Publicado em 01/11/2020 às 05:00:00
Em 1987, Glória Perez estava descontente com a direção da Globo por causa da recusa da sinopse de Barriga de Aluguel (1990-1991) e aceitou o convite de José Wilker para escrever uma novela na TV Manchete. A autora adaptou o conto de Merimée e criou a trama de Carmem, que tinha como temática um ritual de kiumbanda, que envolve magia negra, com a pombagira cigana da estrada, assuntos que jamais seriam aceitos na Record atualmente. Além disso, a produção também debateu a questão da AIDS e a homossexualidade, que causavam polêmicas no final daquela década.
O enredo conta a vida de Carmem (Lucélia Santos), uma jovem exuberante e ambiciosa, desiludida no amor, que faz um pacto de sangue com a Pombagira cigana, com o intuito de ficar rica e acabar com a vida de Ciro (Paulo Betti), o homem que ela quer se vingar, mesmo apaixonada. O pacto funciona e a protagonista se envolve com homens poderosos, tornando-se uma mulher manipuladora, vulgar e sem escrúpulos.
Entretanto, tudo muda quando ela se apaixona por Camilo (José Wilker), um piloto de carros de corrida. Quando ela perde dinheiro e prestígio, é abandonada por todos e acaba até presa. Sem rumo, passa a se prostituir para sobreviver. No fim da trama, é assassinada por José (Paulo Gorgulho) e sua alma é salva por seres de luz, permitindo que a jovem vire uma rosa com a missão de evoluir.
Tratando de espiritismo e magia negra, a produção jamais seria aceita na Record. Atualmente, a emissora é comandada por bispos da Universal e temas que não façam parte da religião evangélica estão proibidos no canal. O canal também não aceitaria a abordagem da história de Dr. Junot (Maurice Vaneau).
No enredo, Junot é um industrial boa praça, casado, com filhos, excelente pai e um patrão que faz de tudo para seus funcionários serem felizes. Mas ele guarda um “segredo” e o público acabou se apaixonando pelo personagem. No meio da trama, descobre-se que o Dr. era gay e não houve rejeição, porque todos estavam afeiçoados por Junot.
As novelas da Record não permitem que os autores tratem a homossexualidade dentro da sua dramaturgia. Em 2009, por exemplo, Lauro César Muniz abordaria a bissexualidade entre mulheres em Poder Paralelo (2009-2010), só que a direção da emissora não autorizou.
Carmem causou muita polêmica. A abordagem da homossexualidade é um exemplo, já que o país saia de um forte período de ditadura e esse tipo de assunto era um grande tabu no país. Outro momento que fugiu do padrão da televisão brasileira foi o nudez de Lucélia Santos, que passou pela Censura da Nova República.
O Departamento de Censura e Diversões Públicas recebeu cenas dos ensaios para fazer a avaliação e deixou passar a imagem da atriz nua. Contudo, a entidade enviou uma nota reclamando da situação.
“Fomos surpreendidos com a exibição de uma cena de nudez total da atriz Lucélia Santos no cap 8 (…) cena não constante da gravação apresentada para o exame (…) extrapola o nível de programas similares levados ao ar até esta data, causando-nos perplexidade e estarrecimento. (…) Doravante, esta DCDP só aceitará gravações completas, de sorte a propiciar uma avaliação exata da matéria sujeita à censura prévia”.
No final da década de 1980, o mundo tratava a AIDS como uma “praga de gays” e a autora Glória Perez tratou do tema para acabar com alguns mitos. Rosimar (Theresa Amayo) era uma dona de casa e mãe de família, que foi infectada com o vírus HIV durante uma transfusão de sangue.
A personagem era muito querida no início pelos seus vizinhos, mas acabou sendo isolada por causa da rejeição que passou a sofrer dos amigos. Glória Perez quis mostrar como os doentes na época eram tratados por pessoas em sua volta. Houve uma forte campanha de conscientização.
Glória Perez buscava conquistar seu espaço na Globo, mas estava insatisfeita porque a sinopse de Barriga de Aluguel tinha sido engavetada pela direção do canal. Com o convite de José Wilker, transferiu-se para TV Manchete e escreveu sua única novela fora da emissora carioca.
Até então, Carmem tinha sido a segunda maior audiência da Manchete com 3,3 pontos, perdendo apenas para Dona Beija (1986), que registrou 5,7 de média. Glória guarda a produção com carinho, mas confessou no programa Por Trás da Fama, do Multishow, que um dos maiores absurdos que já escreveu foi quando uma mulher sacou o revólver e disparou seis vezes contra o marido.
O capítulo acabou ali e o público tinha certeza que o homem havia sido atingido. Porém, para surpresa de todos, a moça errou todos os seis disparos, mesmo com menos de um metro do rapaz.
Mesmo com uma audiência muito longe de incomodar a Globo, Carmem teve boa repercussão e chamou a atenção da direção do canal carioca pela maneira em que Glória abordou os temas na novela da TV Manchete. A autora retornou para sua antiga emissora e Barriga de Aluguel saiu do papel, ocupando a faixa das 18h.
Lucélia Santos trabalhou durante uma década na Globo e protagonizou muitas novelas na emissora carioca. Contudo, ela deixou o canal e se transferiu para a TV Manchete, ganhando o papel principal de Carmem. Na ocasião, Glória não ficou muito empolgada e precisou alterar a história.
“Tínhamos um grande problema de adequação ao papel principal. A Lucélia Santos, escalada para a fazer a protagonista, é uma grande atriz, mas não tem o fascínio e a exuberância de uma Vera Fischer. E Carmem é a história de uma mulher que, pelo impacto causado por sua beleza, destrói a vida dos homens à sua volta. Nesse tipo de história, o physique du rôle tem importância fundamental”, declarou em entrevista. “Mas a estrela era a Lucélia, havia que se dar um jeito”, acrescentou.
Uma das alternativas encontradas por Glória para que Carmem combinasse com a aparência de Lucélia foi a criação do pacto com a pombagira. “O ovo de Colombo foi transformar a cigana do conto original de Merimée na cigana da umbanda, porque o mágico ninguém discute. Dessa forma, a personagem fazia um pacto com a pombagira e se tornava a cigana do conto”, explicou.
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