O que o governo Bolsonaro tem a ver com a queda na pontuação do Ibope
Ibope anunciou mudança nos números e o governo Bolsonaro tem muito a ver com isso
Publicado em 22/01/2024 às 08:00,
atualizado em 22/01/2024 às 10:40
Na última semana, a Kantar Ibope anunciou a nova pontuação de medição na audiência da TV e confirmou que, para 2024, houve redução dos índices. Os dados, que acompanham o crescimento brasileiro, foram diretamente afetados por uma política pública implementada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Logo nos primeiros dias do governo Lula (PT), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) lançou uma prévia do Censo 2022 e deu indícios de que houve uma estimativa inflacionada no número de brasileiros nos últimos anos. Naquele momento, os índices mostravam que havia cerca de 208 milhões de pessoas vivendo no país, bem menos que os 214 estimados em 2021.
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A diferença entre o Censo e a estimativa anual é que o primeiro é um número real, feito através de pesquisa colhida em todas as casas do país, mas realizado a cada 10 anos. O segundo é um levantamento com base em outras informações do governo federal, como o Pnad contínua, que reúne algumas informações das famílias.
A pontuação da Kantar Ibope é feita sempre com base no número de habitantes. Cada ponto representa 1% dos moradores ou domicílios da região levantada e, por certo, passa obrigatoriamente pelas estimativas do IBGE. Em janeiro de 2023, o NaTelinha publicou uma reportagem exclusiva mostrando que os dados do ano passado do Ibope poderiam estar defasados, com a descoberta de que havia menos gente morando no Brasil do que as expectativas.
À época, o Ibope negou e lembrou que se baseava em uma série de dados e não exclusivamente no Censo. Na ocasião, a reportagem lembrou que os números possivelmente defasados influenciavam diretamente na contratação publicitária das emissoras e que inflacionar o total de habitantes derrubaria os índices de audiência e poderia afastar o mercado.
Agora, um ano depois, a Kantar anunciou a pontuação para 2024 com uma drástica redução. Segundo a empresa, um ponto de audiência passará a ser contado como 658.194 indivíduos no Painel Nacional de Televisão (PNT), uma redução de quase 40 mil na comparação com 2023. Ou seja, é ainda pior do que o NaTelinha havia mostrado no ano passado.
A redução mais drástica que o esperado ocorre porque o Censo 2022 foi finalizado com dados ainda mais distintos, mostrando que o Brasil tem cerca de 204 milhões de habitantes, quase 10 milhões a menos do que a estimativa anterior, realizada em 2021.
E o que Bolsonaro tem a ver com isso?
Todo esse imbróglio só aconteceu por causa da gestão de Jair Bolsonaro. O Censo brasileiro acontece a cada 10 anos e o último havia ocorrido em 2010, sendo obrigatório, portanto, em 2020. Acontece que, naquela ocasião, o mundo estava diante da pandemia da Covid-19 e em quarentena, se tornando inviável a realização de um levantamento tão complexo.
Com a vacina e o afrouxamento das regras, o IBGE passou a prever o Censo para 2021, mas o governo Bolsonaro desidratou o instituto, que ficou sem verba e teve de adiar o processo. Somente com ordem judicial é que a gestão foi obrigada a realizar o Censo em 2022, mas de forma lenta e com muito menos recenseadores que o necessário.
Foram precisos meses para coletar os dados e entregar o resultado final, que acabou surgindo apenas em meados de 2023, quando a Kantar Ibope já havia divulgado sua métrica de pontuação.
Emissoras prejudicadas
Além disso, as estimativas dos últimos anos do IBGE se mostraram equivocadas e fizeram com que obras perdessem pontos no Ibope.
A título de comparação apenas, Travessia, terminada em 2023, encerrou sua trajetória com 24,2 pontos na Grande São Paulo. Caso a pontuação correta fosse aplicada já no ano passado, a trama de Glória Perez teria tido 26,1 de média. Já Terra e Paixão, que ficou com 26,5, teria terminado com ótimos 28,7. O mesmo caso acontece com Pantanal, que sairia de 29,6 pontos para 32.
Mas não são apenas as novelas da Globo que sofreram. No SBT, produções como o Programa do Ratinho ganharia até meio ponto, a depender do dia. Na Record, A Fazenda 2023 sairia de 6 pontos para 6,52.