Publicado em 04/01/2021 às 05:00:01
Dispensado pela Globo em 2020, Nelson Freitas nunca trabalhou tanto como nos últimos meses, mesmo sem contrato fixo na TV. O ator de 58 anos grava uma série e um longa-metragem, está à frente de um projeto multimídia e até criou um canal no YouTube. O artista transformou a demissão, após quase duas décadas na mesma emissora, em oportunidade para se reinventar na carreira.
"A minha saída da Globo acabou sendo um grande estímulo para que eu pudesse me dedicar mais aos projetos pessoais", avalia Nelson Freitas ao NaTelinha. Em entrevista exclusiva, o ator ainda comenta as mudanças no departamento de humor da emissora, onde brilhou durante mais de 15 anos e atualmente passa por uma profunda reformulação após a saída do diretor, Marcius Melhem, acusado de assédio sexual por Dani Calabresa.
"Zorra Total deveria ser patrimônio histórico cultural (risos). Morro de saudades daquela turma e da alegria das gravações, que vão ficar guardados eternamente no coração, mas como a agilidade dos novos tempos é estonteante as mudanças são inevitáveis. Só torço para que o núcleo de humor se fortaleça e continue lançando mão dos incríveis talentos, atores, diretores e roteiristas extraordinários, para acalentar nossas mentes com risadas, pois é disso que a gente precisa", analisa.
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Nelson Freitas também fala sobre sua quarentena durante a pandemia de coronavírus e relembra trabalhos marcantes na Globo, como as novelas Tempo de Amar (2017) e O Tempo Não Para (2018) e a primeira temporada do Show dos Famosos (2017), quadro do Domingão do Faustão.
NaTelinha: Como a pandemia afetou seus projetos em 2020? O que precisou ser adiado ou cancelado? E na vida pessoal, como o coronavírus te atingiu?
Nelson Freitas: No primeiro mês, eu fiquei meio atônito, quietinho dentro de casa, ouvindo o silêncio da rua, como todo mundo, e vendo pela internet, os animais saindo das matas e aparecendo nos centros urbanos meio que se perguntando o que que está acontecendo. Claro, tive trabalhos que já estavam programados, shows, e eventos corporativos que precisaram ser cancelados. A solução foi partir para o digital e tentar manter a cabeça e a moral em pé. Fiz uma live semanalmente no meu Instagram, onde convidava os seguidores para dividir, não só a tela comigo, mas histórias, músicas e poesia. Foi muito gratificante! Esse ano, fomos colocados à prova, se seriamos capazes de suportar, não só o estrago mundial, bem como o confinamento, mas sobretudo a convivência com quem se estava confinado, e consigo mesmo e esse talvez, tenha sido o "pulo do gato". Conseguir ter um olhar mais consciente e profundo sobre nós mesmos. Foi o caminho que eu escolhi.
Mesmo com a crise provocada pela Covid-19, você seguiu trabalhando. Quais são os seus principais projetos no momento? Acredita ser possível conciliar a produção audiovisual com os novos protocolos de segurança?
Recentemente, criei o meu canal no YouTube para soltar minha voz rouca cantando sucessos antigos clássicos, standards, contar histórias sobre as músicas, seus compositores e intérpretes e levar um pouco de leveza e alegria para quem me segue nas redes.
Estou gravando a série educativa Télos, idealizada pela startup de educação, homônima, da empresária Gabriella de Castro. A ideia é que os vídeos ajudem alunos do ensino médio, universitários e recém-formados, através dos conteúdos de temas abordados como empreendedorismo, marketing digital, investimentos e tecnologia. Queremos usar o lado mais lúdico nessas videoaulas, já que existem muitas pessoas que preferem aprender de forma mais leve, através do audiovisual, ao invés do uso de quadro e projeções. O lançamento está previsto para janeiro, e a ideia é fechar com uma plataforma de streaming.
Estou filmando o longa Tração, que é um filme de ação, que fala sobre o universo das motocicletas. Vivo o vilão Fernando DiMelo e atuo ao lado de grandes atores, como Marcos Pasquim, André Ramiro, Bruna Altieri, Mauricio Meirelles, Fiuk, Paola Rodrigues e Duda Nagle. É um filme de muita ação e tenho certeza que vai agradar, principalmente os amantes das duas rodas. No filme, fazemos testagem antes, durante e depois de cada filmagem, usamos máscaras e álcool gel todo o tempo. As gravações estão acontecendo em várias cidades, tentando acompanhar os circuitos e competições que acontecem sem público. Filmar no meio da pandemia é um grande desafio mesmo respeitando todas os protocolos de segurança. É meio temeroso, o deslocamento e a permanência em lugares fechados.
No longa Nina, do Samuel Machado, que está sendo finalizado e foi filmado na Bahia, interpreto Valdir, um policial acusado de assassinar a própria esposa. Estamos na pré-produção do filme A Parada, uma comédia road movie escrita pelo Marcelo Vindicatto, dirigida pelo José Lavigne e com supervisão do Cacá Diegues. Vou viver o detetive particular Soares, mestre dos disfarces e que vai dar pano para manga com muitas caracterizações bizarras e engraçadas.
Tenho um projeto multimídia, Humanidade, Embaralha e dá de Novo, que conta com um espetáculo teatral, podcast e documentário, que estreia em 2021.
