Babu Santana comemorou, em conversa recente com jornalistas, a oportunidade de dar vida a um frei na novela Amor Perfeito, que chega ao fim na Globo na próxima sexta-feira (22). O ator de 43 anos teve uma carreira marcada por um estereótipo: frequentemente foi chamado para fazer papéis de bandido, sinal do racismo estrutural na TV.
“Tive a chance de mostrar outra faceta, um personagem mais tranquilo, um religioso. Poder exercer essas qualidades foi muito importante, já que eu vinha sempre de personagens mais truculentos, mal-encarados. Presto serviço aqui na Globo desde 1999, e esse foi um dos papéis que mais me deu trabalho e um dos mais prazerosos”, comentou Babu Santana.
Com 25 de carreira, o artista chegou a duvidar se daria conta do recado. “‘Será que vai combinar comigo?’ É uma coisa muito louca, mas nós, como atores, independentemente da etnia, do credo, temos que estar aptos a fazer qualquer tipo de personagem.”
No fim das contas, houve mais prazer do que dificuldades na interpretação do católico. “Não vejo dificuldade em fazer o Frei Severo, a não ser colocar aquela roupa toda no verão carioca, que foi quando começamos a gravar, até este inverno fajuto (risos)”, brincou o ator na coletiva de imprensa com a presença do NaTelinha.
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“Se nós somos duas vezes melhores, devemos ganhar duas vezes mais”, diz Babu Santana
Babu Santana também celebrou a presença de atores negros no elenco de Amor Perfeito, mas ponderou: “Estamos avançando a passos lentos, mas estamos avançando. Não podemos deixar de reconhecer esse avanço, mas ainda é muito pouco. Ainda estamos no superficial, temos que entrar nas entranhas”.
Ele defendeu que a representatividade chegue às posições de poder em todas as empresas, não só na Globo. “Tem que ir para a raiz. Temos a rara felicidade de ter um diretor artístico preto”, ressaltou, referindo-se a André Câmara. “Isso é muito legal e talvez o grande diferencial da novela, mais do que o elenco.”
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Ele destacou que, em Amor Perfeito, atores negros puderam interpretar profissionais diversos, como advogados e médicos, além da figura de Jesus Cristo, vivido na trama por Jorge Florêncio. “Essas referências foram muito bem empregadas. É difícil nos colocarem nessa situação. Outra coisa muito bonita na novela é a classe média preta, que existia e é subtraída da história da nossa sociedade.”
“Raramente, vi figuras de padres pretos na dramaturgia. Parece que eles não existem”, ressaltou Babu. Em um novo projeto, o artista tem se aproximado da história do escritor Lima Barreto (1881-1922), que remonta a um apagamento das personalidades negras da nossa história. “Já tinha lido, mas nunca tinha visto a figura dele. Não sabia nem sequer que ele era preto.”
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“Não é tomar o lugar de ninguém, é conquistar os espaços que nos são de direito. O nosso povo vem se preparando e se qualificando há muito tempo. Temos que parar com essa história de ‘ser duas vezes melhor’. Se nós somos duas vezes melhores, devemos ganhar duas vezes mais.”
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