Publicado em 27/09/2019 às 04:44:00
Nesta sexta-feira (27), Sérgio Chapelin comandará pela última vez no “Globo Repórter”, passando o bastão para Sandra Annenberg, que terá ao seu lado Glória Maria. Quase cinco décadas depois à frente das câmeras da Globo, o jornalista se aposentará.
Ele já declarou que a televisão é o veículo de comunicação mais importante do país e o seu predileto também. “Mais até do que de rádio”, contou o apresentador em depoimento ao Memória Globo. “Televisão todo mundo entende, todo mundo discute, todo mundo dá palpite, todo mundo vê. Então, eu acho que televisão é cultura”, acrescentou.
Nascido no interior do Rio de Janeiro, mais precisamente na cidade de Valência, seu primeiro trabalho de destaque no jornalismo foi como locutor na Rádio Jornal do Brasil na década de 1960. Chapelin deixa claro em entrevistas que seu principal talento é saber ler bem o texto e passar emoção ao público.
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Filho de um ferroviário e de uma costureira, sua trajetória profissional começou na Rádio Clube de Valença, mas ele resolveu ir ao Rio de Janeiro para trabalhar como bancário. Deixou o bom emprego para ser locutor na Rádio Tamoio, seguindo para a Rádio Nacional. Em 1964, chegou a Rádio Jornal do Brasil.
Foram oito anos no rádio para ter sua primeira oportunidade na TV: “Jornal Hoje”, na Globo. Com boa desenvoltura, foi promovido ao “Jornal Nacional”, mas o jornalista garante que o início passou longe do que é visto hoje na televisão.
“Era aquilo: uma mesinha. Tinham duas bancadinhas muito modestas, duas cadeiras de madeira, sem nenhum estofamento, sem nenhuma sofisticação. E eram ótimas, para o diafragma”. Sua primeira passagem no telejornal acabou em 1983.
Engana-se quem pensa que Sérgio ficou apenas na função de apresentador do “Jornal Nacional” durante uma década. Ele também se dividiu com o “Globo Repórter”, estreando em 1973 e deixando a atração em 1983.
Em 1973, também assumiu a função de comunicador do “Fantástico”, fazendo participações especiais até 1983. Em agosto de 1974, foi responsável pelo “Jornal da Noite”, além de ter substituído Heron Domingues no “Jornal Internacional”, que morreu naquele período.
Ainda durante a década de 1970, Sérgio passou pelo “Jornal Amanhã”, “Jornal da Globo” e participou da novela “Espelho Mágico”, de Lauro César Muniz. Nunca escondeu que era um verdadeiro multiuso na Globo.
Antes de virar moda profissionais deixando o jornalismo e indo para o entretenimento, Sérgio saiu da Globo e se transferiu para o SBT. Na emissora de Silvio Santos, ganhou um programa de variedades chamado “Show Sem Limites”. Sua estreia aconteceu em maio de 1983, na linha de shows do canal que começava a partir das 21h20.
O apresentador fazia entrevistas, jogos com perguntas e respostas e ainda aparecia de corpo inteiro no vídeo, além de poder fazer comerciais, algo vetado pela Globo até hoje para quem faz parte do jornalismo. Porém, Sérgio não ficou satisfeito com a estrutura do SBT e retornou a Globo.
"Meu salário era muito baixo. Trabalhava na Globo e na Rádio MEC, e não havia perspectiva de melhora. Então, recebi convite do SBT para ganhar cinco vezes mais. Acho que o Armando (Nogueira, diretor de jornalismo da TV Globo na época) não acreditou, pensou que eu estava blefando e não fez nada, não ofereceu nem um bombonzinho. Fiquei no SBT um ano. Foi um horror. Era uma televisão nova, sem recursos e ainda peguei uma produção difícil de lidar", explicou Sérgio Chapelin à revista Quem, num entrevista em 2013.
E completou: "Minha volta foi milagrosa. O Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, vice-presidente de operações da TV Globo na época) soube que eu estava negociando com a Manchete e me chamou para conversar. Ele disse: “Você só vai sair daqui com um contrato assinado”. Fiquei proscrito dos jornais porque virei um protegido do Boni só para fazer o 'Fantástico'. No 'Jornal Nacional' e em outros programas, como o Globo Repórter, eu era barrado. Ficou uma aresta, uma arestona!".
