Publicado em 18/09/2019 às 06:57:36
Antonio Calloni está gravando a novela “Éramos Seis” e participou da coletiva de imprensa em que a equipe contou um pouco mais da história da trama e de seus personagens. O ator falou da importância que o enredo terá ao trazer discussões sobre empoderamento feminino, machismo, liberdade e conquista das minorias.
Calloni dará vida a Júlio, esposo da protagonista Lola (Glória Pires) e pai de Carlos (Danilo Mesquita), Alfredo (Nicolas Prattes), Maria Isabel (Giulia Buscacio) e Julinho (André Luiz Frambach). Apesar de ter uma família unida, o personagem sofrerá de alcoolismo e ainda terá uma relação extraconjugal com Marion (Ellen Roche), uma garota de programa.
Apesar de não ficar a novela inteira, o personagem promete trazer reflexões e o próprio ator falou um pouco da complexidade de Júlio.
Uma das reflexões de Antonio é justamente o poder da democracia e o desejo das pessoas viverem num país livre, não tolerando que governos autoritários censurem artistas e prejudiquem grupos minoritários.
“Você não pode tolher a liberdade, tolher a arte, tolher todas as conquistas. Não tem como. Você, momentaneamente, pode prender as pessoas, os atores, todos os homossexuais, todas as minorias, você pode fazer isso. Mas vai passar, porque o senso de liberdade vai acontecer. Quanto mais você reprime, a liberdade vem com mais força. As conquistas vão ser pra sempre. Ninguém vai retroceder isso. Nós somos mais fortes que qualquer governo. Não só esse, mas qualquer um”, comentou o ator.
Ele garante que Júlio traz uma contrariedade para que o público pense sobre o comportamento dele. Mesmo não sendo apaixonado pela amante, a enxerga como uma amiga.
“Não, ele não se apaixona. Ele tem um caso com a Marion do Cabaré. É uma relação muito bonita com a Marion, porque além de ter com ela uma relação sexual com ela, eles têm uma relação de companheirismo e de amigo. Ele consegue desabafar tudo com ela. O que ele não consegue desabafar em casa, ele desabafa com ela. E ela tem a capacidade de entender. Ela tem uma inteligência de vida muito interessante. Mas ele não se apaixona por ela”, explicou.
“É curioso, porque na época era uma coisa muito comum esse tipo de relação. O homem ter uma amante. O homem ter suas saidinhas. A mulher fingir que estava tudo bem, fazia parte. Olha só como as coisas mudaram, apesar de, eu acho, ter mudado a nossa cabeça, em relação ao machismo, ainda o machismo está presente muito mais do que eu gostaria. Acho que está havendo uma melhora, mas ainda tem que melhorar muito. O empoderamento feminino está cada vez mais presente, ainda bem, e os homens estão tendo cada vez mais dificuldade entender isso”, acrescentou.
Uma das dificuldades de Júlio é o alcoolismo e Calloni palpitou o que leva o personagem a procurar o álcool para lidar com seus problemas internos. “É a válvula de escape dele. É onde ele consegue se desafogar desse peso, de ser o provedor, de carregar uma casa inteira, de ter que pagar a educação de quatro filhos, é muita coisa”.
“Acho que o peso de ser o provedor é uma coisa muito séria pro Júlio. Quatro filhos, de ter uma casa gigantesca que a Lola quis comprar e tem que pagar que esse financiamento, educar os quatro filhos, é um peso muito grande. Esse é outro peso que carregamos até hoje”, opinou.
Apesar de ter acreditado que o mundo mudou, o ator enxerga que é possível uma sociedade mais justa. “Precisa mudar mais. Esse peso do homem ser provedor é de um peso absurdo, porque é um peso que realmente adoece a pessoa. Se ele [Júlio] não tivesse esses problemas, talvez ele fosse um cara mais calmo”.
Mesmo vivendo num universo machista e tendo comportamentos condenáveis, Calloni avisa que Júlio faz de tudo para que seus filhos e esposa sejam felizes. “Essa contradição que é interessante no personagem. Ele é apaixonado pela Lola e pela família. Ele quer que a família seja feliz. Apesar dele querer vender a casa e abrir um negócio, ela não quer. Ele cede a esse desejo da mulher”, contou.
Othon Bastos foi quem deu vida a Júlio em 1994, na versão produzida pelo SBT. Antonio declarou que conversou com o colega de trabalho e recebeu dicas para interpretar o personagem.
“Ele foi num workshop nosso, foi muito generoso, falou muito da novela, do personagem, fiquei super agradecido a ele, como eu estava falando, não vi as versões anteriores”, declarou o artista.
Ele também demonstrou a importância de Othon e Gianfrancesco Guarnieri, interprete do marido de Lola em 1977, na versão da Tupi. “Fico agradecido demais ao Guarnieri, agradeço a Othon. São pessoas muito importantes para o nosso meio artístico”, relatou.
O global não fará toda novela, deixando a trama por volta do capítulo 50. Contudo, ele brincou com o assunto e ressaltou que terá mais tempo no ar que “O Sétimo Guardião”. “Foram 16 capítulos. Eu to avançando um pouco mais. Talvez na próxima faço inteira”, disse aos risos.
Ele também assumiu que a novela ocupa muito do seu tempo e isso o faz abrir mão de diversas coisas, como ver série, ler e viajar. “O ritmo da novela é intenso, tem muitas cenas. Mas depois a gente compensa”, falou, deixando claro qual produção deixou de acompanhar para trabalhar em “Éramos Seis”. “Deixei de ver ‘Succession’, que é simplesmente maravilhoso”, concluiu.
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