Publicado em 30/03/2023 às 06:15:00,
atualizado em 30/03/2023 às 10:11:07
O ano era 1998 e a Globo precisava tomar uma decisão a toque de caixa: uma novela para substituir o remake de Anjo Mau na faixa das 6. A direção da emissora observava um fenômeno que parecia ter vida própria e não depender da baixa audiência da líder: Chiquititas (1997), no SBT. Diante deste cenário, a cúpula de dramaturgia jogou fora anos de consolidação do público adulto e apostou numa novela infantil, mas se deu mal: Era uma vez...
Walter Negrão foi chamado para criar uma história voltada para o público infantojuvenil, mas que se adequasse para a família brasileira. A ideia era manter o telespectador no canal desde às 18h e, assim, impedir que houvesse migração para o SBT no horário que Chiquititas começasse. Drica Moraes e Herson Capri foram chamados para protagonizar a história, recheada de crianças.
O plano parecia bom e a escolha do autor também. Mas o primeiro indício de que poderia não ter o resultado esperado aconteceu já na escolha de elenco. Paulo Autran, primeiro nome pensado, declinou do convite. “A história seria outra porque o primeiro ator pensado para o papel do avô durão era o Paulo Autran. Mas ele não pôde fazer. Foi muito simpático e me ligou pedindo desculpas e agradecendo o convite. Quando optamos por Cláudio Marzo, eu mudei a história. Ele era muito mais novo e ainda tinha um forte apelo sensual de galã de 50 anos. E o velho durão, que era para ser um grande vilão, de ranzinza acabou doce, a partir da convivência com as crianças e com os personagens Madalena e Maneco Dionísio", disse o autor para o Memória Globo.
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O resultado ficou longe do que a Globo esperava. Anjo Mau teve média de 31 pontos em suas primeiras quatro semanas e era muito querida do público. Já Era Uma Vez registrou menos de 27 pontos, número considerado baixo para a época. Os índices ficaram estacionados por um mês inteiro, quando a emissora fez a primeira pesquisa junto ao público.
Foi aí que a direção descobriu o óbvio: a novela das seis era assistida por adultos que achavam a história infantil deslocada. Rapidamente Walter Negrão fez ajustes, diminuiu o espaço dos personagens infantis, aumentou a carga dramática e de vilanias, dando ares de folhetim. Rapidamente a audiência reagiu e a trama terminou com 30 pontos de média, apenas 2 abaixo da antecessora.
A estratégia de fazer com que Era Uma Vez virasse uma mania nacional para evitar que Chiquititas desse audiência na nova temporada acabou sendo um tiro no pé. Embora a novela das seis não tivesse passado vergonha no fim, a produção infantil do SBT cresceu ainda mais na comparação com o ano anterior e virou a maior audiência de uma novela nacional do canal de Silvio Santos até ser superada no ano seguinte, recorde da franquia, que marcou 18 pontos de média.
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