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Aos 31 anos, "Criança Esperança" chega à maturidade

Estação NT


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Foto: Pedro Palmeiro/TV Globo

Atire o primeiro controle remoto quem nunca acompanhou, seja bem desperto ou meio dormindo no sofá, alguma edição do “Criança Esperança”, atração anual da Globo que faz parte da paisagem televisiva há 30 anos e cujo auge foi na década de 90, quando Renato Aragão e Xuxa eram os grandes mestres de cerimônias a ponto de resumirem em si mesmos todo o programa.

A longevidade fez com que o “Criança Esperança” deixasse cenas marcantes na memória afetiva dos telespectadores, sendo muitas delas, sob o controle da geração curte-compartilha, eternizadas em memes (“mãe, no céu tem pão?”). Entretanto foram justamente o ar de superprodução, as longas horas de exibição e a espontaneidade fabricada dos envolvidos que fizeram a atração decair nos últimos anos, em relevância e audiência. Especialmente diante de programas menos ensaiados, como o “Teleton”, do SBT.

Com a direção de Rafael Dragaud desde o ano passado, o programa ganhou novos apresentadores, mais carismáticos e ligados às causas sociais (Leandra Leal, Dira Paes, Lázaro Ramos e Flávio Canto), ficou enxuto, saiu do megalomaníaco Ginásio do Ibirapuera, foi para os Estúdios Globo e perdeu o ranço de peça teatral infantil (ainda que o seu objetivo seja conseguir doações dos telespectadores para projetos sociais voltados à crianças e adolescentes).

Na edição de 2016, transmitida neste sábado (02), o clima de renovação seguiu intacto. Em vez de uma festa lotada onde o telespectador se sentia perdido, o que se viu foi uma atração descontraída, contemporânea, sem pieguices e sem medo de se aproximar dos temas espinhosos trazidos justamente pela geração mergulhada nas redes sociais: feminismo, racismo, o assassinato de jovens na periferia, a quebra dos padrões de beleza.

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Apesar do número de abertura constrangedor de Luan Santana cantando uma música tatibitate contra a corrupção, este “Criança Esperança” segurou o ritmo com convidados musicais fora de suas zonas de conforto. Como Anitta cantando “Perigosa” das Frenéticas com um balé de mulheres obesas cultuando seus corpos, e Alcione, em um momento soco no estômago, performando o “Rap da Felicidade” ao lado de mães que perderam seus filhos em situações violentas.

Os vídeos que abordavam tais temas ao longo da atração funcionaram como curtas-metragens, feitos sob medida para viralizarem na internet, porém consistentes (destaque para um deles chamado “Ninguém nasce racista, continue criança”).

Os resultados desta cara nova foram visíveis. A hashtag #CriancaEsperanca subiu rapidamente para os assuntos mais comentados do Twitter com vários comentários positivos no site. Mas a Globo precisa se cuidar em relação ao fantasma da falta de espontaneidade que volta e meia assombrou esta edição.

Muitos atores do seu alto escalão, encarregados de receberem os telefonemas das doações, apareceram visivelmente contrariados em estarem ali, enquanto Dira Paes gritava ao microfone, destoando dos demais apresentadores.

Ou seja, começa a campanha: mais Susana Vieira sambando animadíssima nos créditos finais e menos Paolla Oliveira de cara fechada.

Para doar:

- 7 reais, ligue 0500 2016 007;
- 20 reais, ligue 0500 2016 020;
- 40 reais, ligue 0500 2016 040;
- Outros valores, redeglobo.globo.com/criancaesperanca


Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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