Publicado em 29/10/2018 às 06:00:31
Na década de 90, a Globo realizou uma das maiores reformulações da história do seu jornalismo, em parte, impulsionada pela preocupação de ser vista por seus telespectadores como apoiadora do governo de Fernando Henrique Cardoso, presidente da República na época pelo PSDB.
Pra mudar este cenário, a Globo demitiu seu diretor de jornalismo, desfalcou o SBT, trocou o formato e os apresentadores do "Jornal Nacional" e introduziu a figura do âncoras em seus noticiários.
Pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada em 1995 exemplificava a crise de credibilidade que o jornalismo da emissora enfrentava na época. Os pesquisadores do instituto perguntaram para 1080 pessoas: "qual a rede de televisão mais favorável a FHC?". Do total, 55% das respostas apontavam a Globo, o SBT alcançou 12% e Band e TV Cultura dividiram o terceiro lugar com 1% cada.
A mesma pesquisa fez o seguinte questionamento: "qual a emissora é mais crítica em relação ao governo de Fernando Henrique Cardoso?". Neste caso, o SBT liderou com 15%, em seguida, veio a Band com 6% e a Globo ficou em terceiro lugar, com 4%.
Com esse resultado, os telespectadores apontavam que os noticiários da Globo "apoiavam o governo" e os do SBT eram "mais críticos". Outro indicador relevante que indica que a emissora precisava mudar seu jornalismo foi a queda de audiência de 25% do "Jornal Nacional" entre 1989 e 1994. O carro-chefe da Globo despencou de 60 para 45 pontos de média.
Em busca de mudar a imagem do seu jornalismo como cúmplice do governo no mercado, em 1994 o canal demitiu o diretor da Central Globo de Jornalismo, Alberico de Souza Cruz, que estava no cargo há 15 anos, e colocou em seu lugar Evandro Carlos de Andrade, que há 23 anos comandava o jornal O Globo.
Mas o processo em perder a imagem de "chapa-branca" já tinha iniciado em 1993, ainda com Souza Cruz, quando a emissora contratou a jornalista Lilian Witte Fibe, que se destacava no "Jornal do SBT" como âncora e também como editora-chefe. Na Globo, Lilian assumiu as mesmas funções à frente do "Jornal da Globo".
Antes gerado no Rio, o noticiário de fim de noite da emissora migrou para São Paulo e passou a ser o primeiro telejornal em rede gerado na capital paulista.
Mas foi com Evandro Carlos de Andrade que as transformações do jornalismo global foram engendradas de forma mais significantes. Naquela época, a Globo passou a esvaziar o jornalismo do SBT, que vivia seu auge com o "TJ Brasil", ancorado por Boris Casoy. Depois de Lilian White Fibe, migraram para a Globo Monica Waldvogel, Heraldo Pereira, Tônico Ferreira e Zileide Silva, dentre outros profissionais.
Além disso, em 1996, mudou profundamente o tradicional formato do "Jornal Nacional". A Globo encerrava a era dos locutores de notícias e instituía a figura do âncora, Formato conhecido na TV norte-americana que passou a ser adotado no Brasil pelo SBT, em 1988.
Para viabilizar as mudanças, a Globo afastou Celso Freitas, Marcos Hummel, Sérgio Chapelin e Cid Moreira (este último presente desde a primeira exibição do "JN", em 1969) da apresentação do "JN" e convocou Lilian White Fibe e William Bonner. Lilian acumulava a função de editora de economia e Bonner, de temas nacionais.
Em entrevista à Folha em março de 1996, Sérgio Chapelin não escondeu seu desapontamento em sair do "Jornal Nacional" e explicou que não se adaptaria ao novo formato do noticiário: "agora os jornalistas ocupam o lugar dos escritores. Tenho quase 55 anos, sou locutor desde os 16 e não gostaria de me atrever agora a me transformar num âncora".
Mas o troca-troca no jornalismo chegou aos outros telejornais da emissora naquele ano. Monica Waldvogel passava a comandar o "Jornal da Globo" e Fátima Bernardes, o "Jornal Hoje".
Na época, ao ser questionado pela Folha sobre se as mudanças dos titulares dos noticiários indicavam também uma mudança de linha editorial, com mais ênfase nos comentários e análises, Evandro Carlos de Andrade respondeu de forma sucinta: "sim".
Quatro anos depois que a Globo iniciou a implosão do jornalismo do SBT, os noticiários de Silvio Santos começaram a perder força, e em dezembro de 1997, o "TJ Brasil" foi cancelado.
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