Publicado em 26/05/2019 às 15:00:00
Estreou na última semana “A Dona do Pedaço” e o público acompanhou a história da guerra entre os Ramirez e Matheus. No mesmo período, “Malhação – Toda Forma de Amar” teve como um dos plots um assalto na lanchonete “Baixadas”, propriedade da personagem Carla (Mariana Santos). Os dois enredos trouxeram para discussão a posse e porte de armas na sociedade brasileira.
O tema é atual, principalmente após a eleição do presidente Jair Bolsonaro. Ainda Deputado Federal, o político sempre se mostrou favorável com a flexibilização do uso de revólver para cidadãos intitulados de “bem”. Seus seguidores criaram a narrativa que, com o crescimento da criminalidade no Brasil, é direito de qualquer pessoa ter uma arma para se defender.
Recentemente, o governante máximo da União assinou um decreto facilitando o porte de pistolas. A maior polêmica foi a liberação para que brasileiros pudessem comprar fuzis, desde que seguissem as exigências necessárias para adquirir a ferramenta.
Em “A Dona do Pedaço”, Walcyr Carrasco não fez com que os personagens discutissem o assunto, pois o uso de armas na região que se passa a primeira fase da novela no Espírito Santos é visto com a maior naturalidade. A matança entre as duas famílias, por sinal, é o que movimenta o folhetim.
Porém, o público que tem assistido a novela, realizou brincadeiras nas redes sociais com a utilização excessiva de pistolas e revolveres. Nas ruas, também foi possível identificar alguns telespectadores impressionados com o “bang-bang” promovido pelo roteirista global.
“É televisão, né? Eu entendo que aquilo passa longe de ser a vida real, mas assusta um pouco”, disse aos risos Antônio Marcos. “Em filme a gente se diverte, não vejo problema ter em novela”, acrescentou a esposa dele, Josiane.
Já em “Malhação – Toda Forma de Amar” foi diferente. Enquanto a trama das nove se passa em 1999 numa cidade fictícia, a novelinha teen ocorre no Rio de Janeiro, mais precisamente em Caxias, Baixada Fluminense. Emanuel Jacobina tem abordado a violência na região, apresentando os conflitos dos moradores do local por causa do comando da milícia.
Os personagens Carla e Thiago (Danilo Maia) sofreram um assalto e o jovem ficou traumatizado com o episódio. Disposto a se defender, ele procura uma arma para comprar. Como o pai dele morreu tentando reagir a um assalto, tendo um revólver em mãos, sua mãe é desfavorável a essa atitude.
“Arma não traz mais segurança, Thiago. Não vou deixar que você coloque uma arma na minha casa”, disse Carla em uma das cenas da última semana. A irmã dele, Raíssa (Dora de Assis), fica ao lado da mãe. O conflito “mulheres x homens” acabou ganhando espaço no debate.
“Existem diversos estudos em relação ao fascínio do homem com armas. Um desses estudos tem como teste a testosterona, que coloca o sexo masculino como competitivo demais e, nessa busca por poder, procura se defender de todas as formas”, explicou Devanir Morbi. “E, claro, não podemos esquecer do papel da sociedade, que coloca essa obrigação do homem ser o protetor da família”, ressaltou.
O Instituto Datafolha pesquisou no começo do ano o número de brasileiros que são favoráveis a flexibilização de porte e posse de armas. O resultado deu que 61% da população é contra, tendo como maioria as mulheres.
De acordo com os dados, 71% delas são contrárias, enquanto 51% dos homens seguem a mesma opinião.
Armas sempre tiveram espaço na dramaturgia, principalmente quando envolvia vilões para cometer seus crimes. Entretanto, nos próximos meses e até mesmo anos, a abordagem deve ganhar novos contornos e o debate ser cada vez maior.
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