O que deu certo em um local pode ser replicado com as adaptações necessárias.
Jô Mazzarolo, Diretora de jornalismo da Globo no RecifePublicado em 11/04/2019 às 09:16:36
Informalidade, pautas mais próximas da realidade e menos distância do público. Se esses conceitos hoje são sentidos ao assistir os telejornais locais da Globo, isso se deve a uma mudança de postura ocorrida há 10 anos. Iniciada no Recife, com o “NE1”, a reestruturação de 2009 foi um dos cinco momentos importantes de reforma na linha editorial dos informativos regionais.
Em 16 de fevereiro de 2009, no dia seguinte ao fim do Horário de Verão, a Globo Recife lançou o novo formato de seu noticiário local. A bancada foi deixada de lado, houve mais investimento em entradas ao vivo na Região Metropolitana e um novo cenário. Mas se tem algo que materializa a renovação, com certeza é o “Calendário do NE1”.
“Percebemos que só a mudança de conceito não era suficiente para estabelecermos uma relação mais próxima com o telespectador. Precisávamos de algo que ele usasse e se identificasse”, explica a diretora de jornalismo da Globo Recife, Jô Mazzarolo, em entrevista ao NaTelinha. “Nada mais comum na casa de todos do que um calendário: marcamos compromissos, pagamentos, festas”, acrescenta.
A essência do quadro é simples, mas faz toda a diferença: uma equipe de reportagem vai até determinada comunidade mostrar um problema que está sendo enfrentado. Ao avisar a autoridade competente, o telejornal, junto com a população, marca uma data específica para retornar àquela localidade para ver se o impasse foi solucionado.
Nesses 10 anos, mais de 292 casos acompanhados pela emissora foram resolvidos. “O calendário é um jeito de escutar os desejos das pessoas. Ele mostra o que incomoda, o que precisa ser feito. Às vezes, os gestores pensam em obras grandiosas e muitas vezes caras, sem escutar o que os moradores precisam. O quadro dá a chance do público falar o que deve ser feito naquele local”, pontua Jô.
Na história do jornalismo local da Globo, houve outras iniciativas de proximidade, a exemplo do “SPTV Comunidade” (2005), “RJ Móvel” (2007) e a “Redação Móvel” de Brasília, em 2009. Mas o modelo recifense é, de longe, o de maior êxito – e mais viabilidade – entre as praças.
O que deu certo em um local pode ser replicado com as adaptações necessárias.
Jô Mazzarolo, Diretora de jornalismo da Globo no Recife
“O que deu certo em um local pode ser replicado com as adaptações necessárias”, opina a diretora de jornalismo. Dentre as localidades que “abraçaram” o conceito do “Calendário”, estão Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Espírito Santo, Santa Catarina e o Norte de Minas Gerais. Até o Rio de Janeiro, matriz, adotou o quadro, incorporando-o ao “RJ Móvel” de Susana Naspolini.
As mudanças do “NE1” vieram em um momento bastante crítico para a Globo no Recife. O jornal local fechou os anos de 2006, 2007 e 2008 na vice-liderança, perdendo para a TV Jornal, afiliada do SBT em Pernambuco, que exibia o programa policial “Bronca Pesada” (2005-2011; e 2015-2016), apresentado por Cardinot.
Além da audiência, de acordo com o Memória Globo, uma pesquisa indicava que, para o público, “a Globo não cobrava, não voltava, não se comprometia e nem se envolvia” com os problemas comunitários – havia reportagem, mas não era sentida de forma efetiva pelo recifense. “Em 2008, o então diretor da Central Globo de Jornalismo, Carlos Henrique Schroder (hoje diretor-geral), propôs mudarmos o conceito de fazer o telejornal”, relembra Jô Mazzarolo.
“Em dezembro de 2008 gravamos pilotos em um novo formato de apresentação e reportagem: linguagem mais simples, mais próxima e com os apresentadores em pé, conversando com as equipes de reportagem. O piloto foi aprovado e decidimos começar já em 16 de fevereiro”, discorre.
E o público respondeu à altura. Logo no primeiro ano de vigência do novo formato, a emissora reverteu o cenário de audiência. Se em 2008 o jornal fechou com 12,6 pontos, ante 14,6 da TV Jornal, em 2009 voltou à liderança, com 16,3 de média anual, contra 12,7 da afiliada do SBT.
Um ponto importante nessa mudança é que, em nenhum momento, cogitou-se pautar o jornal unicamente com reportagens de polícia. “Sempre voltamos nosso olhar para a segurança e a prestação de serviço”, afirma Jô. “Vemos a concorrência sempre com inquietação. Precisamos estar atentos, criativos e ligados todos os dias”, conclui. O “NE1” encerrou o ano de 2018 com 14,4 pontos. O SBT marcou 10,3, a Record/TV Clube teve 7,8 e a Band/Tribuna, 2,3.
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Nos primeiros anos, o jornalismo local da Globo era essencialmente feito de blocos locais de noticiários de rede, como o “Jornal Hoje”, “Jornal Nacional”, “Jornal da Globo” e o “Jornalismo Eletrônico” (1976-1978). Em 1979, principalmente com o crescimento do conceito de rede nacional, foi criado o “Jornal das Sete” na faixa noturna.
Em 1983, veio a primeira grande mudança, com a chegada do “Praça TV”. No ar até hoje, o jornal padronizou o noticiário regional. Até o fim da década de 80, eram exibidas três edições diárias da atração. O noticiário foi reduzido a uma só em 1989, apenas às 19h50, em virtude da campanha política. De 1992 em diante, passou a ser transmitido como é até hoje: na hora do almoço e à noite.
São Paulo foi escolhida em 1990 para testar um projeto de regionalização da programação. Era o “São Paulo Já”, que trazia uma linha editorial com forte presença de notícias locais e entradas ao vivo, de onde quer que fosse. Com o novo produto, o “Jornal Hoje” ficou fora do ar em terras paulistas até 1994. O experimento foi suspenso em 1996, com o retorno do “SPTV”.
As lições do “SP Já” ficaram, e em março de 1998, sob o comando de Amauri Soares (atual diretor de Programação da Globo), o “SPTV” se aproximou das comunidades paulistanas, abrindo espaço para denúncias e curiosidades, por exemplo. Para simbolizar o momento, foi lançado novos cenário e trilha sonora, além de "importar" Márcio Canuto para a capital paulista - até então ele fazia parte da TV Gazeta de Alagoas. O estilo foi repassado progressivamente a outros estados nos anos seguintes.
Em novembro de 2009, pegando carona nas mudanças do Recife, foi a vez do Rio de Janeiro ganhar um novo “RJTV”. A apresentação passou a ser feita por apenas uma pessoa e a ligação comunitária ficou ainda mais estreita. Brasília e Belo Horizonte aderiram ao conceito no ano seguinte e, por último, São Paulo adotou em 2011, com a estreia de um novo pacote gráfico.
A última grande renovação no jornalismo local foi em maio de 2017.
Além de um novo pacote gráfico, foi intensificada a interação com o público pelas redes sociais. O estilo primeiramente foi implantado em São Paulo. Chegou a Belo Horizonte em dezembro do mesmo ano, e foi adotado no Rio, Recife e Brasilia no início de 2018.
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