Publicado em 25/09/2024 às 12:16:00,
atualizado em 25/09/2024 às 12:19:52
Afastada da televisão desde 2019, quando integrou o elenco de Verão 90, da Globo, Isabelle Drummond, 30, tem focado em outras frentes, como o teatro. A atriz vai estrelar o espetáculo Tina - Respeito, no qual vai reviver a personagem que interpretou em 2021 no filme Turma da Mônica: Lições.
A peça, produzida pelo filho de Maurício de Sousa, Mauro Sousa, gira em torno das questões do machismo. Em entrevista à revista Quem, a artista aproveitou a temática do trabalho e revelou que sofreu assédio ao longo de sua carreira. "[O assédio] é um assunto que atravessa todas as mulheres e a mim particularmente muito, porque sempre fui muito independente desde cedo, queria andar sozinha, queria me descobrir", afirmou Isabelle Drummond.
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"Sempre tive esse lugar de me colocar no mundo da maneira que acredito. Obviamente, sem saber que era desafiador, mais do que viajar, falar outra língua, mas sendo mulher e se virando", explicou a atriz, que deslanchou na TV como Emília no remake do Sítio do Picapau Amarelo, em 2001.
"Fui aprendendo a lidar com muito preconceito, tipos de assédio e perseguição. Até mesmo no ambiente de trabalho, muita opressão, muito abuso de poder e a mulher tende a imprimir como se fosse mais frágil. É mais propício esse tipo de atitude com mulher do que com homem, mesmo criança, adolescente, qualquer idade, é mais propício mesmo. Isso está em todos os lugares, entranhado em nós como sociedade", relatou.
"Hoje, a gente consegue perceber mais. Mas, nos anos 2000, quando comecei a trabalhar, não se dava nome a esse tipo de comportamento. Muitas coisas foram expostas 10, 15 anos depois. É autoritarismo, abuso de poder, assédios no ambiente de trabalho", completou.
"A gente tinha medo de falar, porque as estruturas eram tão maiores do que nós e nós não tínhamos essa liberdade. A tecnologia trouxe uma voz para isso, ajudou nesse ponto da exposição, de você gravar rápido, pegar e expor uma situação, como o caso da Tina [personagem]. Acho que a gente tem mais ferramentas para se defender hoje. Esse assunto me atravessa de todos os lados", falou Isabelle Drummond.
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No papo, Isabelle Drummond falou que estava planejando retornar ao teatro. "Quando [o Mauro] falou que seria sobre assédio, sobretudo, me conectou com o projeto. Acho que o artista está sempre meio conectado e tem essa necessidade de fazer parte dos movimentos sociais, dar voz, trazer reflexão", disse. "Hoje, mais do que nunca, quero dar voz a causas que acredito, ser uma ponte, uma ferramenta, para questões sociais", comentou.
"É um momento que também quero mais. Meus projetos para o audiovisual, para cinema, que estou produzindo, são todos de mulheres. Já estava nesse movimento. Foi tudo meio que alinhando atmosfericamente", analisou.
Drummond aproveitou para revelar suas referências e citou especialmente a atriz Aracy Balabanian (1940-2023), com quem contracenou em Cheia de Charme (2012). "Uma mulher que não quis casar por escolha, para não perder liberdade. Ela sempre enfrentou essas questões, ultrapassou limites sociais da época dela. Ser atriz era uma coisa absurda, ela vinha de uma família de classe média alta, os pais não apoiavam. Achavam que era uma profissão desmerecida socialmente, até mesmo promíscua, como se fosse diminuir a pessoa dela. Não era bonito como hoje, que a gente tem uma admiração pelo artista que não se tinha na época dela", disse.
"Acho que é sobre Aracys, Nicettes [Bruno], Lauras [Cardoso], Fernandas [Montenegro]. Mas tive muita relação com Aracy como uma família. Sei que ela não se dobrou, ela é uma feminista nata", frisou, revelando que conviveu com Balabanian até o fim, em meio à luta da veterana contra um câncer de pulmão. "Sentava, ouvia as histórias e ela disse que o pai dela depois distribuiu os santinhos dela, orgulhoso dos trabalhos que ela tinha feito. Ele entendeu o que era ser atriz", afirmou.
"Impressionante como [a sociedade] não mudou. Sou uma feminista que acredito super na família. Quero me casar, ter filhos, mas não acho que essa é a única maneira de se viver. É muito difícil, porque quando você vai chegando nos 30, começam a te perguntar", refletiu. "É muito louco, quando você trabalha, tem sua empresa, seus projetos, parece que você é estranha. Você ainda é socialmente uma estranha. Como é que pode hoje a gente ainda viver isso?", questionou.
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