Publicado em 28/12/2020 às 05:47:00
Sucesso de audiência em todas as exibições, A Viagem voltou ao ar na semana passada e já impulsionou a audiência do canal Viva em sua faixa horária. O clássico de Ivani Ribeiro, escrito originalmente em 1975 para a Tupi, e readaptado pela autora na Globo em 1994, com a colaboração de Solange Castro Neves, não foi isento de críticas em seu elenco. Em entrevista na época, Miguel Falabella reclamou da novela.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, há 26 anos, Falabella citou um "trabalho desnecessário" em A Viagem ao afirmar que as autoras não sabiam poupar o elenco. "É uma novela muito cansativa de fazer. Tem cenários demais. A ação não é concentrada", avaliou o ator, então aos 37 anos.
A crítica foi incisiva a Solange Castro Neves, que auxiliava a veterana Ivani Ribeiro, já com idade avançada, na adaptação do texto original. "É essa moça que está adaptando. Ela coloca a gente em cena muitas vezes, em todos os cenários, não sei para quê. Isso é uma técnica que o Cassiano Gabus Mendes (1923-1993), que Deus o tenha, dominava perfeitamente. Ele sabia poupar os atores", disse Falabella, na ocasião.
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Em entrevista ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, do Projeto Memória Globo, em 2009, Miguel Falabella também falou sobre seus trabalhos como ator. Ele lembrou que o elenco de A Viagem torcia para que seus personagens, caso morressem, fossem para o inferno, já que a locação era feita em Niterói. Já as imagens do paraíso eram gravadas em um campo de golfe em Nogueira, no distrito de Petrópolis, longe da capital.
Ainda assim, ele afirmou guardar boas recordações deste trabalho: "A Viagem era uma novela bem divertida. Nós gravávamos no bairro da Usina (localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro). Tenho boas lembranças. O público adorava, foi um grande sucesso. Brasileiro adora sexo e coisas do além. A vida é tão desgraçada aqui que o público fica esperando o além".
Em A Viagem, Falabella deu vida a Raul, um dos personagens centrais, que denuncia o irmão Alexandre (Guilherme Fontes) à polícia e se torna alvo de sua vingança após o suicídio do rapaz. Do além, o espírito influencia a sogra de Raul, a até então simpática Dona Guiomar (Laura Cardoso), a infernizar sua vida e sabotar o casamento do genro com sua filha, Andreza (Thaís de Campos).
Em 1994, Solange Castro Neves rebateu a crítica, dizendo que outros artistas gravavam mais cenas que Falabella e nunca reclamaram. Ela ainda pontuou que a insatisfação do ator se devia ao fato de que Raul não era um papel cômico como o intérprete queria à época. Ela voltou a falar sobre o assunto em entrevista, em julho de 2020, ao portal RD1.
"Em hipótese alguma guardo algum tipo de mágoa do Miguel ou de qualquer outro companheiro de trabalho. Só dei um destaque maior ao personagem Raul porque Miguel fez um excelente trabalho. É muito natural recebermos as críticas e poder absorvê-las de forma construtiva", avaliou Solange.
Ela também lembrou que o Projac - atual Estúdios Globo - só seria inaugurado em 1995 e, naquela época, sem tantas cidades cenográficas, os atores gravaram as externas por vários lugares espalhados pelo Rio. "Esse tipo de crítica que vinha dos veteranos na época fez com que os diretores da Globo pensassem em criar um lugar próprio para, além de poupar os atores e funcionários, reduzir o custo nas gravações", arrematou.
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