Publicado em 16/08/2020 às 05:00:00
Durante entrevista ao NaTelinha, realizada na última sexta-feira (14), Benjamin Back provou ser a mesma pessoa dentro e fora da TV. "Pô, c..., oito?", disse, impressionado com o placar da goleada do Bayern de Munique por 8 a 2 sobre o Barcelona, pela Champions League. Logo depois, reclamou que Philippe Coutinho não comemorou seu gol contra o ex-clube: "Essa maldita 'nutellagem' que toma conta do futebol hoje! 'Ai, é falta de respeito', onde?".
Entre um e outro gol marcado pelo time alemão, Benja falou sobre sua irreverência na cobertura esportiva, particularmente as apostas. Recentemente, já se vestiu de Chaves e pintou o cabelo com as cores do Fluminense. Para a competição europeia, prometeu cortar o cabelo moicano, como Neymar, se o Paris Saint-Germain sagrar-se campeão.
"Eu juro para você, eu não programo essas coisas, não penso antes. Vem tudo na hora. Começou naquele São Paulo x Penapolense [em 2014], em que falei: 'É claro que o São Paulo vai ganhar. Se não, eu venho de Batman'. Ainda bem que eu falei isso. Poderia ter falado Mulher-Maravilha (risos). Aquilo deu uma repercussão muito legal, porque nesse lance da fantasia, de aposta, eu consigo atingir um público que nem sempre está assistindo a um programa de futebol, a criançada. Recebi muita mensagem de criança e de pai que falou: 'Meu filho viu você de Chaves e achou o programa legal'", conta Back.
Formado em economia pela PUC, decidiu abolir o terno e gravata e o mercado financeiro ao ingressar no jornalismo há exatos 20 anos, quando passou a compor o time do Estádio 97, programa da rádio Energia 97. Na TV, já trabalhou na RedeTV!, no SBT, na Record e na Band, e desde 2014 é um dos principais apresentadores do canal pago Fox Sports.
Em entrevista exclusiva, Benjamin Back analisa a cobertura esportiva na televisão e durante a pandemia de coronavírus, admite ter registrado Boletim de Ocorrência contra um "hater" e revela sua maior ambição: ser o Silvio Santos do futebol.
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NaTelinha: Você leva o futebol na maior brincadeira, transforma a cobertura esportiva em um entretenimento. Você gosta de levar para esse lado? As pessoas te dão menos credibilidade por isso?
Benjamin Back: Minha preocupação em relação a isso é zero. Eu trato o futebol como entretenimento sim. O futebol tem que ser tratado de forma profissional para quem é remunerado por isso: jogador, os canais de televisão que transmitem. O programa de futebol não pode ser de economia. Não pode ser um programa policial, não pode ser um programa para falar dos problemas do país. Já existem as emissoras que fazem isso. O cara que vê futebol quer se divertir. O fato de eu ser irreverente não significa que sou humorista. Eu sou bem-humorado, é diferente. Uma prova de que não estou preocupado com isso é que vários programas que fiz e faço até hoje repercutem assuntos sérios, mas não preciso estar de terno e gravata, sério, carrancudo, não preciso usar palavras difíceis que as pessoas não vão entender.
Você trocou a Economia pelo futebol por causa disso.
Um dia, os caras estavam quebrando o pau no Fox Sports Rádio e estava chato. Falei: "Vamos parar esse assunto, amanhã eu vou trazer o André e o Roberto para a gente discutir isso com mais propriedade, beleza?". Quem é André e Roberto? O André é o meu gerente do banco e o Roberto é o meu contador. Porque nós estávamos analisando balanço, superávit, déficit. Parecia que eu estava nas minhas aulas de Economia na PUC. Futebol não é isso. Eu encho o saco. Na quinta, o Ferrareis, jogador do Atlético-GO que acabou com o Flamengo, entrou ao vivo e falou: "Pô, Benja, eu sou seu fã, mas todos os jogadores receberam seu vídeo. Você não sabe como foi importante para a gente ganhar o jogo". Teve um jogador deles que mandou mensagem dizendo que eu desrespeitei. Disse que não desrespeitei ninguém, que é um “mimimi". Na terça, falei que o Flamengo não era favorito, era favoritaaaaaço, e que "passaria o carro". Perdeu de 3 a 0. Agora, isso é desrespeito? Não! O melhor time da América do Sul vai enfrentar um time que acabou de subir da Série B para a Série A, que não jogava uma partida desde 19 de março. Ué? Eu falei. Isso não significa que estou desrespeitando o clube. Não usei palavras ofensivas.
