Âncora

William Bonner relata que não pegava avião por medo e lamenta golpe em nome do filho

Jornalista também falou sobre a cobertura que tem feito sobre o novo coronavírus


Pedro Bial e William Bonner
Pedro Bial e William Bonner em entrevista nesta quarta-feira (27) - Reprodução/TV Globo

William Bonner, âncora do principal telejornal do país, concedeu uma rara entrevista ao programa Conversa com Bial, exibida na madrugada desta quarta-feira (27) na Globo e falou sobre a cobertura que tem feito sobre o novo coronavírus, perseguições políticas e disse que está em isolamento social há dois anos, desde as eleições presidenciais de 2018.

Pedro Bial questionou o amigo e jornalista como ele tem feito para transmitir as notícias diariamente sobre os casos crescentes da Covid-19. "Nós temos que buscar uma forma de nos expressarmos que permita essa empatia. Se falarmos como robôs, não tem empatia. Se falarmos como atores melodramáticos, caímos no ridículo", iniciou Bonner, reiterando que tem tentado encontrar equilíbrio e um novo tom.

"Até hoje busco esse tom. Na cobertura do coronavírus, estou encontrando um tom diferente de quatro meses atrás. E a diferença está em pausas. Estou me permitindo respirar. Não que não respirasse antes, mas agora estou respirando na minha pausa de respirar. Porque qualquer pessoa que estivesse se dirigisse à outra, e Renata tem falado, qualquer pessoa precisaria de uma pausa para respirar", reconheceu.

Golpes e perseguição política

William Bonner relata que não pegava avião por medo e lamenta golpe em nome do filho

O jornalista recentemente viu seu filho Vinícius como vítima de golpe por uso indevido no CPF. Criminosos tentaram cadastrá-lo na lista de beneficiários do auxílio emergencial, que tem pago R$ 600 às pessoas em três parcelas. "Coisas estranhas aconteceram. A imprensa deu muita visibilidade a isso, o que foi bom. Mas aí circularam ainda pela internet vídeos que o acusavam efetivamente de ter feito o pedido e recebido. E cobravam isso do pai e da mãe. Tinha um sujeito chamando meu filho de cafajeste. Transbordava ódio", lamentou.

Bonner revelou ainda que precisou contratar um grupo de advogados para cuidarem somente de uma coisa: encerrar as empresas abertas no nome do filho. E fez uma reflexão acerca disso, sem citar o nome de ninguém.

"Quem, em meio a uma pandemia, com milhares de mortes, centenas de milhares de pessoas doentes, teria essa ideia do nada. 'Ah, vou fazer o seguinte, não tô fazendo nada... Vou entrar no site do Ministério da Cidadania ou do Dataprev, e vou verificar se o filho do William Bonner tentou se inscrever para receber os R$ 600 da ajuda que o governo destina para os que perderam renda. É o tempo que estamos vivendo hoje", declarou.

Em 2016, Bonner relatou que vivia períodos difíceis. Seu pai estava doente e todos os finais de semana, até sua morte, teve que ir a São Paulo de carro, pelo medo de ir de avião, pois segundo o jornalista, já era um tempo de muita hostilidade e risco para ele devido ao conteúdo político do Jornal Nacional, que dividia opiniões.

Ele encerrou a entrevista dizendo que tem que ter gratidão pelo carinho do público. "Isso é pra vida. Por isso hoje quando alguém chega com um celular e diz 'posso te incomodar?'. Não incomoda de jeito nenhum", sorriu.

Polarização

Por ser o principal jornalista do Brasil, ele reconhece que a melhor maneira de se proteger é ficando o máximo possível em casa. “Eu tenho consciência que sou um símbolo. O que pra nós foi o Cid Moreira, nosso querido Cid Moreira, eu sou hoje pra alguns tantos milhões de brasileiros”, começou. “Eu sou o JN pra essas pessoas. E se eu sou o JN, eu sou o jornalismo da Globo. Eu sou a Globo, eu sou o jornalismo, eu sou a mídia, eu simbolizo muitas coisas pra muitas pessoas que não me conhecem”, continuou.

“A polarização chegou a um ponto em que minha presença em determinados locais públicos era motivadora de tensões. Quando eu percebi isso, percebi isso de maneira ruim, dentro de farmácia. Fui agredido verbalmente, insultado, desafiado”, explicou o jornalista.

Ataques

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Ele contou um dos episódios em que foi tomar café da manhã em uma padaria e uma mulher bêbada resolveu enfrentá-lo, deixando-o constrangido. “Ela se viu no direito não somente de me insultar em público e aos brados, ela fazia a 1,5 m de distância do meu rosto”, comentou.

“E eu não posso reagir a isso, apenas falava: 'Não faça isso'. E as pessoas ao redor num constrangimento atroz. E eu querendo me livrar de um insulto. Me sinto culpado de ser insultado na frente das outras pessoas e estragar o dia das outras pessoas. Elas estão tomando um café, comendo um pão na chapa”, acrescentou.

Bonner explicou que, desde 2018, ele vem em uma espécie de “isolamento social. “As minhas bochechas mostram que a minha quarentena não começou há dois meses. Minha quarentena começou no ano eleitoral de 2018”, declarou. “Tem gente hoje me aplaudindo que estava há dois, três anos, me xingando. E, tem pessoas que hoje estão me xingando que há dois ou três anos batiam palmas”, ressaltou.

Bial relembrou um momento em que eles foram recebidos com muito carinho em um local público e questionou se um dia será possível ver jornalistas sendo ovacionados pelas pessoas.

“Acho que não. Hoje, infelizmente, seria impossível isso, porque hoje você teria grupos para hostilizar a simples presença de uma câmera de televisão, da imprensa. Você poderia ser agredido fisicamente. Os tempos ficaram realmente diferentes e não melhoraram”, opinou Bonner.

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