Publicado em 07/08/2024 às 06:54:00,
atualizado em 07/08/2024 às 10:34:40
Aos 80 anos e com quase seis décadas de carreira, Ronnie Von volta à TV aberta nesta quarta-feira (7), com a estreia do Companhia Certa. O programa, que conta com um cenário aconchegante que lembra uma sala de estar, vai ser exibido toda quarta-feira, às 23h45, na RedeTV!.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, o apresentador abre o jogo sobre os desafios profissionais, revisita o passado e entrega alguns detalhes do novo projeto, que marca o seu retorno à faixa noturna desde o fim do Todo Seu, um clássico da TV Gazeta.
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Sobre a carreira, Ronnie Von é bem sincero. "Não sei se a [minha] trajetória foi bonita ou feia. Eu olho para trás até com uma certa perplexidade, porque não sei como eu consegui chegar até os 80 anos sendo convidado para apresentar um programa de televisão. Tendo essa chama acesa, ainda nesse ambiente tão perverso que é o ambiente da comunicação, porque eu fiz tanta coisa errada na vida, eu fui tão negligente com a atividade profissional, que muitas vezes eu me espanto por ter conseguido realizar esse sonho tão antigo e chegar aos 80. Fico absolutamente contente com o meu ofício", afirma.
"Eu sempre tive muita vontade de fazer um programa de entrevistas que fosse descontraído, como se você estivesse na sua casa batendo um papo comigo. E uma coisa que eu quero levar muito a sério e que sempre foi um sonho maior é humanizar as pessoas que vão estar comigo. Todos nós que trabalhamos com comunicação, vocês que estão me ouvindo, me lendo, enfim, que trabalham com comunicação, nós somos considerados operários da comunicação, produtos", revela.
Quanto ao formato do Companhia Certa, Ronnie Von dá um spoiler. "Eu estava com saudades de voltar a fazer um programa à noite. Olha, eu acho que nada na vida é absolutamente autêntico em todos os níveis. Na verdade, todos nós temos, de certa forma, fórmulas e formatos que você se adequa, que você gosta e que outras pessoas também. Na verdade, vai ser um bom bate-papo, mas jamais vou polemizar qualquer coisa, jamais vou fazer qualquer embate. Fazer com que as pessoas que já têm um dia de trabalho árduo, difícil, chegar no fim da noite e se estressar ainda mais. Não, pelo contrário. Eu quero levar exatamente aquilo de que de melhor existe dentro do ser humano, que é uma vida como a minha", adianta.
"Então você vai chegar em casa depois do trabalho, vai ligar a televisão e vai ver coisas que são de fato importantes, mas que não são as grandes manchetes de jornal como morte, destruição, guerra, briga, confusão. Não, o processo vai ser inverso. Por exemplo, eu já tornei claro, e não tenho nenhuma vergonha disso, pelo contrário, mas eu detesto esse enclausuramento de seres humanos que se chama de reality show. Isso é um enjaulamento. Ali seguramente vai aparecer o que de pior existe no homem. Meu processo é o inverso. Eu quero mostrar o que de melhor existe em cada um de nós", explica.
Exibido na sequência do Superpop, o Companhia Certa vai ser um produto da madrugada, mas isso não é um problema para o apresentador, pelo contrário. "Olha, na verdade, hoje os conceitos de prime time [horário nobre na linguagem da TV] estão muito diversos. Eu fui convencido pela diretoria da RedeTV! que esse é um prime time. Com essa história agora do home office, as pessoas têm dormido mais tarde. Não existe mais novela das 8, é novela das 9 e meia. O próprio programa do Jô Soares quando ele começou, que era Jô Soares 11 e Meia, nunca começou 11 e meia. Inclusive, eu cheguei a fazer um programa com Jô, que apareceu 2 da manhã e teve boa audiência. A ideia é fazer com que esse horário, que eventualmente possa ser ocioso ou discriminado por parte do telespectador, seja de fato vivo. O que eu quero é exatamente isso, é fazer com que esse horário seja de fato um prime time", comenta.
Mas será que Ronnie Von tem tempo para ver TV ou até mesmo novela? "Absolutamente, não tenho tempo para acompanhar tramas, tanto faz novela como séries. Seguramente, encho até o peito para dizer, que assisto documentários, de qualquer nível. Principalmente aqueles que têm um fundo de história. Não precisa ser história contemporânea, pode ser a antiga, a média. Eu adoro documentário de natureza, de animais, de qualquer coisa, eu vejo documentários. E quando tem a temporada de futebol americano, eu assisto o futebol americano que eu gosto", confidencia.
