E fracassou mesmo assim

Globo mudou tudo em novela das 7 exibida há 20 anos; árabes e ditadura saíram de cena

Começar de Novo, agora no Globoplay, era para ter sido praticamente outra novela; veja os detalhes

Marcos Paulo e Natália do Vale em Começar de Novo; nunca reprisada, novela de 2004 chegou na semana passada ao Globoplay - Foto: Divulgação/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 29/10/2024 às 06:38:00,
atualizado em 29/10/2024 às 13:52:33

Exibida pela Globo há 20 anos, Começar de Novo, que chegou na semana passada ao catálogo do Globoplay, era para ter sido praticamente outra novela. Inicialmente intitulada Romance, a trama teria a presença de árabes entre os personagens e abordaria, em uma primeira fase, o período da ditadura militar no Brasil.

Tudo isso saiu de cena antes da estreia, conforme a imprensa noticiou na época. Escrita por Antônio Calmon, a história narrava o amor entre o desmemoriado Miguel (Marcos Paulo) e Letícia (Natália do Vale), de quem ele foi separado na juventude.

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Dado como morto, mas vivendo na Rússia, Miguel retorna ao Brasil para descobrir o que aconteceu em seu passado. Ele bate de frente com a mãe de Letícia, a vilã Lucrécia Borges (Eva Wilma), que mandou matá-lo por conta de brigas por terras entre as famílias.

Em março de 2004, cinco meses antes da estreia, a Folha de S.Paulo contou que a Globo havia desistido de abordar a ditadura militar na história. A princípio, Miguel teria sido um líder estudantil de esquerda, preso e torturado, que voltaria ao Brasil depois do exílio.

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A modificação foi encomendada ao autor para que a história não batesse de frente com a primeira fase de Senhora do Destino (2004). Exibida no mesmo ano, a trama teve sua primeira fase ambientada em 1968, no auge do regime militar com a promulgação do AI-5.

O assunto também preocupava a direção da Globo, que poderia ter problemas ao exibir um conteúdo tão pesado às sete da noite. À mesma reportagem, o autor Antônio Calmon contou que precisou mudar completamente o início da novela, abandonando a ideia de ambientá-la nos anos 1970:

"Não haverá menção aos acontecimentos políticos para não ecoar na novela do Aguinaldo [Silva]. No lugar, entrará um conflito rural entre famílias de fazendeiros. E tudo surgirá aos poucos, no meio de um grande mistério, em flashbacks."

Antônio Calmon ao jornal Folha de S.Paulo em março de 2004

Cuidados não garantiram boa audiência à novela

Vladimir Brichta e Cássia Linhares em Começar de Novo - Foto: Divulgação/Globo

Mais tarde, em junho do mesmo ano, mais mudanças foram anunciadas. Em vez de Romance, a novela se chamaria Começar de Novo, título que desagradou o autor. Por decisão própria, Calmon também preferiu abrir mão de personagens árabes na história.

O protagonista deixou de ser um exilado na Argélia, onde teria poços de petróleo. Foi assim que a Rússia entrou em cena, o que agradou internamente, afinal o país era inédito em produções da emissora e grande consumidor das novelas brasileiras.

"Fiquei preocupado com o agravamento da instabilidade política internacional e os riscos de gravar no mundo árabe. (...) Não dá para ter uma novela no ar envolvendo um assunto tão polêmico e explosivo como o petróleo árabe, pois tudo pode acontecer."

Antônio Calmon à Folha de S.Paulo em junho de 2004

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Todos os cuidados não garantiram o sucesso de audiência da trama, que terminou em abril de 2005. Mesmo com alterações feitas ao longo dos capítulos a fim de agradar o telespectador, Começar de Novo saiu de cena com cerca de 30% menos público que a antecessora, Da Cor do Pecado (2004), e nunca foi reprisada.

Além de protagonista, Marcos Paulo (1951-2012) era o diretor. O elenco ainda tinha, além dos já citados, Marília Pêra (1943-2015), Luís Gustavo (1934-2021), Vladimir Brichta, Gisele Itié, Werner Schünemann, Cássia Linhares, Carlos Vereza, Carolina Ferraz, entre outros.



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