Ator de No Rancho Fundo recorda polêmica com núcleo pobre nordestino: "Preconceituosa"
Guthierry Sotero fala sobre sucesso da novela, protagonismo preto e suas raízes africanas
Publicado em 28/05/2024 às 05:00,
atualizado em 28/05/2024 às 17:38
No ar como o Nastácio de No Rancho Fundo, Guthierry Sotero falou com exclusividade ao NaTelinha sobre a polêmica que surgiu a respeito da caracterização do núcleo pobre nordestino antes mesmo de a novela estrear.
"O ator e colega de elenco, Haroldo Preto, parafraseou muito bem durante uma coletiva que tivemos de que isso partia de uma ideia não vista e preconceituosa justamente do jornalista que criticou, por achar os nordestinos [núcleo da família do Haroldo é majoritariamente preto] feio e sujo", disparou.
O motivo da discussão teria sido a tonalidade da pele de personagens como Zefa Leonel (Andrea Beltrão), Tico Leonel (Alexandre Nero) e Tia Salete (Mariana Lima), levantando dúvidas se eram queimados de sol ou sujos. Os internautas reagiram, o que para o ator é um ótimo sinal.
"O público é esperto e já entendeu que quer se ver em todos os lugares e tendo uma vida normal seja na cidade ou no interior. É lindo ver essa reivindicação e o quanto isso tem um impacto positivo no imaginário do povo brasileiro."
Escrita por Mário Teixeira, mesmo autor de Mar do Sertão, No Rancho Fundo trouxe de volta alguns personagens já conhecidos do telespectador, vindos do folhetim lançado em 2022.
Talvez, por isso, já tenha estreado com forte expectativa de alcançar o sucesso. Questionado, Guthierry aposta na produção, de uma forma geral, para alcançar esse reconhecimento. "Se existisse um 'segredo' para o sucesso tudo seriam flores e todas as novelas quebrariam recordes atrás de recordes", sinaliza.
"A novela tem alguns personagens e atrás das câmeras a base de Mar do Sertão, mas é uma história com outra narrativa. Acredito que o sucesso de No Rancho Fundo é fruto de muita pesquisa, dedicação e o amor de toda equipe pelo o que faz", lista o ator.
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"Estamos rodeados de pessoas generosas e de bom coração que dão o seu melhor a cada 'ação', e isso é da maquinaria ao elenco. Estamos felizes demais com a novela, equipe, trama, e isso fica nítido na televisão. No fim, tudo é sobre muito amor envolvido", acrescenta.
Já sobre o seu papel na trama, Guthierry Sotero avalia seu personagem como alguém religioso, trabalhador e sempre pronto a ajudar a família. "O Nastácio é um dos agregados e tem dona Zefa Leonel como uma santa na terra", define.
"É um cara que mantém seus princípios na frente de tudo. Podemos perceber isso na forma com a qual fica desconfortável quando ele e os irmãos vão para o 'Cabaré Voltagem', e essa novidade não o anima, diferente dos irmãos. É medroso, namorador e tá sempre tentando se livrar das confusões, apesar de ser quase impossível quando está junto dos irmãos."
Ator diz que protagonismo preto na TV está sendo construído
Nascido e criado no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Guthierry Sotero confessa que sempre foi muito tímido. Apaixonado pelo RAP desde 2016, só conseguiu mostrar as letras que compunha três anos depois.
Escolheu o teatro para conseguir melhor desenvoltura quando subisse nos palcos. Nessa época, queria seguir na carreira jurídica, mas a arte de interpretar acabou lhe conquistando.
"Eu estagiava no MPRJ e queria ser desembargador, mas após o teatro meus planos mudaram, e sou feliz demais com a escolha que fiz. Minha mãe sempre me apoiou, me levava nos testes da Globo [ainda era menos de idade] e minha irmã, Yngrid, também. Tendo o apoio da minha base todos os obstáculos que apareceram se tornaram irrelevantes, o amor sempre falou mais alto", garante.
Antes de ser chamado para No Rancho Fundo, Guthierry Sotero esteve em Vai Na Fé (2023), outro grande sucesso da emissora carioca e cujo a maior parte do elenco era formada por atores negros. Para o ator, o protagonismo preto na TV está sendo construído, mas ainda não é o ideal.
"Temos tido conquistas nesse meio. Só tenho a agradecer e reverenciar os que vieram antes e pavimentaram o caminho para que as coisas fossem mais 'fáceis' para nós. Fico feliz demais em ver os meus amigos trabalhando, fazendo o que amam, tendo espaço para a maioria e não só tendo disputa por personagem, sabe?", diz.
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"O que mais tem por aí são pessoas talentosas e, assim que as oportunidades aparecem à vontade, aptidão e desempenho ficam nítido para os trabalhos. É muita vontade seguida dos 'não' e quando chega o 'sim' é o momento de se divertir e fazer o que ama com honra", dispara.
Ainda sobre Vai na Fé, Guthierry interpretava um aluno de comunicação social bissexual. Com relação ao assédio. o ator confirma que recebia muitas cantadas na época em que o folhetim estava no ar e que perpetuam até hoje.
"Sim! E eu acho super válido. A TV tem esse poder de chegar na grande massa e acredito que quando isso acontece, querendo ou não, é o reconhecimento do seu trabalho, do seu desempenho mas, claro, sempre com muito respeito para não pular etapas e acabar sendo invasivo com o ator", ressalta.
Já sobre ter passado por alguma situação chata, ter dificuldades para ingressar na carreira artística ou perdido algum trabalho como ator por ser negro, Guthierry nega.
"Já perdi papel, mas não por ser negro, simplesmente me trocaram por outro menino ou o projeto caiu. Hoje, eu entendo que isso é super normal, mas na época foram situações desagradáveis para mim que estava começando, e tudo era novo e impactava muito", recorda.
Com dupla cidadania, brasileiro e angolano por causa do seu pai, o ator ainda não teve a possibilidade de conhecer Angola, mas confessa que está em seus planos uma viagem em família.
"É o lugar dos meus sonhos! Pretendo ir em breve com a família e conhecer os parentes de lá" adianta. Já sobre a cultura africana, o ator aponta a culinária, os ritmos e a moda.
"A culinária, o ritmo musical [afrobeats] vem dominando o topo musical da Billboard e, sem contar a moda, as referências dos tecidos. Sou grato pela referência ancestral que tenho e pelo mundo, finalmente, reconhecer as riquezas provenientes da Terra Mãe", finaliza.
Confira o resumo semanal de No Rancho Fundo: