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TV Cultura atrasa salários, funcionários se revoltam e culpam Tarcísio

Canal completou 55 anos em junho em meio a um clima tenso nos bastidores

TV Cultura vive clima ruim nos bastidores (José Roberto Maluf à esquerda e Tarcísio de Freitas à direita) - Foto: Divulgação/TV Cultura/Montagem NaTelinha
Por João Paulo Dell Santo , com Fabrício Falcheti

Publicado em 16/08/2024 às 13:46:00,
atualizado em 16/08/2024 às 14:55:44

A TV Cultura completou 55 anos em junho passado em meio a uma guerra de nervos nos bastidores. De um lado, a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da emissora. Do outro, o Governo do Estado de São Paulo, sob a governadoria de Tarcísio de Freitas (Republicanos). 

NaTelinha apurou com fontes do canal que, até a manhã desta sexta-feira (16), alguns funcionários da TV Cultura que são PJ (Pessoa Jurídica) estavam com os salários atrasados. Isso teria acontecido em razão da lentidão no repasse da verba da fundação feito pelo governo estadual. 

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Nos bastidores da emissora, o clima é péssimo. De acordo com colaboradores ouvidos pela reportagem, os atrasos, que têm se tornado frequentes, estariam acontecendo como uma forma de Tarcísio de Freitas pressionar a saída do presidente da Fundação Padre Anchieta, José Roberto Maluf, que tem mandato até 2025 e foi indicado pelo ex-governador João Doria - o executivo, ex-SBT e ex-Band, está no posto desde junho de 2019.

Na percepção de fontes consultadas pelo NaTelinha, com o cabo de guerra, o governo tenta obter mais controle sobre a direção do canal, a ponto de interferir na linha editorial da TV Cultura e promover ajustes na grade de programação. Segundo essas fontes, o governador busca, em um primeiro momento, enquadrar Maluf, visto como "independente", e, por conseguinte, tomar as rédeas da emissora.

Além do atraso nos pagamentos dos PJs, o medo de demissões é algo frequente na TV Cultura - o conselho da fundação conta com 47 integrantes, sendo três vitalícios, 20 natos (onde o Governo do Estado possui representantes), 23 eletivos e um representante dos empregados da Padre Anchieta.

No Palácio dos Bandeirantes, há críticas abundantes à gestão de José Roberto Maluf, seja pela falta de cobertura das ações do governo, seja pelo alinhamento com João Doria, com quem os bolsonaristas possuem notória rivalidade política. Por outro lado, Maluf vem sendo elogiado por sua administração artística e apartidária entre os funcionários e diretores.

O NaTelinha entrou em contato com a assessoria da TV Cultura a fim de ouvi-la a respeito do assunto e recebeu a seguinte resposta:

"Informo que o pagamento não foi realizado ontem (15/8) por desencontro de ordem bancária. Os pagamentos serão feitos nesta sexta-feira (16/8). Quanto às demissões, não temos desligamentos em curso."

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Em abril, o deputado estadual Guto Zacarias (União), vice-líder do Governo Tarcísio de Freitas na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), propôs uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar supostas irregularidades na Fundação Padre Anchieta. Além dele, outros 35 deputados assinaram o pedido.

A CPI é vista como mais um recurso contra a gestão de José Roberto Maluf, que tem lidado nos últimos meses com um árduo processo de enxugamentos de custos, o que veio a inviabilizar uma série de novidades para comemorar os 55 anos da TV Cultura.

Inicialmente, a ideia do canal era lançar novas versões do Castelo Rá-Tim-Bum, Mundo da Lua e Quintal da Cultura, mas precisou recorrer a reprises desses produtos originais, a maioria com mais de 30 anos, para não passar a data em branco. Na época, choveram críticas nas redes sociais em razão da qualidade do material e do uso de Inteligência Artificial para adequar os programas às novas tecnologias.

Enquanto não chega a um acordo com o Governo de São Paulo, a presidência da Fundação Padre Anchieta precisará rever esses e outros projetos que estavam em desenvolvimento em razão das cinco décadas e meia de atividades da TV Cultura. Sem verba e com os atrasos, a ordem é puxar o freio.

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