Publicado em 19/06/2020 às 05:16:16
Quem assiste Sandra Annenberg no Globo Repórter não imagina que a apresentadora é muito mais que jornalista respeitada e que teve intensa carreira como atriz antes de imergir como âncora. Além de atuar em diversas produções, inclusive em novelas, ela foi uma espécie de Laura Müller dos Anos 80, tendo um quadro sobre sexo num programa de TV e foi pioneira no Jornal Nacional.
Nascida em 1968, Sandra sempre viveu no meio da TV porque sua mãe trabalhava na Cultura e foi no canal que, em 1974, estreou como atriz num episódio de Teleteatro, programa de sucesso da época que mostrava uma história curta de um único episódio."Na minha única cena tinha um travelling de câmera e eu aparecia atrás de uma treliça, sentada num banco de piano ao lado do ator Luis Gustavo. No dia da estreia, a família toda se juntou para assistir. Todo mundo na expectativa. Mas aí...cadê a Sandra? Foi uma decepção, só aparecia a ponta da minha orelha atrás da treliça!", relembrou ela em entrevista de 2014 para a Trip.
Foi aí que ela decidiu que queria ser atriz e chegou a atuar em diversos trabalhos. Além de fazer mais de 50 comerciais, a atual âncora do Globo Repórter, esteve em novelas e programas de humor, como Bronco, de Golias, onde permaneceu por três anos com o papel de Julinha. Com duas novelas no currículo, Pacto de Sangue (1989) e Cortina de Vidro (1990), a atriz Sandra Annenberg teve até papel fixo. Um ano antes, ela lembra que foi convocada por Walter Avancini para contracenar com Edson Celulari na minissérie Chapadão do Bugre.
"Eu perdi a época de inscrição para os testes da novela; quando cheguei, já estava encerrada. Mesmo assim, deixei meu currículo com os contatos. Algumas semanas depois, recebo um telefonema: "Oi, Sandra, aqui é o Walter Avancini". Comecei a rir e falei: "Ah, vai passar trote em outra" e desliguei o telefone na cara dele. Imagina, ele era o papa da direção de dramaturgia, todo mundo queria trabalhar com ele. Aí ele ligou de novo e falou: "Olha, Sandra, não desliga. É o Walter Avancini mesmo e estou te ligando porque tive um problema com uma das atrizes e pensei em você para substituí-la". E lá fui eu de Kombi de São Paulo para São João Del Rey, em Minas Gerais. Quando cheguei lá, o Walter me perguntou: "Você já fez alguma cena nua?". Eu respondi: "Nunca fiz uma cena, quanto mais nua!", comentou rindo.
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Quem vê Laura Müller falando sobre sexo no Altas Horas da Globo jamais imaginaria que Sandra Annenberg fazia algo semelhante nos anos 80. No Crig Já, da TV Gazeta e com direção de Fernando Meirelles, Sandra aparecia no início dos Anos 80, com 14 anos, no meio da rua fazendo perguntas sobre sexo para pessoas comuns. "A gente saía e perguntava na lata aos passantes: 'Você é virgem?', 'Você gosta de se masturbar?'", relembrou em entrevista à Trip.
Sandra relembrou que isso foi muito antes do sexo ser assunto na TV. "Era o começo dos anos 80, não existia um programa na TV como o Amor & sexo. Era um grande tabu. Eu sempre fui muito a favor de desmitificar tudo: sexo, o que pode e o que não pode. E, nessa época, eu era mais cara de pau. Quando se é jovem você se lança mesmo", garantiu relembrando ainda que foi uma jovem precoce e com 18 anos decidiu sair da casa dos pais.
No início da década de 90, Annenberg virou repórter e gostou da ideia. Foi neste período que ela decidiu abandonar de vez a carreira de atriz e abraçar o jornalismo, quando já estava na Globo. Para isso, sabia que precisava estudar e decidiu prestar vestibular. A profissional estudava e trabalhava ao mesmo tempo porque queria crescer na área.
