Clara Moneke comemora sucesso como Kate em Vai na Fé: "Não posso ir na esquina"
"Não tenho mais o direito de sair feia na rua", brinca a atriz, estreante em novelas
Publicado em 30/03/2023 às 05:00,
atualizado em 30/03/2023 às 12:27
Clara Moneke tem roubado a cena como a desbocada e voluntariosa Kate de Vai na Fé. Sucesso nas redes sociais e nas ruas, a personagem tem feito a atriz de 23 anos, estreante em novelas, a lidar com a fama repentina. “Não posso ir na esquina. Já me preocupo porque não tenho mais o direito de sair feia na rua”, brinca, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.
Nascida em São Paulo (SP), ela cresceu na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Filha de um nigeriano e uma brasileira, começou a investir na carreira artística ainda menina, estudando atuação e também figurino e cenografia. O convite para estrear em novelas veio pelas redes sociais, e a atriz superou cerca de 100 testes ao ser escalada para Vai na Fé.
Ela garante que sua personalidade traz diferenças em relação à de Kate. “Ela é muito cruel. As coisas que ela fala, eu nunca falaria para alguém”, pontua Clara. A atriz se preocupa em não julgar sua personagem, mas também não “passa pano” para certas atitudes da moça. “Na minha família, Kate não ia se criar com aquelas respostinhas dela.”
Se Kate não foge de um baile funk, sua intérprete conta que já não frequenta mais as festas do Rio por conta da violência policial. É no cotidiano que a jovem artista compõe seu papel. “Gosto de observar as pessoas, para que eu possa construir algo humano e as pessoas possam se identificar. Minha maior inspiração é o dia a dia, são as pessoas.”
Clara Moneke também está no elenco de Nosso Sonho, filme sobre Claudinho e Buchecha que tem previsão de estreia ainda neste ano. Os papéis principais caberão a Lucas Penteado e Juan Paiva, respectivamente. Para atriz, que dá vida a Vanessa, viúva de Claudinho, o filme conta “a história de uma família preta com muita dignidade e beleza”.
Leia a íntegra da entrevista com Clara Moneke, a Kate de Vai na Fé
NT: Você faz teatro desde os sete anos, mas Vai na Fé é sua primeira novela. Como surgiu o convite e como foi o teste para viver a Kate?
O convite surgiu no meu Instagram, pela Patrícia Rache, nossa querida produtora de elenco, que me viu na foto de alguém e me chamou para fazer o teste. Na época, nem podia acreditar. Já estava trabalhando com audiovisual e saído do meu trabalho, mas a Globo era um lugar muito distante para mim. Quando a Kate chegou para mim, me identifiquei na hora, mas não pude acreditar que fosse tudo assim tão rápido. Mandei meu teste, em uma semana me chamaram para estar na Globo para o teste presencial. E lá descobri que já tinham [definido os atores de] todos os personagens, menos a Kate. Para a Kate, foram feitos mais de 100 testes, já em fase de preparação. E cheguei lá, me encontraram e começamos esse lindo trabalho. Foi tudo muito rápido.
NT: Nas redes sociais, logo no início da novela, muitos internautas pediam para que a Kate ganhasse mais espaço. Como está sendo a repercussão de Vai na Fé? O que as pessoas te dizem na web e nas ruas?
Fico chocada com o amor do público para com a Kate. Acompanho muito as redes sociais e é enorme o alcance, na rua me gritam: “Katelícia!”. Não posso ir na esquina. Já me preocupo porque não tenho mais o direito de sair feia na rua. A única coisa que reclamo é isso, vai ter sempre um querido para me dar um abraço, falar uma palavra legal, dizer que está gostando. E gosto de sair bonitinha nas fotos dos meus fãs, tenho que me preocupar com isso, estou sendo cada vez mais reconhecida e isso é muito legal porque adoro o carinho do público. Às vezes percebo que elas ficam meio afastadas, me reconhecem mas não vem falar comigo porque tem umas que não gostam, não julgo as pessoas públicas que não gostam. Eu gosto do público, estar presente, dar atenção a essas pessoas que fazem meu trabalho existir. O máximo de tempo e atenção que eu puder dar, eu sempre dou.
