Publicado em 24/10/2018 às 09:45:54
No dia 23 de outubro de 1998, quem assistia a TV Manchete no horário das 22h, ficou sem entender nada ao fim da atração. Afinal de contas, "Brida" havia terminado ou não?
Sim, aquela locução resumida de Eloy de Castro, voz padrão da Manchete de cerca de 5 minutos, foi o capítulo final da história baseada no best-seller de Paulo Coelho, que já estava no radar para se tornar novela desde o início de 1997.
A primeira notícia de que "Brida" iria virar folhetim veio em 5 de janeiro de 1997. Na ocasião, segundo o jornal O Estado de São Paulo, a Manchete queria a trama para inaugurar a faixa das 18h - um segundo horário planejado na época pelo sucesso de "Xica da Silva".
Essa faixa jamais saiu, o projeto foi adiado e só foi sair do papel no início de 1998, quando se decidiu que a adaptação do livro seria a substituta de "Mandacaru". No entanto, haveria uma mudança de horário: "Brida" seria exibida às 19h.
Em junho, a montagem do elenco foi confirmada. Carolina Kasting, até então um nome emergente na Globo, foi confirmada como protagonista. Leonardo Vieira, outro galã global que estava em alta, também foi contratado.
Além disso, nomes já conhecidos da Manchete foram incorporados. Victor Wagner, galã famoso do canal no fim dos anos 90, emendou sua quarta novela seguida com "Brida": ele havia feito "Tocaia Grande", "Xica da Silva" e "Mandacaru". Tânia Alves, de "Pantanal" e "Tocaia Grande", também estava no elenco.
Por fim, quem também fazia parte dele era o jornalista Augusto Xavier, em sua estreia como ator. Ele seria Mariano, que faria o triângulo amoroso protagonista. Seria, porque acabou nem dando tempo de dar o ar de sua graça.
Mesmo em dificuldades financeiras, a Manchete foi faraônica com "Brida". Bancou uma viagem para Irlanda, com 18 pessoas na equipe total, para gravações do passado da personagem-título.
O contrato com os patrocinadores era de risco. Se não desse pelo menos 5 pontos, os comerciais não seriam compensados financeiramente para a Manchete. Ou seja, eles seriam veiculados de graça nos intervalos de "Brida". Em época de crise, como aquela, contratos de risco eram normais na TV, mas foi um suicídio para a emissora.
"Brida" estreou no dia 11 de agosto de 1998. O Ibope? 5 pontos de média na Grande São Paulo. Mas daí foi ladeira abaixo. Sem passar da casa dos 3 pontos, e em muitos dias dando apenas 1, Walter Avancini, diretor da novela, tentou salvar o investimento.
Já no capítulo 14, ele mudou o roteiro. Saiu Jayme Camargo, e entrou Sônia Mota e Angélica Lopes. A justificativa era transformar a trama em algo mais próximo do universo feminino.
Além disso, entre 17 de agosto e 11 de setembro, "Brida" era exibida em dois horários, às 19h e às 22h. Em nenhum dos dois horários, deu audiência. Depois, Avancini chamou velhos conhecidos da Manchete, as atrizes Rosane Gofman e Fafy Siqueira para dar mais humor e aumentou a nudez.
Mas além de não dar Ibope, "Brida" não dava retorno financeiro. E sem dinheiro para tocar o barco, a Manchete não tinha nem mesmo como pagar os atores. No dia 15 de outubro, os estúdios onde as gravações ocorriam foram desativados. No dia 20 do mesmo mês de 1998, sem garantias de pagamento, 30 atores processaram a emissora para serem liberados do contrato e receberem seus valores. Dias antes, funcionários da casa haviam entrado em greve por tempo indeterminado.
No dia 23 de outubro, o capítulo derradeiro. A narração de Eloy de Castro encerrou a novela, gerando enorme polêmica. No seu lugar, entrou a reprise de "Pantanal", o maior sucesso da Manchete, produzida em 1990. Em maio, o canal fechou.
"Brida" foi o último suspiro de uma TV que tentou ousar. Mas o seu ato final lamentável a fez fechar e ter como uma última página, um dos momentos mais memoráveis, mas ao mesmo tempo lamentáveis da história da televisão brasileira.
Veja cenas do último capítulo da novela:
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Cunegundes vem aí
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Vai ficar no prejuízo
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Traição?
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Mudança de planos
Chapéu de couro