Publicado em 28/04/2017 às 07:30:40
Pesquisador da história de Silvio Santos há 15 anos, o jornalista Fernando Morgado decidiu escrever o livro "A Trajetória do Mito", embasado em mais de 360 falas ditas na mídia pelo animador e empresário desde 1950. "Mesmo aqueles que conhecem os principais lances da vida do Silvio se surpreenderão com as várias contradições que as suas falas revelam", explica o autor em entrevista exclusiva a esta coluna do NaTelinha.
Fernando Morgado conta que não teve nenhum encontro com o dono do SBT e escreveu a obra com total sigilo até o dia 17 de abril. "A secretária dele ligou para a Matrix dizendo que ele gostaria de comprar um exemplar. O editor Paulo Tadeu, claro, lhe enviou um de presente. No dia seguinte, começaram a entrar as chamadas na programação do SBT. Ou seja, nós dois fomos surpreendidos: ele, pela existência do livro, e eu, pela divulgação maciça na televisão", confessou.
Questionado sobre como ficou para ele a imagem de Silvio Santos após escrever o livro, o jornalista respondeu que ficou ainda mais nítida a ideia de que Silvio Santos só conseguiu o sucesso por três características: o olhar aguçado para o negócio, ritmo forte de trabalho e uma enorme autoconfiança.
“Silvio Santos - A Trajetória do Mito” já pode ser comprado pela internet e é uma publicação da editora Matrix. "De tão inusitado, ele desperta surpresa e admiração em muitos. E essa admiração é o que leva tantos brasileiros a sempre perdoá-lo mesmo quando erra a mão. Entre os animadores da televisão mundial, não há outro que se compare a ele em termos quantitativos. Ele é, de fato, um mito", exalta Fernando Morgado.
Confira a entrevista completa:
Como surgiu a iniciativa de escrever a história de Silvio Santos?
Fernando Morgado - Nas palestras que ministro no Brasil e no exterior, cito muito o Silvio como exemplo de vendedor e empreendedor. Há quinze anos pesquiso a trajetória dele. Portanto, eu tinha o desejo de escrever um livro sobre Silvio Santos há muito tempo, mas sempre tive consciência de que, quando escrevesse, teria que fazer algo diferente de tudo que já foi lançado sobre ele. Tive a experiência de escrever o livro biográfico de outro grande apresentador, "Blota Jr.: A Elegância no Ar", também pela Matrix, e buscava algo novo. Então, quando finalmente o editor Paulo Tadeu e eu encontramos a estrutura adequada, que combina as minhas análises com as declarações do Silvio, o livro nasceu.
Silvio Santos fez algum pedido para autorizar a publicação de "A Trajetória do Mito"?
Fernando Morgado - Apesar dos anúncios no SBT sugerirem o contrário, Silvio Santos e eu ainda não nos conhecemos pessoalmente. Escrevi sob o mais absoluto sigilo. O Silvio não teve acesso prévio aos originais, não emitiu nenhum tipo de autorização e só ficou sabendo da existência da obra quando ela já estava impressa e começando a ser vendida. No dia 17 de abril, a secretária dele ligou para a Matrix dizendo que ele gostaria de comprar um exemplar. O editor Paulo Tadeu, claro, lhe enviou um de presente. No dia seguinte, começaram a entrar as chamadas na programação do SBT. Ou seja, nós dois fomos surpreendidos: ele, pela existência do livro, e eu, pela divulgação maciça na televisão.
Qual é a passagem do livro que, na sua opinião, deve surpreender o público?
Fernando Morgado - Mesmo aqueles que conhecem os principais lances da vida do Silvio se surpreenderão com as várias contradições que as suas falas revelam. Como exemplo, cito a visão dele sobre jornalismo. Apesar de já ter dito diversas vezes que, para ele, jornalista não deve investigar ou opinar, e sim apenas relatar os fatos, o SBT produziu alguns dos informativos mais fortes da TV brasileira, como "TJ Brasil", "Aqui Agora", "Documento Especial" e "Conexão Repórter", por exemplo. O livro também traz curiosidades, como a primeira crítica que Silvio recebeu da imprensa e a resposta que ele, assinando como Senor Abravanel, enviou para o jornal!
Em 2000, Arlindo Silva escreveu "A Fantástica História de Silvio Santos". Qual a principal diferença desta publicação para "A Trajetória do Mito"?
Fernando Morgado - Gostaria de destacar duas grandes diferenças. A primeira é o formato. Enquanto o Arlindo optou por uma narrativa cronológica, linear, indo da infância ao SBT, eu divido a história em cinco partes. Cada uma delas foca em uma faceta do Silvio: o empresário, o artista, o dono do SBT - que é um negócio completamente diferente dos demais -, o político e o homem comum.
Essas partes são compostas por textos meus e embasadas por mais de 360 falas do Silvio registradas na mídia desde os anos 1950. Assim, consegui construir um livro que, de certa forma, mistura biografia com autobiografia, pois tudo é fundamentado pelas palavras do próprio Silvio Santos. Outra diferença está no fato de eu não ter nenhuma relação pessoal com o Silvio, ao contrário do Arlindo, que foi um grande amigo dele, além de ter sido seu relações públicas e primeiro diretor de jornalismo do SBT.
Silvio Santos é um dos artistas mais admirados do Brasil. Depois de escrever o livro, como ficou a imagem de Silvio Santos para você?
Fernando Morgado - Para mim, ficou ainda mais nítida a ideia de que Silvio Santos só conseguiu chegar ao patamar que chegou graças a três características fundamentais: a primeira, um olhar aguçado para os negócios, que consegue aproveitar graças ao seu enorme poder de comunicação; a segunda, um ritmo intenso de trabalho, que o levou, inclusive, a sacrificar sua vida pessoal; a terceira, uma enorme autoconfiança, manifestada na pouca importância que demonstra dar para a opinião de quem está ao seu redor. Silvio Santos sempre se enxergou como um produto que deve ser visto na TV de forma clara, ostensiva e diferente de qualquer outro artista. De tão inusitado, ele desperta surpresa e admiração em muitos. E essa admiração é o que leva tantos brasileiros a sempre perdoá-lo mesmo quando erra a mão. Entre os animadores da televisão mundial, não há outro que se compare a ele em termos quantitativos. Ele é, de fato, um mito.
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Fernando Morgado gentilmente selecionou quatro frases contidas no livro especialmente para os leitores do NaTelinha:
- "Eu acho formidável fazer programa de televisão, mas faço e farei enquanto isso der resultado financeiro" (A Crítica, 1969)
- "Eu me lembro que quando ganhei os canais de televisão, disseram pra mim: 'Olha, Silvio Santos, se você aceitar os canais de televisão, vai ter tantos problemas que ficará na miséria, será um homem falido'. Já se passaram oito anos e eu nem estou na miséria, nem sou um homem falido" (SBT, 22 de outubro de 1989)
- "Eu sou concessionário, um office boy de luxo do governo. Faço aquilo que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime" (Folha de S. Paulo, 21 de fevereiro de 1988)
- "O esforço e a tenacidade valem tudo na vida. Se eu tivesse me acomodado, certamente, ainda seria hoje um simples camelô nas ruas" (Revista do Rádio, 23 de outubro de 1965)
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