Para você ter ideia de como as discussões que vocês colocam geram esse impacto dentro dos clubes, foi no Fox Sports Rádio que surgiu a “quarta força”, expressão usada depois pelo Corinthians.
Foi o [Fábio] Sormani [em 2017]. Isso é futebol. O cara que assiste aos meus programas tem que ter três reações: rir, chorar e sentir raiva, porque são os três sentimentos que o torcedor tem pelo time. Você chora quando seu time perde, ri para caramba quando ele ganha e você vai zoar o seu rival, e você também tem uma p… raiva do juiz que prejudicou teu time, do amigo que te zoou. Os três sentimentos que tenho quando vejo uma partida de futebol são os que eu quero que alguém assiste ao meu programa sinta. Não tenho problema quando o cara fica p... comigo, até porque eu sei que provoco. Eu sou um provocador até dentro do programa.
Nas suas redes sociais, você também provoca bastante o público. Qual é o tipo de "hater" mais chato?
Tenho uma coleção de "haters", é o maior barato. Hoje mesmo, o cara mandou no Twitter: "Pô, o Flamengo nem jogou e vocês só falam do Rafinha [lateral que deixou o clube]!" Tô! "Pô, Benja, você é o maior baba ovo do Flamengo, só fala do Flamengo!". Amigo, a gente vive de um negócio chamado audiência. Se você tem o Flamengo, que tem a maior torcida do Brasil, que montou um time que é uma seleção, que teve mais títulos do que derrotas, não perdeu no Maracanã, é campeão da Libertadores e brasileiro, eu vou falar de quê? Óbvio que tenho que falar! É o time que está ganhando tudo, é o time sensação, é óbvio que tenho que dar mais destaque. Aí o cara: "Benja é puxa-saco", "Benja quer fazer média". Sobre o Corinthians, eu assumo publicamente o time pelo qual torço, nunca fiz questão de esconder. Em um Corinthians x Palmeiras, se eu falo que o Corinthians vai ganhar: "Clubista! Babaca! Parcial! Vergonha um cara desse na televisão!". Se eu falo Palmeiras: "Puxa-saco! Fazedor de média!". Os caras vão me xingar de qualquer jeito. Eu respondo e os caras ficam bravos: "Eu não vou mais assistir à Fox!". Claro que vai, fica mandando mensagem para mim, me segue, você não consegue ficar longe dos programas. Ele xinga, mas vê, nem que seja só para xingar.
Você se preocupa? Já recebeu ameaças?
No dia em que pintei o cabelo no Fla-Flu, um cara mandou uma mensagem para mim no Instagram e eu falei: "Esse eu não vou ficar omisso", e fiz um BO sim. Fiz um BO e o cara: "Pô, Benja, não quis falar isso, desculpa". Não quis falar? O cara escreveu que eu tinha que tomar um pau na rua. Quis falar o quê com isso? "Estava nervoso". Pô, mas o BO eu fiz. Que ofensa eu fiz? Quem eu desrespeitei? Falei também que se o Fluminense ganhasse o Carioca seria uma zebra do tamanho da Baía de Guanabara. Mas não era? É engraçado que são os caras que reclamam que o futebol está "nutella", é muito "mimimi". Se eu falo o seguinte: "Eu acho que não tem favorito, porque é um clássico e vice-versa…".
