Publicado em 08/03/2020 às 09:33:49
Quando as emissoras de TV decidiram que iriam investir em dramaturgia, transformando as famosas rádionovelas em telenovelas, nem todo mundo acreditou que seria possível popularizar o formato num aparelho que somente a elite tinha acesso. Hoje, maior expressão da cultura popular, ao lado do Carnaval, as telenovelas brasileiras são o que são, segundo boa parte da crítica e especialistas, graças a três mulheres que formam a santíssima trindade do formato: Gloria Magadan, Janete Clair e Ivani Ribeiro.
Embora as duas últimas sejam reverenciadas como as grandes damas das novelas brasileiras por terem criado basicamente o que se vê ainda hoje, a primeira é negligenciada, mas foi responsável por transformar as novelas de TV em grandes fenômenos da programação do Brasil.
Cubana, Gloria Magadan nasceu em 1920 e foi contratada pela TV Tupi para ser supervisora de O Sonho de Helena, em 1964. Quatro anos antes, ela havia estreado como novelista em Porto Rico, com a produção Eu Compro Esta Mulher. Ela permaneceu no Brasil, entre a Tupi e a Excelsior entre 1964 e 1965, supervisionando sete telenovelas, mas sua carreira mudou mesmo a partir de setembro de 65.
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Foi ali que ela estreou como novelista no Brasil ao assinar Paixão de Outono, na Globo. A partir daí, Gloria Magadan transformou o formato no Brasil, levando tramas açucaradas, cheia de amarrações quase infantis e com um banho diário de lágrimas, explorando ao máximo o emocional do telespectador com as histórias rocambolescas.
Magadan foi responsável por um dos maiores sucessos da emissora, desde sua fundação até então, quando criou em 1966 o fenômeno O Sheik de Agadir, ainda hoje celebrada por fãs de telenovelas. A autora latina permaneceu na Globo, assumindo a função de supervisora, até o final da década de 60.
Mas com o fenômeno de Beto Rockfeller, na Tupi, a Globo começou a perceber que as tramas distantes da realidade brasileira estavam perdendo o interesse do público que passava a migrar para a concorrência. Foi então que, em 1967, contratou Janete Clair, que viria a se tornar a maior novelista brasileira de todos os tempos, na visão da maioria dos especialistas e fãs do formato.
Destaque da Tupi, onde havia escrito A Herança do Ódio (1964), mas principalmente considerada uma das maiores autoras de rádio novela do país, Janete chegou com o título de segundo nome da emissora, atrás de Magadan. Após escrever algumas tramas com a supervisão da latina, ela apresentou para a Globo a sinopse que mudaria para sempre o jeito do público global enxergar telenovela.
Véu de Noiva, em 1969, foi um sucesso estrondoso baseado numa rádionovela de Janete e acabou enterrando a carreira de Magadan no canal, transformando Janete na grande coqueluche da dramaturgia da emissora carioca. A partir daí, a história é sabida e Janete, que faleceu em 1983, virou a grande dama das novelas, escrevendo produções que viraram inesquecíveis como Selva de Pedra (1971), O Semideus (1973), Fogo sobre Terra (1974), Pecado Capital (1975), O Astro (1977) e Pai Herói (1979).
Se Janete Clair mudou o jeito de se fazer telenovela e salvou um formato consagrado por Gloria Magadan, morta em 2001 em Cuba, a esposa de Dias Gomes tinha uma concorrência de peso na Tupi. Tratava-se de Ivani Ribeiro, outra autora oriunda do formato de rádio e que escrevia sucesso atrás de sucesso no canal paulista.
Embora tenha feito diversas tramas para a Excelsior, onde foi uma das principais autoras com produções como A Deusa Vencida (1965) e A Muralha (1967), foi na Tupi que Ivani mostrou sua marca inconfundível com Meu Pé de Laranja Lima (1970). A partir daí, passou a ser vista com outros olhos pela crítica de dramaturgia e subiu ainda mais nas apostas com Mulheres de Areia (1973). Ainda na Tupi, ela mostrava letras pesadas com tramas bem amarradas, cheias de ganchos e conflitos como Barba Azul (1974) e A Viagem (1975).
Depois de muitos anos como a maior autora da Tupi, com a falência do canal, não demorou para Ivani ser contratada pela Globo, onde escreveu outras produções de sucesso, como A Gata Comeu (1985), O Sexo dos Anjos (1989) e os remakes de Mulheres de Areia (1993) e de A Viagem (1994). Ela morreu um ano depois, em 1995.
Se estes três nomes são pilares femininos que podem ser reverenciados no Dia Internacional da Mulher por todos os fãs de dramaturgia, as novelas continuam apostando em mulheres que possuem marcas fortes ao escrever, como é o caso de Gloria Perez, considerada ainda hoje a maior discípula de Janete Clair, com sucessos como O Clone (2001) e América (2005).
A nova geração também vem se destacando com a herança da tríade de mulheres das telenovelas, como Duca Rachid e Thelma Guedes, responsáveis por revolucionar o horário das 18h com Cordel Encantado (2011) e que, recentemente, escreveram Órfãos da Terra (2019).
A faixa das 21h está tomada por mulheres, a tal ponto de ter duas produções consecutivas assinadas por elas. Amor de Mãe, que marca a estreia de Manuela Dias, está no ar e dará vaga para outra debutante, Lícia Manzo, uma espécie de sucessora de Manuel Carlos e que assinará Em Seu Lugar.
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