NT: A Kate é respondona, cheia de atitude e corre atrás do que quer, sem se preocupar com o que os outros vão pensar. O que a Kate e a Clara têm em comum?
Respondona, não sou, porque na minha família Kate não ia se criar com aquelas respostinhas dela. Minha família nunca foi de agressão física, mas ela ia ouvir. Essa alegria, certeza, amor próprio, temos em comum, sim. Kate me ensina muita coisa também. Às vezes, ela fala muita coisa que ninguém quer falar. Esse alto astral, energia que move tudo ao redor. Ela já chega e bota para quebrar.
NT: Conhece muitas Kates da vida real? Se inspirou em alguma conhecida para ajudar na construção da personagem?
Muitas e muitas Kates, o tempo todo. Entro no ônibus e vejo uma Kate, no pagode vou encontrar uma Kate, e gosto de pegar os detalhes. Tenho muitas amigas que me ajudaram, mas gosto de observar as pessoas, andar na rua, vendo o que fazem, falam, para que eu possa construir algo humano e as pessoas possam se identificar. Minha maior inspiração é o dia a dia, são as pessoas.
NT: Kate é figurinha carimbada nos bailes funk do Rio. E a Clara?
Kate é figurinha carimbada, Clara não. Eu já curti alguns bailes, mas devido a toda a violência policial, que a gente sabe que acontece, tive que ponderar estar nos bailes. De vez em quando, no Santo Amaro, quando dá, consigo uma escapulida e tento curtir esse clima gostoso. Lá, quando está mais calmo, meus amigos organizam umas coisas e eu vou. Mas não dá para curtir não, a violência está demais.
NT: A Kate sonha em mudar de vida e é isso que acaba fazendo com que ela se corrompa em alguns momentos. Pode falar um pouco sobre isso?
Ela é uma jovem de 18 anos, as pessoas podem se esquecer disso. Tenho certeza que irão julgar muito e esquecer que é uma jovem de 18 anos e que sonha em ser feliz. Mas ela se corrompe sim. Tem um traço de personalidade muito diferente do meu que é o sadismo. A Kate é muito cruel, as coisas que ela fala eu nunca falaria para alguém, mas ela tem isso. Não julgo, tento entender. Ela vai se corromper e o que posso dizer é que irá aprender com os erros dela. O maior aprendizado dela será errar para aprender, tudo que ela fizer terá um retorno. O mais legal dessa novela é que tudo tem uma resposta, bate e assopra.
NT: A personagem teve uma grande virada com a relação dela com o Theo. Pode adiantar o que vem por aí em Vai na Fé?
Uma relação problemática, muito engraçada apesar dos problemas. O Theo é o primeiro choque de realidade e aprendizado que ela vai passar. O Theo vai ser um mal necessário para que ela entenda as consequências.
NT: Como é sua relação com a Carla Cristina Cardoso e a Bella Campos, duas atrizes com as quais você mais contracena?
Posso dizer que é uma conexão ancestral, muito especial desde o primeiro dia que a gente se conheceu. No primeiro dia do teste, teve muita conexão muito boa. Somos praticamente vizinhas, ela de Santa [Teresa] e eu da Lapa. Almoçamos juntas, fazemos compras juntas. A Bella é uma querida! Como a gente aprende, troca, se diverte… É uma amiga que quero levar para a vida. Como temos uma equiparidade de idade, ainda estamos começando essa experiência, Carla já é mais experiente. Essa troca é muito legal. São duas pessoas que quero levar para a vida.
NT: Além de Vai na Fé, você também está no elenco de Nosso Sonho, filme sobre Claudinho e Buchecha. Pode falar desse trabalho?
É uma produção brasileira que vem para quebrar muitos paradigmas de família, arte, música e produção de cinema. Vem contando a história de uma família preta com muita dignidade e beleza, abordando assuntos tão difíceis como a morte de um dos maiores artistas que o Brasil já teve, que foi o Claudinho, de uma forma muito linda, poética, muito musical. Faço Vanessa, mulher do Claudinho, então tive oportunidade de estar com a família do Buchecha e entender tudo isso. Conhecia a Vanessa, a filha Andressa, conhecer um pouco uma época que ainda não tinha idade para curtir, foi muito bom, tudo muito mágico. Estou mega ansiosa para esse lançamento.
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