Publicado em 16/12/2022 às 04:56:00, atualizado em 16/12/2022 às 10:30:47
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Tabata Contri está fazendo história como a primeira atriz com deficiência motora em um papel de destaque na TV. Em Travessia, ela interpreta a advogada Juliana, que representa Brisa, personagem de Lucy Alves, na luta pela guarda do filho. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, a artista narra sua trajetória até chegar à novela da Globo e avalia a abordagem da inclusão social na trama de Gloria Perez.
A trajetória artística de Tabata Contri começou em 2002 – ela ficou paraplégica após um acidente de carro no Réveillon de 2001, aos 20 anos. A primeira experiência na televisão foi em um teste para ser VJ da MTV. A desenvoltura em frente às câmeras seria um prenúncio do que viria adiante, com uma carreira no teatro e o trabalho como palestrante, com apresentações voltadas para a diversidade, equidade e inclusão.
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Ela ingressou em 2003 na Oficina dos Menestréis, em um projeto para cadeirantes. Vieram várias montagens como atriz e, depois, como assistente de direção, trabalho que desenvolvia até este ano, antes de ser escalada para Travessia. Paralelamente, fez academia de dança de Suzi Bianchi, em 2005, e entrou para a escola de atores de Wolf Maya, em 2008.
A estreia em novelas foi com uma participação de 10 capítulos em Água na Boca (2008), na Band. “O diretor Del Rangel me descobriu por conta de um texto do jornalista Jairo Marques, da Folha de S.Paulo, em que eu dizia ter preguiça de ver novela em que alguém ficava cadeirante e voltava a andar milagrosamente”, recorda. Em seguida, veio uma breve aparição em Viver da Vida (2010), na Globo.
Ela recorda: “Fui me enfiando em tudo quanto é agência de atores. Fiz bastantes filmes publicitários, comerciais, mas não os que eu gostaria. Fiz alguns para a Prefeitura, para o metrô de São Paulo, falando sempre de acessibilidade. Nunca era de shampoo, de pasta de dente, que é quando o ator que trabalha com publicidade consegue ganhar mais dinheiro”.
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“Artisticamente, fui trilhando esses caminhos, até perceber que meus amigos atores sem deficiência faziam mais testes e, consequentemente, pegavam muito mais trabalhos. Estrategicamente, comecei a mandar meus materiais sem dizer que eu era cadeirante. Assim, pelo menos eu teria a oportunidade de ser testada. Se não fosse assim, eu não trabalhava.”
Tabata Contri
Além da carreira de atriz, ela teve que apostar em um plano B. “Para ter uma renda, me tornei consultora de diversidade, equidade e inclusão. Tinha contas para pagar, morava de aluguel, tinha sonhos, queria dirigir, ter o meu carro. Segui com o trabalho como assistente de direção, mas a carreira de atriz foi ficando em stand by.”
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Tabata Contri comemora representatividade em Travessia: “Sinto a importância de estar ali”
Para Tabata Contri, sua presença em Travessia tem grande importância por mostrar que a vida de uma pessoa com deficiência com naturalidade. Na vida real, a atriz é casada com o músico Márcio Guimarães e tem um filho de 6 anos. “A Juliana é uma advogada, que trabalha, que vive a vida. Estamos mostrando que podemos ter uma vida comum, como qualquer outra pessoa. Todos já deviam saber disso em 2022”, avalia.
“Percebo e sinto a importância de estar ali nesse lugar, mas nunca vou representar todas as 45 milhões de pessoas com deficiência que vivem no Brasil. Esse é um universo muito plural. As deficiências não nos torna iguais, somos todos diferentes. É muito importante eu estar ali, mas quero ver muitos outros de nós nesses espaços, na linha de frente e nos bastidores.”
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Tabata Contri
“É preciso que isso fique natural. Natural é diferente de normal, que vem de norma, como se todos fossem obrigados a ser iguais. Não quero me normalizar, ser igual para ocupar os espaços, ter meus acessos. Quero que isso seja natural, na convivência com as pessoas que trabalham comigo e com quem me relaciono no dia a dia”, acrescenta a atriz.
Ela elogia a abordagem dada ao tema pela autora. “A Gloria tem uma sensibilidade enorme. Ela estuda. Antes de eu entrar em Travessia, conversei com ela por telefone. Trocamos algumas mensagens, ela me fez perguntas, sobre mim e sobre a vida de uma pessoa que usa cadeira de rodas. Tudo o que falei, ela vem usando em cena.”
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“As pessoas se reconhecem em algumas cenas da Juliana. Recebo mensagens todos os dias dizendo ‘passei por isso agora há pouco’ ou ‘passo por isso todos os dias’, principalmente pela questão da acessibilidade e na questão latitudinal, como as pessoas lidam com as pessoas com deficiência. Seja o motorista de ônibus que não para para o cadeirante ou o dono de bar que acha tudo bem que sejamos carregados.”
Tabata Contri
Atriz prevê romance em Travessia e deseja estrelar comerciais de beleza: “A sensualidade muitas vezes nos é tirada”
Falando em dono de bar, tudo levava a crer que Juliana teria um caso com Nunes, papel de Orã Figueiredo. “Eu também estava achando isso, que a história estava caminhando nesse sentido. Seria interessante, uma relação de ‘gato e rato’. Eles brigam, tretam, e depois vivem um romance. Eu ia achar super interessante, mas não sei se vai acontecer.”
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A atriz entrega que não há indicativo de uma aproximação romântica entre os personagens nos próximos capítulos. Em breve, Juliana vai ajudar Nunes a usar a cadeira de rodas – o comerciante fica alguns dias sem andar após sofrer um acidente. Isso faz com que ele perceba a necessidade de finalmente adaptar seu bar às pessoas com deficiência física-motora.
Pode ser que a relação com Nunes fique só na amizade, mas a personagem ainda deve ganhar um par romântico na história. “Acho que a doutora Juliana vai dar uma namorada nessa novela, mas não tenho informações sobre isso. Saberemos em breve (risos)”, diz a atriz, que está totalmente envolvida no ritmo das gravações, sem conseguir conciliar agenda de palestras e treinamentos voltados à inclusão social.
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“Quando se faz uma novela, principalmente das nove, não há rotina. Tem dia que gravamos o dia todo, e ficamos sabendo muito em cima os horários de gravação. Gravamos de segunda a sábado, além dos momentos em que preciso ler os capítulos e estudar nossas cenas individuais.”
Por outro lado, ela afirma que está aberta a projetos, principalmente à publicidade. “Gostaria de aproveitar esse momento de visibilidade para fazer comerciais sem ser focados na deficiência. Aliás, é muito legal que não seja. Uma propaganda de carro, para quebrar o estigma de que somos dependentes. Ou ainda de cosméticos, sem a ideia de a pessoa com deficiência é descuidada, é feia. Quero mostrar esse lado feminino, da mulher, da sensualidade, que muitas vezes nos é tirado.”
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O NaTelinha divulga todos os dias os resumos dos capítulos, detalhes dos personagens, entrevistas exclusivas com o elenco e spoiler da novela Travessia. Confira!
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