Publicado em 20/09/2020 às 05:00:00
Por onde anda Gilberto Barros, um dos apresentadores mais carismáticos da TV? Era melhor ter ficado sem saber. Fora da televisão há cinco anos, quando deixou a RedeTV!, o Leão, como é conhecido, tem rugido contra homossexuais e disparado fake news sobre o novo coronavírus.
Em seu canal no YouTube com 182 mil inscritos (até a publicação desta reportagem), Gilberto Barros se sente à vontade para emitir opiniões consideradas no passado como "polêmicas", e que hoje são chamadas de preconceituosas. Também usa seu programa como palanque para exaltar o presidente Jair Bolsonaro.
Nesta semana, o apresentador foi denunciado junto ao Ministério Público por ter dito que agrediria homossexuais que se beijassem na frente dele. Esta declaração é só mais uma da atual fase decepcionante do Leão. Confira o que ele já falou fora da televisão:
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Gilberto Barros já manifestou homofobia (embora ele negue ser preconceituoso por ter amigos gays) em setembro de 2017, durante entrevista para o podcast Não Ouvo. "Hoje em dia, com essa desculpa de liberdade, a minoria está vencendo a maioria brasileira, o que é uma hecatombe. O poste faz xixi no cachorro. A banana come o macaco. A gente está achando que é natural ser veado ou sapato", afirmou.
O apresentador defendeu seu ponto de vista em nome da liberdade de expressão: "Tenho grandes amigos homossexuais, mas eles sabem que não acho normal ser homossexual. Temos que perder a hipocrisia! A homofobia tem que ser combatida, mas tem que se prestar atenção no que, de fato, é isso. Homofobia não é o que estou dizendo aqui. Pelo contrário, estou defendendo os homossexuais aqui. Minhas amigas lésbicas sabem que as defenderei até debaixo da água! Mas não me obriguem a achar que é normal. Homem é homem. Mulher é mulher".
A frase que gerou a denúncia por homofobia foi dita em uma live sobre os 70 anos da TV com participação da apresentadora Sonia Abrão: "Eu tinha que acordar às 2h30, 2h, e ainda presenciar, onde eu guardava o carro na garagem, beijo de língua de dois 'bigode', porque tinha uma boate gay ali na frente. Não tenho nada contra, mas eu sou gente. Naquela época ainda, chegando do interior. Hoje em dia, se quiser fazer na minha frente, faz. Apanha os dois, mas faz".
A denúncia ao MP contra Gilberto Barros é de autoria do jornalista e ativista LGBT William De Lucca, pré-candidato a vereador de São Paulo pelo PT, com base na lei estadual 10.948, sancionada em 2001 e que pune a prática de discriminação em razão da orientação sexual e identidade de gênero. "Não é admissível que alguém, especialmente na imprensa, incentive a violência contra LGBT. Vai responder penal e administrativamente e vai aprender pela lei a respeitar nossa população", criticou De Lucca.
"Sumido" desde a acusação de homofobia, Gilberto Barros reapareceu com uma notícia "horrorosa, escandalosa, inacreditável". Segundo ele, "a Itália solta autópsia dando conta de que não é vírus, é bactéria", o que seria uma derrota da OMS (Organização Mundial da Saúde) e uma vitória do "corajoso" presidente Jair Bolsonaro.
O apresentador, entretanto, parece ter chegado tarde na disseminação desta notícia, que é falsa. As declarações do vídeo da última sexta surgiram no WhatsApp e desmentidas em maio. O Ministério da Saúde da Itália nunca disse que o coronavírus é provocado por uma bactéria.
Gilberto Barros se revoltou com os mais de mil padres que apoiaram a manifestação da CNBB (Confederação dos Bispos do Brasil) contra as ações do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia de coronavírus, mas o apresentador mentiu mais uma vez: "Me falem, senhores mil padres, qual é a atitude, qual é a ação, já que o presidente foi impedido de ter ação pelo Supremo Tribunal Federal. Vossa informação está equivocada".
O STF, diferentemente da narrativa divulgada por Bolsonaro e seus apoiadores, não impediu o governo federal de agir contra o coronavírus na decisão que deu maior poder a estados e municípios no combate à pandemia. "A Constituição prevê que nos casos de calamidade as normas federais gerais devem existir. Entretanto, como a saúde é direito de todos e dever do Estado, num sentido genérico, o Estado federativo brasileiro escolheu o Estado federado em que os estados têm autonomia política, jurídica e financeira", afirmou o ministro Luiz Fux, atual presidente do STF, em junho.
No mesmo programa, o Leão "rugiu" mais mentiras: afirmou que Bolsonaro teria ganhado no primeiro turno em 2018 com "mais de 75% dos votos", segundo investigações que ele não revelou. O atual presidente foi para o segundo turno com 46,03% dos votos válidos, segundo apuração do TSE. O apresentador não parou de emitir teorias conspiratórias e sugeriu que a China pode manipular a eleição de 2020: "Onde é fabricada a urna eletrônica? No vale tecnológico de Minas Gerais. Quem é que está lá? A China".
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