Publicado em 10/05/2020 às 08:00:00
Após exibir o primeiro título de Ayrton Senna na Fórmula 1, a Globo reprisa neste domingo (10) uma das corridas mais lembradas do ídolo brasileiro: a vitória com apenas uma marcha em Interlagos (São Paulo), em 1991. É mais uma oportunidade para relembrar o piloto, que morreu em 1994, e ouvir a dupla número 1 das transmissões de automobilismo: Galvão Bueno e Reginaldo Leme.
Não dá para falar de Fórmula 1 na TV sem citar Reginaldo Leme. Ao lado de Galvão, o comentarista ajudou a popularizar a modalidade do automobilismo e esteve presente nos títulos de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Com quase cinco décadas de carreira, o jornalista de 75 anos aproveita a quarentena para terminar de escrever seu livro sobre os bastidores das corridas e transmissões.
Em entrevista ao NaTelinha, Reginaldo Leme antecipa detalhes da publicação e outros projetos para internet, revela bastidores de transmissões e fala da relação com Galvão e a Globo, que o demitiu em novembro do ano passado.
A Globo reprisou a corrida do primeiro título do Ayrton Senna, em 1988, e vai reprisar o GP de Interlagos de 1991. Você gosta de assistir às corridas antigas e costuma acompanhar a evolução das transmissões?
Reginaldo Leme - Assisti, claro. Primeiramente, vejo muita diferença na forma de transmitir a corrida. Em termos de imagem, era muito pobre. Os cortes de câmera eram muito prejudicados. Hoje em dia, ninguém trabalha com menos de 40, 50 câmera, fora as colocadas dentro dos carros. Transmitíamos por telefone, não havia um engenheiro de som, que passou a viajar com a gente depois, por isso você recebia em casa um som que parecia que estava falando com seu vizinho. Mas a diferença mais sensível para mim, comentarista, era o espaço que o comentarista tinha. Acho que isso valeu muito para a minha carreira, porque como eu tinha espaço para botar para fora o conhecimento que eu tinha isso valeu muito, ninguém esquece. Com o tempo, as transmissões foram evoluindo e existe uma necessidade de se prender muito ao que a imagem mostra, uma obrigação principalmente do narrador, então o espaço do comentarista, automaticamente, fica diminuído. Eu não me veria falando hoje as coisas que falava nas transmissões que eu vi. Eu desenvolvia uma história do começo ao fim, sem limitação de tempo para dizer. Estas informações e análises ajudavam o Galvão nas transmissões, e ele sempre soube qual espaço ocupar. O comentarista existe para ser um parceiro, mostra outros caminhos que ele pode usar na narração. Foi o melhor momento das transmissões. Por isso trabalhei 46 anos na Fórmula 1, 42 na Globo.
Você tem alguma lembrança da transmissão da primeira vitória de Senna em Interlagos, que a Globo vai reprisar? Houve preocupação ao ver o Senna com apenas uma marcha, havia uma certa apreensão quando Senna saiu destruído do carro?
Reginaldo Leme - Foi muito tensa por causa das dificuldades que a gente viu que ele sentia, mas ele tinha uma tranquilidade aparente que, como ele confessou depois, era muito difícil, mas ele falava: ‘Eu tenho que chegar, eu vou chegar’. Essa determinação do Senna era muito grande. Para nós, passava uma tensão, sabendo que o ritmo estava diminuindo sem saber o que era. Não tínhamos acesso ao rádio [de comunicação do piloto com a equipe], mas víamos que ele tinha dificuldades.
Se pudesse escolher um GP para a Globo reprisar, qual seria e por quê?
Reginaldo Leme - Eu diria que falta o título do Nelson Piquet, em 1983. Não falo de corridas anteriores porque muitas delas nem existem, a Globo passou por incêndios e não há corridas inteiras. A conquista do Piquet, que está lá, foi uma corrida cheia de novidades inclusive, começando por um pulo do gato que a Brabham [escuderia de Piquet], através do Gordon Murray e do Piquet deram no mundo todo. O pit stop ainda estava no início, todo mundo estudava parar no meio da corrida e eles pararam logo na volta 19. Foi uma surpresa armada para todo mundo e deu o título ao Piquet com facilidade. Em um momento, um carro roda na pista logo após uma curva à direita e fica uma fumaça, em que todos os pilotos que vinham atrás entraram na fumaça sem saber o que encontrar lá dentro. Ali podia ter encontrado um carro e acabado o campeonato. Eu queria ver essa corrida de novo pela Globo, com narração do Galvão e comentário meu, com mais uma particularidade. Eu era comentarista e repórter, éramos só nós dois. Quando havia um acontecimento muito importante, como a conquista do título, no final eu já nem ficava com o Galvão. No final, como a distância entre a cabine e o box era grande, ele terminava a narração eu já descia correndo para fazer as entrevistas no box, tanto que eu fui o primeiro a chegar ao carro do Piquet quando ele chegou. Eu cheguei em primeiro e o Bernie Ecclestone [chefe da escuderia] em segundo! Ele saiu comigo pegando-o por um braço e o Bernie pelo outro.
