Entrevista exclusiva

Geraldo Luís: “Alguém precisa me enxergar na televisão”

Apresentador conversou com o NaTelinha com exclusividade

Geraldo Luís quer voltar à TV - Foto: Divulgação/SBT
Por Drika Oliveira

Publicado em 03/07/2023 às 07:30:00,
atualizado em 03/07/2023 às 09:36:47

Após 16 anos, Geraldo Luís deixou a Record no fim de maio e quer voltar logo à televisão. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, o apresentador que é conhecido por ser um contador de histórias diz que não guarda mágoas da antiga emissora e que vem fazendo orações para que volte a ser o "Geraldo do Brasil".

“Que a minha voz volte a ajudar as pessoas. Alguém precisa me enxergar na televisão”, brada Geraldo, que afirma que a TV precisa voltar a colocar o povo na tela. O apresentador ainda conta os bastidores da sua saída da Record, como Silvio Santos tentou contratá-lo e quando percebeu que precisava fazer um acordo para deixar o canal de Edir Macedo.

"Tem gente que vira um demônio depois que a ex-esposa vai embora ou que o ex-marido vai embora e só fala dos dois meses finais. O restante que eu limpei sua bunda, e que você limpou minha bunda não valeu e apaga? Quando você me levantou? Então, eu quero pegar esse lado bom do Domingo Show e do Balanço Geral que estruturou o jornalismo", diz o apresentador, que busca retornar à TV.

Esta é a segunda parte de um bate-papo com Geraldo Luís durante mais de uma hora, por telefone. Veja a primeira aqui.

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Confira a entrevista exclusiva com Geraldo Luís 

Você acha que ficou tudo muito engessado e enlatado na televisão? Cópia da cópia?

Geraldo Luís - Enlatado, é, cópia da cópia. Se existisse máquina de xerox hoje, para ideia de televisão, a máquina tinha fundido. Estaria quebrada. Ela falaria assim: “Não aguento mais, gente. Vocês podem voltar a ter criatividade?”.

Hoje, se eu falar assim com o produtor ou diretor: ‘Seguinte equipe: A gente precisa botar um programa no ar daqui a um mês, vamos pensar e criar’. Dessa equipe, metade não vai conseguir entregar para você. Porque esses formadores de redação não sabem, não querem criar... Hoje, você tem que ver cada texto que as pessoas escrevem... Não existe mais roteirista. Está uma pobreza, um empobrecimento.

Mas isso também é culpa das emissoras de TV que querem contratar apenas recém-formados, estagiários para pagar menos.

Geraldo Luís - Exatamente. Recém-formados, só botar enlatado, não botar gente profissional para trabalhar. Não se permitem mais criar e fazer um programa. Alguém perguntou pro povo hoje que programa eles gostariam de ver, gente? Não, né?

O Gugu (Liberato) ficava muito atento a isso. O Silvio (Santos) fazia programas pro povo, ele fazia televisão pro povo, não para ele. As pessoas gostavam disso.

Você é fã do Silvio Santos?

Geraldo Luís - Toda a minha vida melhorou na Record quatro vezes por causa dele. Quando me tiraram do ar propositalmente.

O Silvio Santos tem uma coisa que os dirigentes da televisão teriam que ter, que é generosidade. A primeira vez, quando eu explodi no Balanço Geral, ele me chamou e a Record melhorou o meu salário. Depois, quando me tiraram do ar na época em que eu errei... Eu assumi isso aí... Na época do impeachment da Dilma... Essa minha intensidade (risos)

Eu não lembro disso... Qual foi esse caso?

Geraldo Luís - Nada... Eu estava no ar e aí cortaram a minha matéria por causa do impeachment da Dilma. Lembra do impeachment da Dilma? E aí cortaram minha matéria e eu fiquei P da vida e falei : ‘Olha, dê o respeito comigo. Eu gosto tanto dessa casa, não cortem minha matéria’. E aí o Douglas (Tavolaro) passou a foice em mim no outro domingo. Me tirou do ar. Eu fiquei 3 meses fora do Domingo Show.

Foi por isso que você ficou três meses fora do ar?