Além da pandemia, o fim de seu contrato fixo com a Globo também o obrigou a se reinventar?
A minha saída da Globo acabou sendo um grande estímulo para que eu pudesse me dedicar mais aos projetos pessoais. A administração do tempo durante a quarentena que, para mim, ainda continua, foi a chave para remodelar certos hábitos. A procrastinação, por exemplo, foi o maior desafio. Se dava para fazer amanhã, eu fazia semana que vem (risos).
Pela sua extensa trajetória de quase duas décadas no humor da Globo, como avalia as mudanças neste departamento na emissora, com o fim definitivo do Zorra e a criação de produtos mais populares?
Penso que transformação é a palavra de ordem no momento em todo o mundo. Na Globo, não é diferente. Os desafios são gigantes, a velocidade das mudanças, não só as tecnológicas, mas as comportamentais principalmente, requerem movimentos, às vezes bruscos e inesperados. A gestão de uma empresa desse porte é intrincada, sobretudo pela natureza do negócio, pois o que se cria ali não são apenas produtos, são emoções, entretenimento, diversão, são sonhos! E a forma como se consome isso, hoje em dia, é meteórica e dinâmica.
Para mim, o Zorra Total é um caso de amor. Eu ajudei o Zorra Total a se manter um campeão de audiência durante anos. O formato de humor de bordão é um clássico brasileiro. Deveria ser patrimônio histórico cultural (risos). Os quadros que fazíamos tinham uma comunicação direta, fácil, e ingênua, que agradava a todas as classes sociais e faixas etárias. Não à toa permaneceu por 15 anos no ar! Isso é um êxito enorme. Aí veio o novo formato, mais moderno, inteligente, ágil. Era um outro programa, e eu embarquei de cabeça, foi uma delícia contracenar com aquele elenco dos sonhos. Fomos indicados para o Emmy Internacional logo no primeiro ano.
Morro de saudades daquela turma e da alegria das gravações, que vão ficar guardados eternamente no coração, mas como a agilidade dos novos tempos é estonteante as mudanças são inevitáveis. Só torço para que o núcleo de humor se fortaleça e continue lançando mão dos incríveis talentos: atores, diretores e roteiristas extraordinários, para acalentar nossas mentes com risadas, pois é disso que a gente precisa.
Para quem só conhecia você pelo humor, foi uma grata surpresa vê-lo em um papel dramático em Tempo de Amar (2017) e outras novelas, como O Tempo Não Para (2019). O estigma de humorista é positivo ou já lhe prejudicou na carreira? Você gostaria de diversificar mais seus trabalhos?
São 35 anos de carreira, sempre fazendo de tudo, me arriscando, me desafiando. Fiz dezenas de musicais, que é uma classe de artistas diferenciados, com uma disciplina e dedicação fora do padrão. Fiz inúmeras novelas e filmes, mas o humor me puxou com uma força tamanha, que acabou impulsionando minha carreira, e me fazendo conhecido como comediante. Mas a vontade de contar histórias, de viver personagens mais densos, retomou seu lugar, e tem sido muito bom e relevante para mim estar fazendo trabalhos como esse em Tempo de Amar, um primor de novela, que teve a delicadeza e sensibilidade, marca registrada de Alcides Nogueira, e direção maravilhosa do Jayme Monjardim. O Tempo não Para, que fiz logo na sequência e contava a história de uma família que ficou congelada durante cem anos e retornaram à vida nos dias atuais, foi uma ideia genial! Contracenar com Cristiane Torloni e Edson Celulari foi um deleite, fazer o pai do Nicolas Prattes então... menino de ouro!
Um de seus trabalhos recentes mais marcantes foi o Show dos Famosos (2017), e muitos participantes saíram do quadro do Domingão do Faustão renovados. Gostou da oportunidade de performar?
O Show dos Famosos foi um capítulo à parte na minha vida. Era a primeira edição e estávamos todos buscando entender o formato, o time reunido ali, figurino, maquiagem, iluminação, coreografia, enfim, toda a equipe é uma constelação de feras, e a cada dia a gente crescia um pouco. Foi sensacional a experiência, e poder cantar, dançar e homenagear os ídolos foi um presente dos céus. Tudo que a gente fez ali foi retribuir esse presente para o público em forma de suor e dedicação para promover uma atração de qualidade nas tardes de domingo.
Até hoje eu não sei como foi que fiz aquela Tina Turner... Revejo o vídeo e penso: o que que foi isso? Que privilégio! O musical é contagiante e espero ainda poder fazer um monte deles. Aliás, estamos montando, para 2021, um espetáculo musical no teatro Village Mall que vai fazer um barulho imenso, baseado no livro A Noite do Meu Bem, do genial Ruy Castro, relembrando a cena cultural do Rio de Janeiro a partir da década de 1940 e resgatando não só as músicas que marcaram época, mas sobretudo a autoestima do carioca. A Helô Seixas está fazendo a adaptação e o João Fonseca já topou dirigir. Já pensou? Desfolhar aquele repertório de ouro, sob os figurinos de época, atores, cantores, bailarinos, orquestra, cenários e luzes em um teatro de última geração, para rever a glória que essa cidade já teve? O Rio merece.
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