóxica com eles seria ela. Por isso, não dá para afirmar.”
Psicanalista não descarta excesso de zelo
Também não é possível dizer se houve excesso de cuidado nas atitudes dos pais, que geriram a carreira e as economias da filha desde a infância. Tal possibilidade não é descartada pelo profissional. “Uma premissa básica da família constituída de pai, mãe e filho é a de proteção da prole”, ressalta Zamboni.
“Nenhuma relação parenteral emocionalmente equilibrada deseja explicitamente a derrota do filho. Portanto, precisamos analisar se os pais gozam de um aceitável equilíbrio psíquico e emocional para responder essa pergunta [sobre possível excesso de zelo], mas tudo indica que pode ser sim”, destaca.
O psicanalista aponta que o papel de pai e mãe na vida de qualquer um é fundamental. “Quando somado às questões de sobrevivência e de produtividade do indivíduo, o impacto é imenso, já que ela pode confundir os papéis de pai e da mãe de forma multifacetada.”
“Mãe que é chefe, por exemplo, ocupa uma outra posição mental do que apenas uma mãe protetora. Só aí, vemos dois papéis quase que conflitantes no mesmo indivíduo. O pai que é gestor de finanças, também, ou vice-versa.”
Ulisses Zamboni
Ele ainda defende: “É necessário muita maturidade para separá-los, especialmente dos pais em reconhecer a posição que querem ocupar no imaginário da filha. Tanto que são muitos os pais de famosos que preferem se afastar dessas posições por serem muito conflitantes”.
Dificuldade da relação pode estar no sucesso demasiado
Mutos internautas já deram um veredito sobre o caso: os pais de Larissa Manoela seriam narcisistas. Sobre o termo, Zamboni explica: “Em linhas gerais, os filhos são projeções narcísicas dos pais. Freud divaga sobre o tema observando que os pais expressam seu amor sobre os filhos como uma forma de reviver e satisfazer seus próprios desejos narcisistas que foram frustrados pelas leis da natureza ou pela sociedade.”
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“Vale observar, no caso, o quanto os pais conseguiram produzir um indivíduo, a Larissa, independente em todas as frentes: emocionais, racionais e de sobrevivência. A dificuldade no caso dela pode estar nos efeitos do sucesso demasiado.”
Ulisses Zamboni
Ele finaliza: “Percebemos que, em muitos casos, os afetos parenterais podem se confundir com o valor simbólico da riqueza. E, daí, o assunto se desloca para outra esfera, a do poder”.
Ulisses Zamboni é psicanalista formado pelo Centro de Estudos Psicanalíticos - CEP e profissional especializado em comportamento humano e "behavior economics" (ciência que estuda a tomada de decisão das pessoas). Trabalha com comportamento de consumo há 40 anos e há 15 com psicanálise clínica. Tem projetos de Relações Públicas e "stakeholders management" em empresas com ênfase em Marketing e Comunicação.
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