Publicado em 02/05/2020 às 08:16:00
Mauro Tagliaferri completa cinco anos de RedeTV! neste mês de maio. Formado ainda na era analógica, ele viu o mundo se transformar e a modernidade facilitar o trabalho da profissão. "A gente ficava meio imaginando que bicho era aquele [o computador], o que dava para fazer. Enfim, sou dessa geração que fez a transição. Não sou nativo digital", conta em entrevista ao NaTelinha.
Formado em Direito, acredita que a graduação lhe ajudou a ser didático. "Nem todo mundo tem formação em Direito, Economia, Medicina, e cabe ao jornalista traduzir isso para o público", opina.
No currículo, leva oito anos de trabalho na Globo, a quem é só elogios: "Uma estrutura que poucas emissoras no mundo tem". E garante que só saiu por ter recebido uma oferta melhor do SBT: "Às vezes, as pessoas fazem drama, suspense, algo por trás. Não teve nada. Foi simplesmente uma proposta de trabalho".
No SBT, Tagliaferri teve uma passagem mais curta, que durou cerca de um ano, mas nega ter tido problemas na casa e tampouco interferência na liberdade editorial. Ele relembra que foi para o canal de Silvio Santos através de um convite de Ana Paula Padrão, e resolveu sair logo que ela se afastou do departamento. "Só passou a ter uma linha editorial que eu não acreditava e a gente conversou. Preferi sair, foi só isso", afirma.
O jornalista ainda fala sobre seus cinco anos de RedeTV!, sua parceira de emissora e agora no rádio, Mariana Godoy, além de projetos que ainda gostaria de executar.
Confira:
NaTelinha - Além de ter se formado em Jornalismo, você também cursou Direito. O que essa faculdade te ajudou dentro do Jornalismo? No que ele te agregou o que você carrega dele para a profissão?
Mauro Tagliaferri - Ela me deu muita noção de como funciona o Estado. Como os poderes se dividem, o que é a Constituição, quais as atribuições de cada ente que compõe o estado. O que eles fazem, o que podem fazer. Isso na cobertura política e economia facilita muito. No mínimo, evita que eu fale bobagens.
Ajuda a ser didático. O jornalista tem que ser didático. Nem todo mundo tem formação em Direito, Economia, Medicina, e cabe o Jornalista traduzir isso para o público.
NaTelinha - Você ficou por quase 10 anos na Globo. Como avalia essa passagem quase 15 anos depois? Que balanço você faz dela e como foi sua saída do canal carioca?
Mauro Tagliaferri - Eu fiquei oito anos na Globo, foi minha grande escola de televisão e acho que cursei talvez, uma das melhores universidades do mundo nesse sentido.
Uma estrutura que poucas emissoras no mundo tem. Profissionais comprometidos com a qualidade do trabalho, que se orgulham do lugar onde trabalha, que dão 150% de empenho nas suas tarefas, missões. Então, sou muito grato à Globo por tudo que aprendi lá dentro. Foi uma passagem que só tenho a agradecer.
Saí da Globo por motivos normais de mercado. Recebi uma proposta do SBT tanto em termos financeiros como em termos de trabalho, sobre o que iria fazer no SBT. Conversei na Globo, não existia nenhuma possibilidade parecida e pronto, fui para o SBT. É normal. É algo que o mercado entende perfeitamente.
Foi num momento que meu contrato com a Globo estava no fim, recebi essa proposta, aceitei e é vida que segue. Não tem nada de anormal nisso. Às vezes, as pessoas fazem drama, suspense, algo por trás. Não teve nada. Foi simplesmente uma proposta de trabalho.
NaTelinha - Depois da Globo, você teve uma curta passagem pelo SBT, mas viveu um momento importante na cobertura da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Como estava o departamento de jornalismo da emissora naquela época? Como foi trabalhar ao lado de Ana Paula Padrão? Você já sofreu alguma interferência no SBT? Como era o quesito de independência editorial?