O seu público não espera isso de você.
Não espera. Eu não vou mudar meu jeito de ser porque isso é futebol, não matéria de faculdade. Eu não estou dando aula de MBA de futebol na FGV. Não acho que entendo mais de futebol do que muita gente que está assistindo. Futebol é uma coisa da qual muita gente entende. Gosto de entretenimento, gosto de fazer o show.
Você gosta muito de fazer entretenimento, e nesta semana falou que queria ser o "Silvio Santos do futebol". Você sonha em ter um programa de entretenimento com auditório, inclusive fora do futebol?
Eu sonho sim. Acho o Silvio Santos um gênio. Para mim, o que o Pelé fez para o futebol o Silvio fez para a televisão. Há décadas ele diverte e entretém as pessoas. Independentemente da idade dele, é cada vez mais atual. Falei que queria ser o Silvio Santos do futebol porque eu acho que o negócio é esse, é entreter, divertir, independentemente do momento em que a gente está vivendo no mundo. Agora ferrou por causa da aglomeração, mas eu adoraria ter um programa de auditório, mesmo se fosse também de futebol, com a galera interagindo, com um monte de coisa divertida, com coisa séria no meio também. Eu tinha acabado de conseguir colocar uma arquibancada com uma plateia no programa Jogo Sagrado. Imagina eu fazendo um programa de futebol com auditório, os caras levando faixas. Seria um tesão, seria demais. Quem sabe um dia eu não vá ser o Silvio Santos do esporte.
Você está trabalhando de casa, e quando você se vestiu de Chaves seu filho começou o programa.
Foi o mais novo, Jimmy, tem 11 anos. "Meu pai faz essas bobagens aí e depois não quer apresentar o programa"! (gargalha).
Ele gostaria de trabalhar nessa área? Você o estimula ou deixa livre para escolher o que quiser?
Eu não estimulo os meus filhos para nada. Acho que eles têm que saber o que querem da vida deles, independentemente do que o pai e a mãe querem. O mais velho, Samy, tem 17 e é todo sério, parece que eu sou filho dele. Faço essas coisas e ele manda tudo para mim no WhatsApp: "Pô, pai, olha o que os meus amigos estão mandando". Aí tem eu de Chaves. "P..., pai, você é f…!". O mais novo ri pra caramba: ‘Pô, pai, você é louco".
Agora vocês e os jornalistas da ESPN são parceiros, mas recentemente aconteceu uma coisa muito bonita, que deixou todo mundo emocionado. Todas as emissoras onde o Rodrigo Rodrigues [morto em 28 de julho de 2020, vítima de coronavírus] trabalhou se uniram para homenageá-lo. O SporTV te chamou para falar. Seu depoimento foi muito marcante e envolve um momento em que vivemos com mais de 100 mil vidas perdidas, incluindo muitas pessoas próximas. Você perdeu um amigo. Cada família vive um luto constante. Nos programas esportivos, o coronavírus também é assunto porque vários jogadores de futebol testaram positivo. Como isso te afeta? Como levar esse tipo de informação no ambiente em que você vive?
