Como Victoria Beckham consolidou imagem de autoridade no luxo

Victoria Beckham está em voga desde que um documentário sobre sua vida estreou na Netflix. Dividido em três episódios, a produção coloca a ex-Spice Girl refletindo sobre sua ascensão ao estrelato pop e o início do seu romance com David, seu marido até hoje. Dona de um império no mercado de luxo, ela viu suas receitas aumentarem 26% em um setor que está estagnado. Como isso foi possível?

"A trajetória de Victoria Beckham é uma das mais emblemáticas demonstrações de maturidade estratégica no universo do luxo. Ela compreendeu, com sua marca pessoal, que prestígio não se constrói com visibilidade, mas com presença", analisa Tamara Lorenzoni, estrategista e mestre em Gestão de Marcas de Luxo, ao NaTelinha.

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A estrela do documentário da Netflix alcançou um faturamento de 112,7 milhões de libras em 2024, pouco mais de 820 milhões de reais na cotação atual. Esse é o reflexo de um ajuste de gestão que levou a marca ao azul pela primeira vez em anos. Dentro do cenário global, o setor desacelera, com queda entre 2% e 5% nas vendas, segundo relatório da Bain & Company.

A empresa opera hoje em duas frentes principais: moda e beleza. O segmento Victoria Beckham Beauty, criado em parceria com Sarah Creal (ex-La Mer), ampliou sua linha de maquiagem, skincare e fragrâncias, e já representa mais de 40% da receita total. O crescimento das vendas diretas ao consumidor - pelo e-commerce e pela loja principal em Mayfair, Londres - foi de 26% no último ano e já responde por 62% das receitas.

Victoria Beckham trata moda como vocabulário, diz especialista

De acordo com Tamara, ainda, a empresária tem uma maneira diferente de tratar o negócio. "Desde os primeiros passos, Victoria tratou a moda não como vitrine, mas como vocabulário. Transformou o palco em laboratório de expressão, e o olhar em ferramenta de construção simbólica. O que muitos interpretaram como vaidade era, na realidade, um exercício rigoroso de identidade estética, a fundação de uma marca pessoal coerente, consistente e reconhecível."

Ainda assim, o modelo não está livre de desafios. Documentos oficiais mostram que a marca precisou de um novo aporte de 6,2 milhões de libras dos acionistas em 2025 para sustentar a expansão, revelou o The Guardian. Apesar disso, analistas de mercado apontam que a marca atravessa sua fase mais equilibrada desde 2008.

Na visão de Tamara, a marca de Victoria Beckham não é sobre roupas, mas sobre a construção de uma mulher que domina sua própria história. "E é justamente aí que está o seu maior ativo: um capital cultural sólido, que transforma estilo em legado."

"Victoria substituiu o excesso pela precisão, o espetáculo pela excelência e a exposição pela autoridade silenciosa. É o retrato de um luxo disciplinado, emocionalmente refinado e intelectualmente consciente", conclui.

O documentário de Victoria Beckham na Netflix

A obra relembra o fim das Spice Girls no ano 2000 e no que isso culminou na vida da estrela pop. Ela deu à luz ao primeiro filho, Brooklyn, em março de 1999, mas seguiu no grupo. Victoria e David se casaram quatro meses depois e se mudaram para Manchester, para ficar mais perto do clube em que jogava.

Em 2003, ela se mudou para a Espanha, quando o marido se transferiu para o Real Madrid. "Eu não percebi na época, mas estava tentando me encontrar. Eu me sentia incompleta, triste, talvez congelada no tempo. Eu era grata pelo que tinha, mas preciso de um senso de propósito. E lembro de dizer a mim mesma: se eu tiver uma oportunidade de novo, não vou perdê-la."

Naquele momento, investiu na Moda. Quando David Beckam assinou com os Los Angeles Galaxy, em 2007, ela recuperou parte da confiança. "Trabalhei duro para conquistar meu lugar nesta indústria e não quero perder tudo o que construí", afirmou.