Mauro Tagliaferri - Fiquei um ano no SBT. De fato foi curta, mas muito boa. Estive em dois projetos importantes, que foi a cobertura da Copa de 2006 na Alemanha e as coberturas presidenciais. Foi bem interessante para mim. A minha saída do SBT não foi por nenhum motivo de interferência. Tínhamos muita liberdade para trabalhar. Acontece que fui para o SBT dentro do projeto da Ana Paula Padrão. Ela fez o convite. Em um determinado momento, ela se afastou do projeto do jornalismo, somente para fazer um programa de reportagem. E o jornalismo passou a ser chefiado por outro grupo. Foi só isso. Não teve briga. Atrito. Só passou a ter uma linha editorial que eu não acreditava e a gente conversou. Preferi sair, foi só isso. E apenas para deixar claro, foi apenas uma discordância. Não que a linha editorial estivesse errado, era apenas a linguagem jornalística. Não era o que eu estava buscando naquele momento. Estava tudo certinho. Era uma questão de linguagem, abordagem, pautas... Pra mim, naquele momento, não estava dentro do escopo. Tinha vontade de fazer política, pautas de outros temas, que naquele momento não estavam sendo oferecidos. NaTelinha - Você foi correspondente internacional em Portugal por um tempo na Record posteriormente, e o país é um dos que adotaram medidas eficazes contra o novo coronavírus, e tem dado bons frutos, principalmente em comparação com a Espanha, país vizinho. O que você acha que o Brasil tem que repetir e se espelhar neles para conseguirmos resultados semelhantes? Mauro Tagliaferri - Bom, de fato Portugal... A população de Portugal teve uma conduta exemplar. Portugal e Espanha que você nem enxerga onde começa um país e termina outro, e como eles conseguiram se diferenciar desse cenário caótico. Portugal é um país pequeno de 11, 12 milhões de habitantes. Você percorre Portugal de Norte a Sul em apenas um dia de carro. Pra gente comparar nossa realidade do Brasil com Portugal é muito diferente. Além da questão territorial, uma grande diferença é o nível cultural. E também a questão do estado de bem estar social, que é uma característica europeia. Você tem uma população mais educada do ponto de vista da educação básica e formal. Você tem uma população mais instruída e que tem o mínimo. Ao contrário da nossa população que estão na mais absoluta penúria e miséria, lá você não tem miseráveis. Num momento que tem que deixar todo mundo em casa, lá você tem uma estrutura mínima de renda das pessoas que elas não vão passar fome. Lá você não tem isso. Você junta um território pequeno, população pequena, mais instruída e que tem renda mínima, aí é sucesso! Se pudesse fazer isso aqui íamos combater com o pé nas costas. NaTelinha - Você tem o desejo de voltar a ser correspondente internacional? Existe algum país que você queria ter ido, se não fosse Portugal, naquela época?
Mauro Tagliaferri - A experiência de ser correspondente é única na vida de um jornalista, de ser inigualável. De cobrir eventos importantes, a pauta do correspondente é diferente. Você não chama um correspondente para cobrir buraco de rua. Você vai cobrir coisas importantes para o cenário mundial. Dá um pique enorme para fazer o trabalho. Se houvesse uma proposta para voltar a ser correspondente, analisaria com carinho. Tenho outras condicionantes, tenho filho aqui em São Paulo, sou separado, mas meus filhos moram aqui. Teria que abordar todo mundo. Vários aspectos pessoais e familiares... Meus pais estão aqui também, já estão velhinhos. Aspectos de remuneração também. Tá muito caro para manter um correspondente fora do país. Quem consegue é com um esforço muito grande e elogiável. Assim, poxa. Tem tantos lugares que são fontes de notícia e seriam ótimos de viver. Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Alemanha. Tem muito país aí que tem pauta boa pra fazer. O mundo inteiro tem pauta boa. Israel é outro lugar legal também pra trabalhar. Pauta boa tem em todo lugar. Depende das condições oferecidas para realizar esse trabalho. NaTelinha - Completando cinco anos de RedeTV! em 2020, o que você acredita que difere o Jornalismo da emissora das demais? Mauro Tagliaferri - São cinco anos de RedeTV!, passaram voando e a emissora pra mim foi uma grata surpresa. Tenho um carinho enorme pela RedeTV!, pelo modo que foi recebido, pelo diálogo que tenho com todos, desde a chefia até todos os meus colegas. Acho que é uma TV que pra mim, assim, me surpreendeu muito na forma aberta como a gente dialoga, como a gente enfrenta as dificuldades juntos e já comemoramos alguns feitos. Acho que o programa da Mariana é um desses feitos muito legal de fazer. Se tornou relevante, parte mesmo da pauta do jornalismo. Fiz viagens legais, fui pra Cuba, Israel, dentre outras. Pautas que cobri como repórter especial. Me sinto muito bem e prestigiado pela emissora e pela confiança que eles têm em mim. Projetos que a TV pensa e me envolve, alguns deles foram para frente. Outros não foram. Estar envolvido é sempre bom, sinal de confiança. Tenho um carinho enorme pelas oportunidades, como substituir o Boris Casoy por conta da pandemia. Substituir o Boris é uma baita responsabilidade. Sobre o que difere o jornalismo da RedeTV! das demais, a gente tenta se aproximar da cobertura com o que é a real necessidade população, tenta ser menos politiquês, economês e mais simples, direito, mais ao ponto e aproximar da vida das pessoas. É uma preocupação importante que a gente tem, dando todas as informações e mantendo o equilíbrio, mantendo as análises que tem que fazer. O Boris mesmo em casa continua fazendo as análises dele. A gente consegue misturar análise mais sofisticada, com uma pauta mais popular. Mostrar o que está acontecendo de uma forma simples. Ainda tem produtos como Leitura Dinâmica e o da Mariana Godoy que é ligado a área cultural. O Leitura é um jornal, praticamente uma revista eletrônica que tem uma pauta cultural muito forte. É outro diferencial. O da Mariana, que aborda desde as pautas políticas mais quentes, vai para a área de comportamento, cultural, a gente cerca todos os temas e aborda de forma mais profunda porque temos mais tempo. Os convidados conseguem falar. Dá a oportunidade do entrevistado se expressar sem limite de tempo como um telejornal. NaTelinha - Como tem sido conciliar rádio e TV com a mesma companheira, Mariana Godoy? Como se deu essa química?
Mauro Tagliaferri - Foi muito legal. Eu a Mariana se conhecia da Globo mas nunca trabalhamos propriamente juntos. Eu era do esporte na Globo. Meu contato com ela era no corredor, não era tão intenso como hoje. Fui conhecê-la a partir da ida para a RedeTV!. No programa a gente se dá super bem. Temos estilos diferentes, mas complementares. A Mariana, ela tem uma espontaneidade super legal e eu sou mais analítico. A gente vai se complementando quando um precisa ser mais duro, calmo, ou mais fofo, ou outro entra batendo. A gente dá um equilíbrio para o programa e mesmo na nossa parceria, no diálogo que a gente tem... Os toques que ela me dá, e eu dou nela, acaba sendo bem frutíferos. Cada um vez uma questão sob a ótica diferente do outro e isso é enriquecedor. Pontos de vistas diferentes são sempre enriquecedores. Com a gente isso funciona muito bem. E com relação a rádio, em termos de trabalho está punk, bem puxado, e a gente entra cedinho. Nosso trabalho na Nova Brasil FM começa às 6h. É das 6h às 8h. Foi outra surpresa que tive na rádio. Está sendo uma experiência fantástica, nunca tinha trabalhado em rádio. Quando não estou na frente do microfone, estou redigindo pauta, indo atrás de entrevistado. Está sendo muito legal fazer e a participação que temos do público dão bem a mostra do quanto a gente está conseguindo acertar em termos de abordagem. Conciliar rádio com a TV é puxado, mas quando a gente gosta, o resultado é bom, acredita no projeto... Está tudo bem. O cansaço existe, mas a gente supera. Os horários são absolutamente conciliáveis. O meu acordo com a RedeTV! é que minha atividade na rádio não podia atrapalhar, e isso faço questão de cumprir, porque a RedeTV! é parceira. NaTelinha - Existe algo no jornalismo que você ainda queira fazer? Um programa, uma série de reportagens especiais que ainda não foi possível... Mauro Tagliaferri - Eu queria fazer rádio e comecei esse ano. Já foi um sonho realizado, estou realizando e pretendo realizar por muitos e muitos anos. O jornalismo tem a vantagem é que todo dia é um dia diferente. De tédio a gente não morre nunca. O que acho é que sou um profissional que foi formado na era analógica. Acho que sou da primeira geração de profissionais que viu a primeira transformação digital. Quando cheguei na Folha de São Paulo em 1993, a internet estava nascendo no mundo. Logo em seguida o UOL foi fundado. Na redação, cada editoria tinha acesso a um computador. A gente ficava meio imaginando que bicho era aquele, o que dava para fazer. Enfim, sou dessa geração que fez a transição. Não sou nativo digital. Tem muita coisa digital que posso fazer. Temas que gosto que posso desenvolver. Vou falar de dois deles: um deles é café. Sou alucinado pelo universo do café. Experimento cafés, vou me informar sobre cafés. E ele merece um lugar bacana que ele ainda não tem na mídia. Outro tema que me encanta e precisa ganhar mais destaque é o tema da maturidade. A população do mundo inteiro está envelhecendo e precisamos aprender a lidar com isso. Entender as necessidades desse público e ter produtos de comunicação voltados para esse público. Me interessa muito e tenho o sonho de trabalhar com isso, sim. Pode ser abordado em mídia digital, tradicional, crossmidia... São dois temas que tenho muito interesse e tenho projetos guardadinhos aqui na gaveta que já andei conversando e uma hora esses projetos vão andar e dar bons frutos também. Tenho dado palestras e midia training que é outra área que gosto muito. Ajudar as pessoas a comunicar com mais eficiência. As pessoas não estão conseguindo expressar o que sentem. E por outro lado, as pessoas não estão conseguindo ouvir direito aquilo que o outro diz. E ajudar nisso é muito gratificante pra mim. É uma atividade que me deixa feliz, gosto muito de fazer. Sinto que tem um propósito nisso. Ajudo as pessoas quando abordo esse tema. Não na questão de treinar alguém, ajudar um executivo a dar uma entrevista. É ajudar as pessoas o que elas querem passar de verdade e não ser mal entendidas. Porque os mal entendidos nesse mundo estão levando a gente por um caminho bem perigoso. NaTelinha - Existe também algum desejo de migrar para o entretenimento como outros jornalistas já fizeram, como Tiago Leifert, Fátima Bernardes, Patrícia Poeta? Mauro Tagliaferri - Quanto a migrar, não é algo que eu fique pensando todo dia nisso. Mas te diria: por que não? Se um dia chegar um projeto bacana, uma proposta legal, de algo que me encante, que seja relevante. Por que não? Não iria por pura e simplesmente de dinheiro. Se junto com isso não vier algo que tenha a ver com meus princípios, valores e propósito, aí não, né? Mas, se tiver a ver, se identifica comigo, não diria não. De jeito nenhum. Está cada vez menos distinta a linha que divide o entretenimento e informação. O jornalismo tem princípios que não se pode abrir mão. Apuração, isenção, imparcialidade, faz parte da nossa ética, o modo como o jornalismo tem que ser feito. O jornalista indo para o entretenimento, acaba levando esse padrão ético também, da forma mais isenta possível. A precisão, a correção. A apuração exigente, a apuração bem feita, então quando esses dois mundos se encontram, um complementa o outro. Às vezes, a gente como jornalista aprendemos como contar uma história e a gente tem história na mão. A gente lida com fatos, realidade. Estamos em busca da verdade. Vilã não morreu Mulheres de Areia: Isaura tem reencontro emocionante com Raquel Estreou na TV aos 7 Lembra dele? Ex-ator mirim, Matheus Costa virou galã e bomba na web Surpresa Longa carreira Dança das cadeiras Ai ai ai ui ui Demissão em massa Lista Dilema Climão Ao vivo Eternos namorados Alfinetada Assista 50 & Uns Novo compromisso Perigo Eita! Um clássico Opiniões Voltou atrás Coração a mil