"A Força do Querer" traz Glória Perez mais segura e menos caricata
Novela estreou nesta segunda-feira (3) na Globo
Publicado em 03/04/2017 às 23:00
O retorno de Glória Perez à faixa de novelas das 21h vem cercado de expectativa acima da normal, pelo menos para parte da nação noveleira, decepcionada com os rumos que o horário tomou desde o fim de “Avenida Brasil”, em 2012.
Sim, há cinco anos a faixa mais nobre da Globo apresenta uma sucessão de tramas pouco empolgantes, cujos autores, do mesmo quilate de Perez, se dividiam entre a linguagem de seriado e o melodrama rasgado, sem conseguir reflexos na audiência, incluindo repercussão negativa nas redes sociais e zero falatório nas ruas. Pela estreia nesta segunda-feira (3) “A Força do Querer” promete resgatar o equilíbrio necessário.
O primeiro capítulo investiu no tempero local com cenas gravadas no Pará, perto do Acre, terra natal de Glória, colocando a carga de fantasia tão querida pela autora no folclore da região: a personagem meio brejeira e meio sereia, Ritinha (Ísis Valverde, sempre magnética para as câmeras), disputa amorosa do caminhoneiro Zeca (Marco Pigossi) e do playboy Ruy (Fiuk, ainda pouco amadurecido em atuação), que se conheceram na infância por causa de um acidente de barco, filmado em sequências de tirar o fôlego.
O núcleo bussiness/alta sociedade, formado por Eugênio (Dan Stulbach), Eurico (Humberto Martins) e as respectivas esposas, Joyce (Maria Fernanda Cândido) e Silvana (Lilia Cabral), se assemelha aos de tantas outras tramas, mas que chama a atenção pelo merchandising social sobre Ivana (Carol Soares), a filha transgênero de Joyce e o vício em jogo de Silvana.
A química do segundo par romântico, Bibi (Juliana Paes) e Caio (Rodrigo Lombardi), funcionou logo nas primeiras cenas, despertando aquela torcida para que a personagem de Paes se livre do namorado complicado vivido por Emílio Dantas.
Apesar de alguns vícios de Glória Perez, como o binômio homens racionais e mulheres escravas das paixões, a estreia de “A Força do Querer” surpreendeu por mostrar uma autora mais contida, menos preocupada em lançar bordões e mais atenta ao desenvolvimento da trama, que fluiu sem tropeços.
A direção elegante de Rogério Gomes, que limpou os excessos de “Império” escrito por Aguinaldo Silva em 2015, destacou esta serenidade, mesmo que tenha pesado a mão em alguns movimentos de câmera (panorâmicas desnecessárias, por exemplo) e na trilha instrumental constante. Que a nova fase da novelista não abandone o caminho firme que abriu, rumo ao respiro da teledramaturgia das 21h.
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há oito anos.