Geraldo Luís - No Domingo show foi... Foi o primeiro...E eu errei...Foi falta de inteligência emocional minha mesmo. Eu assumo.

Você então deu um piti, né?  Você deu um pitizão...

Geraldo Luís - (Risos) Eu fiquei puto... Escuta... Eu já falei pra você... Eu tenho essa veia meio de Flávio Cavalcanti, de intensidade, não adianta.

Que signo você é?

Geraldo Luís - Touro, olha que merda!! Touro é foda. Ou eu te gosto para caralho, vamos juntos, ou vai tomar no cu, né? (risos).

Geraldo, verdade, touro é tipo muito ranzinza mesmo (risos).

Geraldo Luís - Drika, Não vem enganar a gente, né? Não dá. Não vem. Não dá.

Conta mais sobre o Silvio Santos.

Geraldo Luís - O Silvio me chamou na época na casa dele e falou: "Olha, mas o que você fez? Por que está fora do ar?”. Olha que generosidade, olha que doce, Drika!

E continuou: "Espera um pouquinho". Ele ligou para uma pessoa que assistiu o programa e falou: “Você não fez nada demais não. Como está a sua situação lá? Como é que está seu contrato?".

E o Silvio nunca quebrou o contrato... Depois de certo tempo ele não quebrava mais contrato, nem multa, mas só em me encontrar e se preocupar, ele me ajudou. E aí depois, ficaram sabendo lá na Record e duas semanas depois eu voltei para o ar. Graças a Deus.

Você vazou isso para Record ficar sabendo?

Geraldo Luís - Não. Eu nunca ia fazer isso. Eu desafio qualquer jornalista. Eu nunca precisei jogar com um jornalista para que ele falasse bem de mim. O meu trabalho vai ser o reflexo para vocês para saberem se é de verdade. Ninguém precisa enganar vocês. Vocês sabem quem trabalha na televisão, quem é de verdade na televisão, quem é de mentira na televisão. Vocês sabem. Eu nunca fiz isso.

Você tem toda razão, os jornalistas sabem mesmo.

Geraldo Luís - Pois é. Depois disso, me trouxeram de volta em questão de dia. Nossa, o Silvio só me ajudou. Ele sempre esteve presente. O Silvio me deu sapatos de presente nos finais do ano e me mandava os bilhetinhos.

Ai, conta essa história do sapato, como é que é? Ele te deu presente do nada assim?

Geraldo Luís - Ele me deu. Me mandou um sapato lindo, bilhetes escritos e tal. Sempre um carinho com a gente. E te pergunto: Precisava? Não, mas é o Silvio Santos.

Mas é um gesto bonito né? É um gesto bacana. Silvio Santos sempre foi especial mesmo.

Geraldo Luís - Muito especial, Drika. É o mesmo Silvio Santos que quando eu fui gravar com o Carlos Nascimento, me contou que quando estava doente com câncer, recebeu uma carta do Silvio dizendo mais ou menos assim: ‘Eu fiquei sabendo que você está com câncer. Se trate e fique tranquilo. Seu contrato está da mesma forma e vai se renovar’.

Pô, Sílvio Santos... Esse cuidado, esse amor. Então, eu tenho uma gratidão pela melhoria que o Silvio deu na minha vida e pela forma com que ele me enxergou.

Silvio Santos é unanimidade no Brasil, não tem jeito. Mas como você ficou na Record?

Geraldo Luís - Eu apresentei até no final do ano passado uns cinco projetos para Record. Eu pedi: "Me deixa eu fazer um talk show". E falaram: "Não, não dá".

Pedi: "Deixa eu voltar com o Domingo Show, mas não precisa de uma plateia porque pode encarecer. De repente a gente volta sem plateia. Eu resolvo na rua mesmo... Vou lá... Conto a história... Onde nasce a história...Eu já resolvo lá". Falaram que não teria orçamento para isso.

E aí? Ninguém se interessou?

Geraldo Luís - Não. E levei vários outros projetos. Me falaram para continuar no sábado, mas eu queria mais. Eu tinha o desejo e a esperança que o Domingo Show voltasse.

