Entrevista

Glória Perez revela por que sua nova novela foi vetada pela Globo: “Era impossível mudar”

Autora de sucessos como O Clone e Salve Jorge, Glória Perez explica por que sua nova novela foi recusada pela Globo e o motivo que tornou a mudança inviável


Glória Perez olhando para o lado, em imagem de arquivo; autora de novelas da Globo comenta veto à nova produção
Glória Perez em imagem de arquivo: autora explica os bastidores do veto da Globo à sua próxima novela - Foto: Reprodução/Internet
Por Daniel César

Publicado em 10/04/2025 às 21:25,
atualizado em 10/04/2025 às 21:52

Desde que a autora Glória Perez confirmou o fim de seu contrato com a Globo, na sexta-feira (4), o setor de teledramaturgia entrou em ebulição. A saída acontece após a rejeição da sinopse de sua nova novela, Rosa dos Ventos (título provisório), que traria entre seus principais temas o aborto forçado, além da trajetória de uma mulher com aspirações políticas.

A Globo, segundo a autora, pediu modificações significativas na trama. Glória recusou. E decidiu não continuar na emissora com um novo projeto. Em entrevista ao Estadão, a autora explicou os bastidores da decisão e revelou que a emissora queria “contornar” o tema do aborto. Ela recusou. “Era impossível atender: o aborto é o ponto de partida da história. Tudo o mais ocorre a partir dele”, disse.

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Contrato por obra e fim amigável

Glória confirmou que o contrato vigente com a emissora era apenas para uma obra. Com o cancelamento da novela, foi oferecida a ela a possibilidade de criar uma nova sinopse e permanecer na emissora. A proposta foi recusada.

"Sim, era um contrato por obra para fazer a novela que viria depois de Vale Tudo. Decidido o cancelamento, foi proposto assinar uma extensão dele para produzir uma história nova. Preferi não assinar. Tudo foi acordado e feito amigavelmente."

Novela rejeitada de Glória Perez tinha até elenco

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A trama central de Rosa dos Ventos gira em torno de Cibele, personagem que seria vivida por Grazi Massafera, uma ex-modelo que engravida de um empresário casado, Murilo (Murilo Benício), que arma para que ela sofra um aborto forçado. A motivação? Evitar um escândalo que comprometeria a carreira política da esposa, Mabel (Giovana Antonelli).

"A intenção foi jogar um foco sobre essa forma de violência contra as mulheres. São casos muito comuns, que costumam terminar em assassinato. A toda hora estamos vendo na mídia."

A Globo, segundo Glória, pediu que o aborto fosse retirado da história. A resposta foi taxativa: "Pediu que contornasse, descartando o aborto. Era impossível atender: o aborto é o ponto de partida da história, tudo o mais ocorre a partir dele, todas as tramas paralelas se relacionam a ele. Tirar o aborto era tirar o macaco do King Kong."

O elenco já estava na cabeça da autora que iria lutar para conseguir escalar os nomes citados.

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Além do aborto, o arco narrativo de Mabel, que quer se lançar como candidata política no Rio Grande do Sul, teria causado desconforto na emissora. Glória nega qualquer conteúdo político-partidário.

"A novela não tinha ‘nenhuma chance de falar de política, de mostrar comícios, reuniões de partido, de apostar em polarizações’. Eu não divido plateia — eu uno."

"A opção pelo cargo político é porque precisava colocar Mabel numa situação em que não pudesse ser envolvida em escândalo. Do começo ao fim da novela seria candidata à candidata", insistiu

A escolha pelo cenário no sul do país também foi alvo de debate nas redes sociais. Segundo Glória, a ambientação nos cânions do Rio Grande do Sul foi uma decisão estética e simbólica: "Pela riquíssima diversidade cultural e porque é uma paisagem belíssima e muito pouco explorada pela dramaturgia."

Glória Perez também comentou sobre a abordagem da representatividade em suas histórias, tema prioritário na linha editorial atual da TV Globo: "A sinopse contempla muitas questões, por meio de tramas muito diversas. O que nunca faltou nas minhas novelas foi representatividade. Concorda?"

Sobre o estilo de narrativa, reforça: "Só me interessa o lado humano nos temas que abordo. É o que tenho feito em todos os meus trabalhos, na abordagem de temas polêmicos."

Direitos retidos: Rosa dos Ventos não pode ser apresentada a outras plataformas

A autora revelou ainda que, mesmo com o fim do contrato, a Globo manteve os direitos da sinopse rejeitada, impedindo que ela leve o projeto para outras emissoras ou plataformas de streaming: "Não posso. A Globo não me devolveu a sinopse e está no seu direito. Isso já me ocorreu em Barriga de Aluguel (nos anos 1980): fui para a Manchete certa de que a faria lá, mas, como não liberaram, imaginei outra história. E escrevi Carmem."

Mesmo com a ruptura, Glória encerra o ciclo com palavras de respeito e reconhecimento à emissora: "Tenho e sempre terei os melhores sentimentos e a maior gratidão pela TV Globo. Foi ali que fiz minha carreira, foi ali que consolidei uma assinatura na dramaturgia brasileira."

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