Nova polêmica

Conselho Federal de Fonoaudiologia repudia cura de gagueira com violência em "O Sétimo Guardião"

Na cena, Stefânia (Carol Duarte) deixou de ser gaga após ser enforcada por Sampaio (Marcello Novaes)

Fotos: Reprodução
Por Gabriel Vaquer

Publicado em 27/11/2018 às 12:49:31

Lançada no último dia 12, "O Sétimo Guardião" está no centro de mais uma polêmica. Nesta segunda-feira (26), o Conselho Federal de Fonoaudiologia divulgou uma nota de repúdio contra a novela de Aguinaldo Silva.

O órgão repudia uma cena exibida no capítulo do último sábado (24), quando o vilão Sampaio (Marcello Novaes) estrangulou a prostituta Stefânia (Carol Duarte) para conseguir uma informação.

Acontece que a "quenga" era gaga e, logo após o enforcamento, perdeu a gagueira por ter engolido ar. O fato surpreendeu a própria Stefânia, que custava a acreditar nesse milagre, além de Adamastor (Theodoro Chrocane) e todas as suas colegas.

A cena foi criticada pelo Conselho, em nota assinada pela presidente da entidade, a Dra. Thelma Costa, que diz que a gagueira foi tratada de forma "irresponsável" e "equivocada".

"Não se cura gagueira com susto ou violência e muito menos com agressão! Abordar o assunto desse modo, além de desrespeitoso é banalizar diversos sofrimentos, é perpetuar uma crença equivocada e nociva à sociedade", diz o documento.

Além disso, a Associação Brasileira de Gagueira também lançou, juntamente com o Conselho, uma nota sobre o caso, dizendo-se chocada com a cena e com o tratamento dado pelo autor Aguinaldo Silva.

"Quando a personagem pessoa que gagueja 'se cura' da sua gagueira a partir de uma violência, incentivamos na sociedade a ideia de que o susto e práticas violentas como a surra ou o 'bater na cabeça com colher de pau' são práticas aceitáveis", disse a associação.

Esta é mais uma da coleção de polêmicas que está envolvida "O Sétimo Guardião". Desde sua pré-produção, a novela se vê em um processo por conta de sua criação, feita por alunos de uma Master Class desenvolvida por Aguinaldo Silva.

Atualmente, sete alunos estão na Justiça para tentar receber por direitos sobre a sinopse da trama, que não vem tendo um bom desempenho de Ibope em todo o Brasil - ficou acima dos 30 pontos em apenas três regiões metropolitanas.

Procurada pelo NaTelinha, a Globo respondeu no final da tarde: "'O Sétimo Guardião' é uma obra de realismo mágico. Vale ressaltar ainda, como registramos ao final de cada capítulo, que novelas são obras de ficção sem compromisso com a realidade".

Leia a nota do Conselho Federal de Fonoaudiologia na íntegra:

"O Conselho Federal de Fonoaudiologia repudia qualquer forma de violência.

Flagramos no dia 24 de novembro uma cena da novela “O sétimo guardião” em que uma personagem 'Stefania' que apresenta gagueira, após sofrer violência por meio de estrangulamento é 'curada'. Apesar de sabermos que a obra é ficcional a cena veiculada é bastante equivocada e desrespeita, de maneira irresponsável os sujeitos que apresentam gagueira.

A gagueira é considerada pela ciência como distúrbio ou transtorno de fluência da fala, que acomete pessoas, independentemente, de raça, nível sociocultural e grau de escolaridade. Acomete em torno de 5% da população brasileira, ou seja, cerca de 10 milhões de brasileiros. Usualmente, pessoas que gaguejam apresentam dificuldade em suas relações sociais, comprometendo seu desempenho escolar e/ou profissional.

A gagueira TEM tratamento e se feito de forma competente apresenta resultados extremamente promissores, minimizando danos emocionais e sociais. Nesse sentido, afirmamos: não se cura gagueira com susto ou violência e muito menos com agressão!!. Abordar o assunto desse modo, além de desrespeitoso é banalizar diversos sofrimentos, é perpetuar uma crença equivocada e nociva à sociedade. Além disso, incitar a violência para com aqueles que apresentam algum tipo de distúrbio, deficiência, ou “diferença” é uma forma perversa de preconceito! Na verdade é uma irresponsabilidade!

Reproduzimos parte da nota oficial da Associação brasileira de Gagueira sobre o assunto: 'A sociedade brasileira carece de um correto esclarecimento a respeito da gagueira, suas causas, impactos na vida da pessoa que gagueja e, principalmente, a necessidade de uma correta avaliação, diagnóstico e tratamento fonoaudiológico especializado em Fluência. Quando a personagem pessoa que gagueja 'se cura' da sua gagueira a partir de uma violência, incentivamos na sociedade a ideia de que o susto e práticas violentas como a surra ou o 'bater na cabeça com colher de pau' são práticas aceitáveis'.

Desta forma o Conselho Federal de Fonoaudiologia repudia qualquer desrespeito e incitamento à violência para com o diferente. GAGUEIRA NÃO TEM GRAÇA, TEM TRATAMENTO!!

Dra. Thelma Costa
Presidente"

TAGS:
NOTÍCIAS RELACIONADAS
MAIS NOTÍCIAS