Sobre a interação da ESPN com a Fox, está sendo uma coisa incrível. Você vê o Zé Elias e o Mauro Cezar na Fox, liga na ESPN e você o Sormani, o [Osvaldo] Pascoal, o Zinho. Esse dia eu estava vendo o Expediente com o Antero Greco, uma coisa muito legal. Espero que isso se fortaleça mais e mais. Em relação ao Rodrigo, aquilo me abalou demais, cara, porque dois dias antes eu tinha mandado um abraço, a gente abriu o Fox Sports Rádio falando: "Rodrigo, todo pensamento positivo para você, vai dar tudo certo". A gente tinha se encontrado em janeiro, na Barra, em um restaurante, e ele falou: "Benja, estou aqui, vamos combinar de sair". Aí vieram as férias, essa loucura de pandemia e acabou. Aconteceu essa tragédia com ele. Eu estava no carro, vindo para São Paulo, ouvindo rock n'roll, e alguém me ligou: "Rodrigo morreu, velho". Falei: "Não acredito". Fiquei muito mal. Encostei o carro no acostamento e chorei pra cacete. Comecei a pensar um monte de bobagem. Quando me ligaram do SporTV, também achei estranho. Adoro o André Rizek como pessoa e como apresentador, sou fã, acho ele bom demais, e sou amigo de um monte de gente lá. Lógico que somos concorrentes, mas não somos inimigos. Eu estava em um momento talvez sensível demais, tinha acabado de ouvir a notícia e falei tudo aquilo, sobre intolerância, essa cultura do ódio, e que o Rodrigo deixasse esse legado de as pessoas serem um pouco mais tolerantes, mais compreensíveis. Se eu falo que o Palmeiras vai ser campeão, ou o Flamengo, ou o Grêmio, o cara não precisa responder "filho da p..., vou te matar, babaca, idiota". Não é porque o cara é gay que eu vou tratar mal, ou porque é mulher, ou porque é negro. Falei tudo aquilo. Foi muito triste, cara. Agora, isso que você me falou volta de novo naquele assunto. A gente está vivendo um momento difícil. Pessoas perdendo emprego, pessoas morrendo. Outro dia o cara mandou isso: "Cara, como você consegue dar risada na televisão? Está morrendo um monte de gente!". Eu sei, mas o que posso fazer? A minha profissão é essa. Eu não posso entrar no programa em que as pessoas se divertem e jogá-las ainda mais para baixo. Na minha cabeça, quando o cara passa duas horas me vendo é para dar uma espairecida, para se divertir.
Não quer dizer que você está alheio à situação. Você está totalmente preocupado, inclusive foi alvo de uma fake news de que estava com Covid-19.
Aquilo me deu uma p... dor de cabeça, porque foi no começo. Eu estava no Rio, tinha ido jantar com Jorge Jesus, que morava no mesmo condomínio que eu. No dia seguinte, ele me liga: "Peguei Covid". Um repórter, de forma totalmente irresponsável, escreveu que fiz o teste e deu positivo. Minha mãe estava em São Paulo e ficou desesperada: "Você não me falou nada!". Minha mulher perguntou. Aí me ligaram o porteiro, o administrador do prédio, amigo de filho, amigo de mulher. "Eu estive com vocês, e agora?". É óbvio que não estou c… e andando para isso, óbvio que não. Fico triste, fico chateado, fico perplexo, fico arrasado. Só que o meu programa é de futebol. Por isso falo que quero ser o Silvio Santos do esporte. As coisas estão acontecendo, mas quando o cara liga no Silvio ele quer se divertir. Pode estar caindo o mundo, mas cada um tem uma função. Eu não apresento o Jornal Nacional. Eu não sou o apresentador da CNN. O meu negócio é divertir as pessoas. Óbvio que com toda a sensibilidade do mundo, jamais fazer algum comentário que vai feria alguém que está passando por um momento difícil como esse, óbvio. Não sou idiota, só que a minha função é outra.
Vou te falar um negócio. Veio a pandemia, um impacto e a dúvida: o que fazer? De repente, vamos fazer programa em casa. Caraca! Começou uma, duas, três semanas, todo mundo triste, desanimado, com medo, em um clima de terror. Botei na minha cabeça o seguinte: "Eu preciso me reinventar para uma época difícil que vem pela frente". Botei na minha cabeça essa frase, falei até para minha mulher: "Não vou deixar a peteca cair. Vou fazer das tripas coração para fazer uns p… programas, para fazer as pessoas se divertirem, para fazer as pessoas sentirem o menos possível esse impacto dessa mudança toda. É isso que eu vou fazer. Eu vou acordar todo dia de manhã e perguntar o que vou fazer de diferente hoje”. Isso eu tenho feito há quase cinco meses.
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