Publicado em 28/08/2019 às 04:33:10
Vilão em “Órfãos da Terra", Alex Morenno tem sentido na pele a repercussão pelos atos do seu personagem. Em conversa exclusiva com o NaTelinha, o ator revelou que já foi insultado pelo telespectador.
“É engraçado ver a relação que o Robson estabeleceu com o público. As pessoas tiveram raiva dele, muitas vezes fui chamado de 'The Monio', Diabo Ruivo, Ruivo Maligno... e por aí vai”, lista.
Por outro lado, o intérprete do Robson conta que foi pego de surpresa por manifestações de quem torce para que o capanga tenha um desfecho feliz na novela que já está em sua reta final.
“Mas ao mesmo tempo existe uma torcida grande para ele se dar bem. Hoje mesmo recebi um inbox que dizia isso: ‘A novela acaba bem se o Robson se der bem’. Então, isso me dá a sensação de que de que a minha relação com o trabalho tocou as pessoas. Me sinto mais maduro e bem feliz com esse resultado”, vibra.
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Em seu segundo trabalho como vilão de uma novela das 18h - Alex deu vida ao Francisco em "Novo Mundo" (2017) -, o ator explica que hoje se sente menos inseguro e ansioso também. “Acho que essa evolução acaba sendo uma coisa natural. Há um amadurecimento em relação a algumas inseguranças e uma compreensão maior do que é fazer televisão”, fala.
Já em relação ao seu papel, o ator não defende e nem julga. “Não defendo as atitudes do Robson, poderia encontrar maneiras de justificar suas atitudes, porém eu adoro descobrir nossas diferenças e inconsistências. Não defendo, mas também não julgo. Sigo de mãos dadas com esse cara!”, entrega.
Conciliando o trabalho na TV com o teatro, Alex está em cartaz com a peça “Van Gogh por Gauguin”, ele conta que estudou bastante sobre a vida e obra do artista holandês, a quem pouco conhecia.
“Admirava e era curioso a respeito da sua obra, mas sabia pouco sobre a vida. Estudei tudo que pude sobre ele e quanto mais aprendia, mais ficava interessado. Tudo isso serve como base para minha construção como ator”, sinaliza.
“Mas esses dados biográficos servem apenas como base, afinal não faço, nem faria uma caricatura de Van Gogh, mas faço "um" Van Gogh deturpado pelo olhar de Gauguin. Por isso, a peça se chama ‘Van Gogh por Gauguin’. Igualmente intenso, dolorido e, às vezes, sombrio”, analisa.
Assim como muitos da categoria, Alex é defensor da arte e dos artistas, classe muito questionada e, até, desvalorizada atualmente. Questionado sobre a importância de mesclar arte e política, o ator chama a atenção para o fato de fazer as pessoas refletirem através do seu trabalho.
“A arte existe de fato quando ela provoca reflexão, quando te faz pensar com as ferramentas e o repertório que você tem e que não é imposto, já mastigado por quem provoca. Portanto, a arte é, em si, um ato político. Uma coisa está diretamente ligada à outra”, opina.
Falando sobre política, na época das eleições Morenno foi um dos que se manifestou nas redes sociais aderindo à campanha “Ninguém solta a mão de ninguém”. Pergunto qual o significado dessa frase para ele e o ator é enfático ao afirmar que está faltando empatia entre as pessoas.
“Significa que vamos nos cuidar! Não só como uma frase bonitinha que causa certo impacto nas redes, mas uma ideia necessária em tempos tão difíceis que estamos vivendo”, ressalta.
“Ainda agora, eu estava lendo a última coluna da Fernanda Young - que nos deixou e não poderia - que fala do cafona, o que nesse caso nada tem a ver com roupas nem músicas, mas com essa gente que insiste em ideias empoeiradas. Precisamos nos defender disso, portanto, olhar com mais empatia para o outro e manter as mãos dadas”, avalia.
Sobre o atual cenário no Brasil, Alex ainda acredita em uma possível melhora, mas depende do provo brasileiro. “Vejo um Brasil desacreditado, desesperançoso. Vejo gente raivosa e mal informada, vejo muita truculência e estupidez, mas também vejo muita gente de mãos dadas prontas para o que vier. Inclusive, para abraçar os raivosos e truculentos”, pondera.
O ator finaliza nosso bate-papo fazendo um raio-x dele mesmo nos dias atuais e daqui há 10 anos. “Em 2019, sou um cara que fez e continuo fazendo teatro sem patrocínio, porém com a parceria e a força necessária de Thelma Guedes, nossa autora, e Roberto Lage, nosso diretor”, diz.
“Um cara que está encerrando uma novela da qual tive muito orgulho em fazer parte do elenco, com um personagem delicioso. E um cara que está finalmente entendendo em diversos aspectos que o pouco, o raso e o morno não me interessam mais. Em 2029, não sei dizer. Estou me esforçando para curtir um dia após o outro”, finaliza com um sorriso.
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