Eu falei: "Sábado, vamos fazer um sabadão da saudade, um sábado da alegria". Aí eu escrevi quadros para esse sabadão e apresentei o projeto também, nada. Eu quero novos rumos, preciso trabalhar e quero voltar a gravar. Quero voltar a ser o Geraldo do Brasil. Quero voltar à televisão. Mas não sei se a televisão vai querer a minha ousadia. Eu não sei se a televisão vai querer um apresentador que vai para a rua né? Botar o povo no ar.

Eu te pergunto, agora: A televisão de hoje vai querer isso? Se a TV quiser esse profissional popular, com essa verdade, eu vou estar sempre presente.

Você está negociando com a Red TV!? Isso é verdade ou isso é boato?

Geraldo Luís - Você sabe que o corredor é muito estreito. A partir do momento que as pessoas ficaram sabendo que eu realmente não estava mais na Record, abriram possibilidades da conversar com todo mundo e acabam rolando notícias. Negociando não, mas estou vendo possibilidades. Eu espero voltar logo pro ar, de verdade.

Quando você entendeu que o Geraldo Luís já não era prioridade na Record? Quando você começou a apresentar esses projetos e eles se negaram? Foi mais ou menos aí?

Geraldo Luís - Não. Porque quem quer a mesma coisa faz acontecer. Se eu quero você e se você me quer, pronto,acabou, vamos fazer acontecer. Acho que já não tinham realmente mais o interesse em mim.

Mas quando exatamente você entendeu isso? Faz muito tempo?

Geraldo Luís - Isso tem cerca de uns quatro meses. Porque quando eu já não conseguia mais gravar, tiraram minha produção, tiraram câmera e tiraram produtor. Aí eu não conseguia nem fazer mais o Gvisita, um quadro que eu criei que dava muita audiência. Foi no Gvisita que eu gravei com o Carlos Nascimento.

O dom que Deus me deu é transformar pedra em diamante, transformar em histórias boas. Se eu pegar na mão uma pedra fosca e você me contar uma história, vira diamante. O eu fazia era coisa simples. Não era a invenção da roda na televisão.

Você levou a simplicidade para tela da televisão.

Geraldo Luís - É, mas eu pegava coisa simples, pegava o pessoal das antigas. Botava o Silvio Brito no ar, e olha que delícia, contava a história de jovem guarda...

Quando eu comecei a nem conseguir gravar mais o Gvisita, saquei. Eu não sou um cara de estúdio. O meu negócio é rua, é produzir e ver que as minhas ideias sejam ouvidas e discutidas. Quando eu vi que eu não conseguia nem mais gravar, foi me tirado isso, até gravação de rua não podia mais fazer mais nada. Eu juro, eu não entendi nada e quando veio depois a ordem para  gravar de madrugada fiquei ainda mais surpreso, sem entender. Não havia feito nada de errado.

Aí, nessa hora você falou: ‘acabou’, né?

Geraldo Luís - Não, não, eu ainda pensei: ‘Pra quê?’. Não estou entendendo isso, porque se tivesse tido alguma briga, alguma desavença eu falaria, assumiria. Mas não aconteceu.

Eu te falaria se tivesse tido uma situação lá desagradável, uma briga séria ou se alguém tivesse passado dos limites comigo ou eu mesmo passado,mas não, não teve essa situação, não teve nada. Quando chegou a ordem de madrugada, aí foi uma questão de saúde, foi uma questão onde eu fiquei profundamente abalado, sem entender nada mesmo.

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E mesmo assim eu cumpri três semanas. Acordando 1h30 da manhã. Eu respeitei a empresa e fui lá e fiz. Minha diabetes descontrolou, minha saúde ficou horrível. Aí eu falei: não, chega disso. Preciso trabalhar, preciso voltar ao ser o Geraldo, alguém vai me enxergar.

Alguém vai me enxergar. É impossível que quem trabalhe com quem tenha tantas ideias assim, não vai ser visto. Alguém de televisão vai me enxergar. Alguém que entende de televisão me enxergue e que você torça por mim.

As pessoas ficaram chocadas, sem saber o que estava acontecendo com você. Você sabe disso, você leu na mídia?

Geraldo Luís - Eu sofri muito. Por não entender. Foi muita covardia, você não precisa destratar, não entendi.