Você chegou a ser chamado pela Globo para participar das reprises? Se a Globo te pedisse algum depoimento, você participaria?
Reginaldo Leme - Não fui chamado, mas lógico que eu participaria com prazer. Eu tenho um histórico muito rico com a Globo, 42 anos. Não tenho dúvida que deixei lá 100% de amigos.
Você guarda para o livro algum bastidor com o Galvão, com quem dividiu durante décadas as transmissões de Fórmula 1? Há também algumas histórias mal contadas, vocês foram alvos de fofocas. Você vai colocar os pingos nos is e contar alguma história curiosa?
Reginaldo Leme - Não poderia escrever um livro sobre toda minha passagem pela Fórmula 1 sem me referir a tudo isso, absolutamente tudo. Não há nada que não esteja lá. Há as histórias sérias e o ambiente gostoso que a gente vive nas corridas ou em função delas, como os jantares no fim de semana de corrida. Desde a primeira fase, em que éramos praticamente sozinhos, até a fase seguinte, com Piquet e Senna, em que era difícil ir a um jantar com menos de 15 pessoas. São momentos históricos. E ainda faltam muitos. Tenho certeza de que, quando terminar de reler o livro, vou ter 20% para acrescentar.
A quarentena interferiu no seu trabalho? Como está o projeto do livro?
Reginaldo Leme - Para mim, a quarentena está sendo boa para tocar os capítulos do livro. Tenho 23 capítulos prontos, devo revisar os outros e tenho muito a acrescentar. Quero lançar neste ano, mas não penso em data porque não sabemos quando [a pandemia] vai acabar. Tenho conversas com editoras, mas nada fechado. Quero fazer um livro bem diferente dos livros comerciais, porque a minha história precisa muito de fotos e tenho um arquivo muito bom. Quero intercalar fotos de acordo com a necessidade. Nos livros atuais, as fotos ficam na metade do livro. Não quero isso. É difícil, custa muito mais caro e não é qualquer editora que faz. O livro é em primeira pessoa, com os episódios vividos por mim dentro da Fórmula 1. Há quem diga: ‘O que me interessa episódio vivido por ele?’. Não tenho a valorização do ego no livro, o objetivo é contar histórias interessantes. A quarentena não interrompeu meus planos. Faço duas reuniões online com um grupo. Não posso contar detalhes, mas vamos lançar um aplicativo e um canal no YouTube, com um pessoal altamente capacitado. Está bem adiantado.
Velocidade combina com jornalismo? Na internet, às vezes a pressa prejudica o bom trabalho.
Reginaldo Leme - Na televisão também. Quando fazemos matéria no exterior, não podemos perder o horário do satélite de jeito nenhum. Mais recentemente, eu fazia o comentário no Jornal Nacional e no Jornal da Globo. Era um parto. Terminada a corrida, eu tinha mais ou menos uma hora e meia para fazer tudo isso e gravar em algum lugar interessante, e com tempo para editar e pegar o satélite. Ou seja, para escrever o texto eu tinha 20 minutos, 30 no máximo.
Embora não goste de se vangloriar, você ajudou a popularizar uma modalidade esportiva que, durante muito tempo, foi considerada de elite. A ida para a TV aberta e sua maneira de conduzir as transmissões com Galvão e outros narradores contribuiu muito para a popularização do automobilismo. Você também se sente responsável?
Reginaldo Leme - Tenho plena consciência disso, não poderia ser diferente. Ainda no jornal O Estado de S. Paulo, quando a imprensa quase não cobria Fórmula 1, apresentei um projeto em maio de 1972 e foi aprovado em agosto do mesmo ano. Era muito raro um jornalista brasileiro sair para o exterior, a não ser em Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, mas as equipes não eram um décimo do que são hoje. No meu projeto, eu apostava na conquista do título do Emerson [Fittipaldi], e naquela época falar em brasileiro campeão do mundo era um sonho quase inatingível. Quando comecei, só mais três brasileiros cobriram a Fórmula 1. Em 1973 [após o primeiro título de Fittipaldi], foi uma avalanche de radialistas e jornalistas. Incluí no livro todas as pessoas de diferentes gerações que conviveram comigo na Europa, em uma relação de trabalho e amizade. Salvo algum esquecimento, estamos em 113, entre jornalistas e radialistas que passaram pela cobertura da Fórmula 1 desde o título do Emerson.
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