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Ronnie Von também analisa a "aposentadoria" de nomes como Silvio Santos e Fausto Silva, dos quais é amigo, e conta como enxerga a falta de substitutos à altura. "Eu vejo do alto dos meus quase 60 anos de atividade profissional, que são pessoas insubstituíveis. Ninguém é igual a ninguém. Cada um deixa a sua marca. É como uma impressão digital, você não vai ter a mesma impressão digital de outra pessoa. De repente surgem novos talentos que tenham esse tipo de pegada, como a gente fala no nosso ambiente, de atração. Isso faz parte da nossa atividade. Mas igual, em hipótese alguma, podem tirar o cavalinho da chuva que isso não vai acontecer", crava.
No papo, o famoso também lembra do apelido de "príncipe" que ganhou da saudosa Hebe Camargo (1929-2012). "Ganhei o apelido de príncipe em um programa de televisão. Nós estávamos conversando, as entrevistas da Hebe e tal, do começo de carreira, e ela não sabia que eu era aviador. E eu comecei a falar sobre avião e tudo mais e ela comentou que eu não tinha cara de aviador, porque aviador tem outro tipo de atividade comportamental, está acostumado com mecânica, com óleo, com gasolina. Aí eu disse: 'Por isso não, tem um aviador [Antoine de Saint-Exupéry] que escreveu alguns livros e eu já li praticamente todos eles, somente um que não, que era O Pequeno Príncipe, porque nos concursos de misses, [as candidatas] sempre diziam que liam O Pequeno Príncipe e eu achava aquilo uma bobagem. Até o dia em que eu li e vi que de fato Exupéry é um grande filósofo. Aí ela olhou pra plateia e disse: 'Ele não é a cara do pequeno príncipe', e foi aquele aplauso, aquela coisa. E a partir daí, naquela época, ou você via Hebe ou não via televisão. O povo, a partir do dia em que a Hebe me chamou de príncipe, todo mundo passou a me chamar [também]", afirma.
Mas nessa história tem um detalhe importante. "Uma coisa que me incomodava profundamente era o [apelido de] príncipe da Jovem Guarda, porque eu nunca fui da Jovem Guarda. Eu nunca fiz o programa Jovem Guarda, eu não tinha nenhuma ligação. Eu surgi na mesma época, mas o meu programa tinha uma visão bastante diferente do da Jovem Guarda. Então o príncipe da Jovem Guarda não era uma coisa verdadeira. Mas depois de 58 anos eu não consegui mudar esse conceito, porque o Brasil é um país rotulador, então eu continuo sendo o tal do príncipe da Jovem Guarda, mas não sou de Jovem Guarda, não", avisa.
Diferente de alguns colegas, que passaram a tocar atividades paralelas, Ronnie Von deixa claro que o seu foco agora é na TV. "O meu foco é a minha profissão. Eu quero fazer isso. Eu sou apresentador de programa de televisão, fui cantor durante muitos anos, gosto disso. Foi um sonho que eu acalentei durante muito tempo. Então não quero mais aquela vida de empresário, até porque é pesada demais, é cruel demais, é competitiva demais e eu não tenho mais estômago para isso. Hoje eu sou um profissional de comunicação e não quero mais saber de negócios", fala.
Por fim, o apresentador deixa um conselho para a nova geração. "Olha, eu posso falar até uma bobagem. Existe um binômio que faz com que você, nesse ofício, consiga sucesso, consiga trabalhar. O binômio é talento - que aqui no Brasil já não vale mais nada. Talento hoje aqui é comprado, todo mundo sabe disso, é pago - e vocação. Se você é vocacionado e se você tem talento, você já está com 70% do seu caminho percorrido. Essa é a minha visão. Agora, existe uma coisa que eu aprendi com um querido amigo meu, que é um piloto que levou o Brasil a ter amor pela Fórmula 1, que é meu amado amigo Emerson Fittipaldi. Uma vez eu perguntei para ele, quando ele foi bicampeão mundial: 'Emerson, como é que é essa história, você ser bicampeão do mundo, o que é preciso pra isso?'. Ele disse: 'Você tem que ser um bom mecânico, você tem que ser um bom arranjador e você tem que ser um bom piloto. Agora, acima de tudo, você tem que ter sorte'. Então, [meu conselho é]: tenha talento, tenha vocação, mas acima de tudo, como disse o Emerson, tenha sorte", conclui Ronnie Von.
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