Soberania

Há 30 anos, Globo lançava o "Domingão do Faustão" para quebrar hegemonia de Silvio Santos

"Domingão do Faustão" estreou com uma missão clara: bater o SBT e fazer a Globo liderar aos domingos

Despojado e irreverente: Faustão domina o domingo da Globo há 30 anos - Reprodução/TV Globo
Por Thiago Forato

Publicado em 26/03/2019 às 09:31:04

"Oloco, meu!", "brincadeira, bicho", "tanto no pessoal, quanto no profissional"... Quem nunca passou o fim de tarde e início de noite de domingo assistindo ao "Domingão do Faustão", que atire a primeira pedra.

Muitos não admitem, falam mal, mas já viram o show de Fausto Corrêa da Silva na Globo, que completa 30 anos nesta terça-feira (26).

Contratado para fazer TV de um jeito descontraído e irreverente, Faustão já dizia em julho de 1988, quando foi contratado, o que faria no canal. "Estou sendo contratado como apresentador para integrar num projeto da TV Globo. Um projeto que tem muito a ver comigo", declarou ao jornal O Globo naquela ocasião.

Ele, que trabalhou na Globo em 1982 ainda no "SPTV", passou pela Rádio Excelsior, TV Gazeta, até chegar à Band e estourar com o "Perdidos na Noite" na segunda metade da década de 80, o que o credenciou para ser contratado pela Globo.

O apresentador brincava dizendo que começou numa vendinha, passou para uma mercearia, mudou-se para um supermercado e acabou indo para um shopping inteiro. Vale lembrar que Faustão assinou com a Globo na metade 1988 e continuou cumprindo seu contrato com a Band até dezembro daquele ano.

Desejo de se tornar líder incontestável aos domingos

A guerra de audiência aos domingos sempre foi mais acirrada. Naquela época, Silvio Santos ainda reinava durante mais de oito horas distribuindo prêmios e brincando com suas colegas de trabalho no SBT.

A Globo, observando isso, já queria lançar uma atração nos mesmos moldes. O próprio diretor Daniel Filho dizia que a emissora buscava um programa de variedades, descompromissado e alegre.

Na realidade, naquele ano de 1988, a Globo já tinha ousado e tirado Gugu Liberato do SBT, que estava no auge com o seu "Viva a Noite" aos sábados. Silvio Santos não hesitou em ir até o Rio de Janeiro e conversar diretamente com Roberto Marinho para romper o acordo, pagando uma multa milionária para manter o seu puplio, até devido ao problema que tinha na garganta.

A emissora sabia que só concorrendo com um programa semelhante, já que todas as outras opções foram tentadas, conseguiria finalmente vencer o SBT e fazer da liderança um fato. Dito e feito.

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O "Domingão" surgiu e Faustão caiu nas graças do telespectador, rapidamente abocanhando a liderança nas quatro horas que ia ao ar, entre 15h e 19h. Silvio chegou a ficar 11 pontos atrás de seu concorrente, e a disputa só viria a ficar mais acirrada no final daquele ano, com o efeito novidade que já tinha passado.

Projeto de longo prazo

Faustão sempre foi tratado como um projeto arrojado e longínquo. Ou seja, já estava nos planos fazer com que seu "Domingão" perdurasse por décadas no ar.

Os programas de Fausto e Silvio Santos eram de certa forma, similares. Sobretudo quadros e até mesmo as pegadinhas. Qualquer semelhança não era mera coincidência.

Gugu: a verdadeira pedra no sapato

Em 1997, Silvio Santos percebeu que não era páreo para Faustão e colocou Gugu Liberato para disputar quase na totalidade de suas atrações. A partir daí, desenhava-se o duelo mais acirrado da televisão.

O SBT debochava quando vencia. Fazia chamadas, colocava "bonequinhos" no "Domingo Legal" quando estava em primeiro lugar. E Faustão se virava como podia. Se apoiava no elenco estelar da Globo e começou a se afundar naquela que foi sua pior fase: a do "Sushi Erótico".

O quadro consistia em colocar uma modelo nua, coberta apenas por comida japonesa enquanto artistas degustavam a iguaria nipônica.

A repercussão foi negativa. Jornais, revistas e público citavam os limites pela busca da audiência e o "Domingão" era classificado como um dos campeões da baixaria. Ainda assim, não era páreo para vencer Gugu.

Entre 1997 e 2002, a disputa entre Globo e SBT nas tardes de domingo eram acirradíssimas. Em 2001, Faustão disputou com Gugu 52 vezes, vencendo apenas duas e empatando quatro. Absurdamente humilhante.

Em 2001, a emissora cogitou extinguir o "Domingão" e ser até substituído pelo "Caldeirão do Huck", fato que acabou não acontecendo.

A Globo teve persistência e venceu até pelo cansaço. Apostou. Depois de um 2001 difícil, Faustão empatou com Gugu em 2002 e em 2003 deslanchou, nunca mais perdendo a liderança na média anual, apenas raras vezes na média fechada de seu programa.

Com quadros que já se tornaram clássicos, como o "Ding Dong", "Dança dos Famosos", "Show dos Famosos", o sazonal "Arquivo Confidencial", as clássicas "Videocassetadas" e algumas outras pontuais, Fausto Silva sequer é ameaçado.

Aproveitando o elenco gigantesco da emissora que trabalha e resgatando sucessos atuais ou antigos, o "Domingão", querendo ou não, vem atravessando os últimos anos com certa soberania no horário.

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