No começo como profissional, no entanto, Sandra não teve tamanha liberdade e sofria com assuntos mais leves. "Eu me lembro de quando eu fazia o São Paulo Já, antecessor do SP TV. Era apresentado pelo Carlos Nascimento, pelo Rodolpho Gamberini e por mim. Mas a mim só cabiam os assuntos leves: comportamento, moda, culinária, essas coisas. Aos poucos, eu falei: "Gente, eu posso falar de outra coisa. Estou me tornando jornalista para isso", contou.
E não é à toa que ela se tornou pioneira no Jornal Nacional. Chamada para ser garota do tempo do São Paulo Já, rapidamente ela assumiu o mesmo cargo no JN e foi a primeira mulher da TV brasileira a ter um quadro fixo no principal jornal do país. "Há 23 anos, o Jornal Nacional era apresentado pelo Cid Moreira e pelo Sérgio Chapelin. Mulher era só na reportagem e, mesmo assim, eram poucas. Tinha a Sandra Passarinho, a Sandra Moreira, a Neide Duarte, mas elas não apareciam sempre. Eu fui a primeira mulher a entrar todos os dias no Jornal Nacional, como a "moça do tempo", afirmou orgulhosa em entrevista de 2014.
Foi graças a este trabalho que a carreira de Sandra deslanchou e ela assumiu diversas funções na Globo, como correspondente internacional, além de apresentar o Jornal da Globo e até o Fantástico ao lado de Fátima Bernardes. Mas Sandra ficou conhecida mesmo por ancorar o Jornal Hoje entre 2003 e 2019, até trocar o programa para assumir o comando do Globo Repórter ao lado de Glória Maria.
A jornalista é muito discreta em sua vida pessoal, pois prefere falar da profissão. Ela é casada com Ernesto Paglia, também jornalista da Globo. Os dois estão juntos desde 1994 e ela demonstra que ainda são muito ligados, mesmo com mais de 25 anos juntos. "Acho que foi recíproco. A gente se conheceu e se apaixonou. Até hoje temos um casamento de muita paixão e respeito. Eu morro de saudades quando ele viaja, e ele viaja muito, agora mesmo está em Curaçao a trabalho", contou.
Mãe de Eliza, sua única filha, Sandra é uma mãezona e diz que faz tudo pela herdeira. Sem pensar em ter mais filhos, ela e Ernesto costumam brincar que ela é a cara do pai, mas bonita. Em entrevista a Trip, Sandra contou da relação com a menina. "E ela tem uma rapidez de raciocínio muito grande. A gente fala uma coisa e ela tem as respostas na ponta da língua. É muito surpreendente e um desafio também, porque educar alguém assim não é fácil, alguém que contesta e argumenta. Mas, afinal, é isso o que a gente quer: colocar gente no mundo que seja argumentativa. Aos 11 anos ela diz que quer ser atriz, vamos ver", disse à época.
A profecia parece ter virado verdade, já que em participação da jornalista no Ding Dong do Faustão, em 2020, ao lado da filha, Sandra confirmou o desejo e Elisa afirmou que já faz até aulas de teatro. "Eu faço teatro há quase 7 anos. É uma paixão que a gente sente quando sobe no palco e dá uma coisinha, sabe?", disse a menina para o orgulho da mãe coruja.
Agora, a menina já está estudando na Universidade de Nova York voltado para a área de interpretação. Ela se mudaria para os EUA neste ano, mas teve interromper o plano por causa da pandemia do coronavírus. "Fazemos ligações de vídeo. Cada aluno tem seu próprio momento de atuar, como faria na sala. A gente também atua diante dos nossos telefones e grava, para depois rever o trabalho e analisar o progresso. É bem interessante. Dá para fazer não só monólogos, mas contracenar com os outros. Tem sido diferente, mas está dando certo. Apesar de amar o palco, sempre quis estar na frente das câmeras. Por isso, quero desenvolver essa técnica para não ficar despreparada em nenhuma das áreas", contou ela em entrevista à jornalista Patrícia Kogut
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