Você não considera isso como um grande desmerecimento? Me pareceu.

Geraldo Luís - Foi um golpe tão duro, né? Tão nojento, que não é nem desmerecimento.  Mas isso me acordou. E olha, hoje eu agradeço.

Tem mágoas da Record?

Geraldo Luís - Eu agradeço aos 16 anos que estive na emissora. Nisso eu não vou ser ingrato, não vou brigar com a empresa. São 16 anos que eles me deram a chance de ser o Geraldo Luís. Isso eu vou levar comigo. Eu não sou desse tipo de funcionário ingrato.

Tem gente que vira um demônio depois que a ex-esposa vai embora ou que o ex-marido vai embora e só fala dos dois meses finais. O restante que eu limpei sua bunda, e que você limpou minha bunda ,não valeu e apaga? Quando você me levantou? Então eu quero pegar esse lado bom do Domingo Show e do Balanço Geral que estruturou o jornalismo.

Mas eu tenho orgulho em dizer que eu e o Virgílio Abranches estruturamos o jornalismo da emissora. Com tudo que é o Balanço Geral, depois que foi o Balanço Rio, o Balanço Espírito Santo, Balanço Geral Manaus, Balanço Geral de uma série de coisas, né?

O Balanço sempre foi um sucesso!Todo mundo sabre disso.

Geraldo Luís - O Balanço foi à grande célula que deu certo para o jornalismo e que mostrou que tinha que ser jornalismo popular, que o Douglas não tinha vergonha do popular. Ele bancou isso. Ele permitiu que a gente fizesse.

Você fala com eterna gratidão e carinho do Douglas Tavolaro, né?

Geraldo Luís - Eu tenho eterna gratidão mesmo, eu agradeço demais. O cara me achou. Ele viu o meu talento em um programa chamado A hora da Verdade, lá em Limeira, numa TV local, a TV Jornal. E ele viu a fita lá. Ele tinha essa visão ampla de ficar procurando talento porque na época ele queria também fazer o nome, e a Record aceitou esse popular. Ela teve a coragem de pegar um cara de rádio e botar na tela.

E como ele chegou até você?

Geraldo Luís - Por indicação de um amigo dele. O Douglas assistiu a uma fita do meu programa que era campeão de audiência. Ele achou que eu era um misto de Datena com Alborghetti (apresentador e repórter policial do Paraná).

Eu assinei o contrato em novembro de 2007, dia 11 de novembro eu estreei no Balanço Geral, dia 12 minha mãe morreu. Para mim foi um baque. Então, foi assim. Eu trabalhei a vida inteira porque eu queria chegar a nível Nacional. E aí cheguei, e eu sou filho único, sou eu e ela. E foi isso.

Drika, eu quero fazer um monte pela televisão ainda. Eu quero ser útil, quero provar que a televisão, que ela precisa voltar a fazer o que ela nasceu para fazer.

E eu torço muito para que você consiga fazer tudo isso, pois faltam comunicadores na televisão. Agora, você elogiou muito o Silvio Santos. Você acha que tem uma chance de você ir para o SBT?

Geraldo Luís - Quem é que não quer ir para o SBT? Quem é que não quer? Todo mundo fala bem do SBT. Nunca ouvi ninguém falar mal dessa casa.

Mesmo ele roubando seus produtores naquela época? (risos)

Geraldo Luís - Mesmo assim. Porque isso faz parte. Silvio Santos é genial. Mas ele roubou e depois eu fiquei ainda melhor. Porque que eu perdi os meus melhores, tive que me virar sozinho e ficar ainda melhor para me superar. E não adiantou porque mesmo sem a equipe, o Domingo Show continuou ganhando dele na época. Será que ele vai ler isso? (risos)

Drika, eu também quero voltar a fazer rádio. Eu tenho esse imenso desejo de fazer rádio. Eu preciso levar minha voz pra todos esses rincões do Brasil. O que eu venho pedindo para Deus, nos últimos tempos, nas minhas orações, é que eu volte a ser o Geraldo do Brasil. Que a minha voz volte a ajudar as pessoas. Alguém precisa me enxergar na televisão.

Vai ajudar, a gente torce muito.



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