Em 1988, durante o "Show de Calouros", Silvio Santos deu sua versão sobre a saída do jornalista da emissora: "Eu contratei o Sérgio Chapelin porque ele me falou que queria ser animador de programas, apresentador de programas, uma das vezes que veio aqui receber um prêmio. O público foi ao delírio, porque ele é um rapaz bonito. Ele veio, porque queria realizar o sonho dele. Um ano depois, quando terminou o contrato, ele veio com a esposa e me disse: 'Silvio, eu não vou ficar, porque o aumento que eu tive foi aparente. Eu ganhava 100 na Globo e agora ganho 200, mas a Globo não deixa que os meus comerciais entrem na Rede Globo e o que ganhava não ganho mais. E como não deixam que os meus comerciais entrem na Globo, eu vou voltar pra Globo, porque lá eu ganho menos de ordenado, mas eu ganho mais quando meus anúncios são colocados na Globo'", revelou o comunicador.
Chapelin só voltou ao SBT em 2018, mas para receber o "Troféu Imprensa". A Globo permitiu que ele recebesse o prêmio e o jornalista se emocionou, dedicando a vitória as mulheres, principalmente a sua esposa.
Em 1984, Chapelin voltou ao “Fantástico”, ocupando a função até 1989. O jornalista ficou com a função de anunciar a morte de Tancredos Neves, em abril de 1985. “Eu entrei no cenário do ‘Jornal Nacional’ especial preparado para a morte do Tancredo. Entrei lá com a roupa que estava no ‘Fantástico’. No primeiro intervalo que deu, troquei a gravata escura, porque eu estava com uma muito alegre. Chegou a Leda Nagle e ficamos os dois apresentando: entraram pessoas sendo entrevistadas, peguei aquele texto imenso contanto toda a história política do Tancredo”, contou ao Memória Globo.
Sérgio, mesmo tendo ido para o SBT, tinha prestígio com o público e a direção da Globo. Além de comandar o “Fantástico”, voltou a ficar à frente do “Globo Repórter”. É considerado por muitos o programa com mais a cara de Chapelin, mesmo ele tendo sido um dos pioneiros do “JN”.
Mas ele ficou apenas três anos no jornalístico e retornou para bancada ao lado do seu grande parceiro de profissão: Cid Moreira.
Talvez a saída de Sérgio Chapelin não foi o fim da sua trajetória do principal telejornal do país. Voltou a dividir bancada com Cid Moreira em 1989, levando as principais notícias do mundo no “JN”.
Durante metade da década de 1990, anunciou o início e o fim da Guerra do Golfo, a morte de artistas famosos, a implementação do Plano Real, o impeachment de Fernando Collor, o título da Copa do Mundo de 1994, entre outras coisas.
O jornalismo da Globo passou por uma reformulação e buscou rejuvenescer seus telejornais, o que levou Cid Moreira e Chapelin a deixarem o “Jornal Nacional”, dando espaço para William Bonner e Lilian Witte Fibe.
Sérgio teve a responsabilidade de repaginar o “Globo Repórter” e dar um novo fôlego ao formato. Missão dada é missão cumprida. O jornalista trouxe uma linguagem diferente ao que o público estava acostumado, como o próprio explicou ao Memória Globo.
“Um programa de aventura, sempre tratando de assuntos que despertam certa curiosidade do telespectador, com linguagem de televisão”, comentou, deixando claro que era preciso criar um clima para as notícias através da locução, sem exagero.
Em 2005, precisou se reinventar novamente e deixou os estúdios da Globo para fazer gravações externas. Ele visitou os cenários do Sítio do Picapau Amarelo e trouxe maior dinâmica ao “Globo Repórter”.
Em 2010, começaram os boatos de que o apresentador iria se aposentar. Com a chegada de Glória Maria, a informação ganhou mais força, principalmente pelo espaço dado a jornalista, que vinha fazendo séries de reportagens em outros países.
Mas Sérgio continuou como o principal apresentador do jornalístico até 2019. Em agosto, a Globo anunciou sua aposentadoria e que Sandra seria a sua substituta, defendendo tela com Glória Maria.
“O programa começou com uma equipe de cinema: Paulo Gil Soares, Eduardo Coutinho, Washington Novaes, Luiz Lobo, Luiz Carlos Maciel. A proposta era ser mais um documentário. Até entrar a Silvia Sayão que foi dando uma outra característica ao programa, que eu chamo de programa de televisão por não ter o compromisso com documentário e o factual, mas tem o compromisso de ser um programa de informação, entretenimento, cultura. Foi nessa linha que o Globo Repórter ganhou fôlego. Todo mundo quer ver”, mostrou sua visão sobre o sucesso do programa.
Com 78 anos, o apresentador focará em projetos pessoais. Sua despedida ganhou chamada especial da Globo e vai ser mostrado Chapelin dando adeus ao público e anunciando Sandra como a nova apresentadora do “Globo Repórter”. Ela, por sua vez, assumirá no dia 04 de outubro.
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