Morta aos 75 anos, Rita Lee (1947-2023) relembrou, em sua autobiografia lançada em 2016, o encontro que teve, ainda em início de carreira, com a famosa atriz Leila Diniz (1945-1972). A interação com a artista de TV, de quem era fã, marcaria para sempre a carreira da cantora, que se tornaria, anos depois, a Rainha do Rock no Brasil.
No fim da década de 1960, Rita Lee deixou São Paulo pela primeira vez e embarcou para o Rio de Janeiro, onde seria realizado o Festival Internacional da Canção – ela estava na programação com a banda Os Mutantes, que a alçou para o sucesso. Com a ajuda do diretor-geral Augusto Marzagão, ela conseguiu improvisar a roupa do show:
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“Aproveitei sua simpatia para pedir um help me liberando alguns figurinos do guarda-roupa da TV Globo para nossa apresentação "porque não tivemos tempo nem grana para comprar e porque na Record eles costumavam liberar, coisa e tal'. Me deu carta branca e lá fui eu feliz aos estúdios do Jardim Botânico.”
Por lá, Rita encontrou “uma mini Hollywood carioca”. “Perdida pelos corredores pra lá e pra cá, acabei passando em frente a uma gravação interna de O Sheik de Agadir, a novela sensação do momento e que o harém [como ela se referia à família, formada principalmente por mulheres] acompanhava religiosamente.”
A então mutante assistiu a um trecho das filmagens e viu Leila Diniz, a atriz principal da novela, “vestida de noiva e fumando sentada num pedaço de cenário lá no meio da balbúrdia dos contrarregras”. No livro, a cantora acrescenta: “Minha macaca de auditório interior não se conteve e, hipnotizada, fui até ela me declarar”.
“Antes de pagar o mico, eis que a deusa me reconhece dos festivais e pergunta o que eu fazia por lá. Contei que procurava o guarda-roupa, que estava meio tensa porque o clima do ensaio foi estranho e tal. Disse-me Leila: ‘Já notei que você gosta de se fantasiar… Hoje terminei as gravações com este vestido de noiva, não vou usar mais. Acho que te cabe, quer?’.”
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Ao levantar o vestido, Leila mostrou nos pés um par de tênis surrados. “A noiva do sheik era pré-punk!”, comentou Rita, na autobiografia. “Só não fiquei com os tênis porque eram do acervo particular dela, além de dois números menores. Ainda escolhi dois trajes a rigor para ozmano [Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, dos Mutantes].”
“Até hoje não devolvi o vestido de Leila para a TV Globo e vou negar no tribunal que ainda o tenho”, arrematou Rita. A peça foi usada por ela no Festival Internacional da Canção daquele ano e também serviu para a capa do segundo álbum de estúdio de Os Mutantes, que saiu em 1969. A vocalista foi expulsa do grupo e seguiu carreira solo no início dos anos 1970.
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